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educação
26/12/2003
País corre risco de ficar sem professores na rede pública em 15 anos

O Brasil corre sério risco de ficar sem professores na rede pública na próxima década. O dado foi obtido em pesquisa realizada pela CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) com 4.656 professores de dez Estados.

Feita no início do ano, a pesquisa foi tabulada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), e a tendência de "desaparecimento" de profissionais de educação foi informada somente agora.

O descompasso entre a perda de profissionais e o baixo ingresso de jovens na profissão indica que, em um período de no máximo 15 anos, não haverá mais professores para diversas áreas no ensino público. E todas as disciplinas estão ameaçadas.

A sondagem da CNTE aponta que, dos cerca de 2,5 milhões de educadores, cerca de 60% estão mais perto da aposentadoria que do início de carreira.

A progressiva diminuição do ingresso de jovens pode ser constatada pelo número de professores em cada faixa etária. Na faixa entre 40 e 59 anos estão 53,1% dos docentes, e na faixa de mais de 60 anos estão 2% deles - idades bem próximas da aposentadoria. Já as faixas de 25 a 39 anos e de 18 a 24 anos correspondem, respectivamente, a 38,4% e 2,9%.

Dados da pesquisa revelam ainda que a categoria enfrenta alto índice de afastamento por problemas de saúde e faltas por problemas de exaustão. O estudo mostra que 20% dos docentes precisaram se licenciar e mais 40% sofreram cirurgia.

O estudo também aponta que a maioria trabalha até 70 horas por semana e já sofreu ameaças de morte. São fatores que provocam a migração de boa parte dos professores do ensino público para o privado.

A pesquisa foi realizada nos Estados: Tocantins, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Paraná, Alagoas, Mato Grosso, Piauí, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul.

Baixos salários
"Esse descompasso entre a perda de profissionais e o ingresso de novos educadores será sentido fortemente nos próximos dez ou 15 anos, quando a falta de professores será generalizada", afirmou Juçara Dutra Vieira, presidente da CNTE.

Entre as causas apontadas pelo pouco interesse dos jovens pela profissão estão os baixos salários (média de R$ 500 a R$ 700 por 20 horas semanais), violência nas escolas e superlotação em salas de aula.

A alta média de idade dos docentes contribui para uma renovação muito lenta do quadro de professores do ensino público.

Governo preocupado
Ciente do risco, o governo diz que já está fazendo uma pesquisa, que deve ser finalizada em fevereiro, com os educadores de 6.270 escolas públicas. Os trabalhos serão coordenados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão vinculado ao Ministério da Educação.

"Temos um universo de 2,5 milhões de funções docentes e estamos fazendo um perfil dos professores para sabermos como priorizar nossas ações", afirmou a diretora de Estatísticas da Educação Básica do Inep, Dirce Gomes.

"Este número [da CNTE] é uma realidade. Hoje já há um déficit nas áreas de física, química, biologia e matemática", disse. "Por isso estamos fazendo o censo", completou. Ela comentou ainda que a pesquisa mostrará também quantos professores trabalham em duas ou mais escolas públicas.

Ex-ministro
Para o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, as condições de trabalho do professor da rede pública no país ainda precisam ser melhoradas. "Hoje, não são boas, mas têm melhorado", afirmou.

"Mas precisava ler melhor o estudo (da CNTE) para analisar melhor", completou.

Paulo Renato disse, porém, que de 94 até 2002, (período em que ele foi ministro), o número de professores com ensino superior aumentou de 43% para 60%. E o de professores leigos caiu de 25% para 6%.

 

DANI BLASCHKAUER
da Folha Online

   
 
 
 

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