O Brasil corre sério risco
de ficar sem professores na rede pública na próxima
década. O dado foi obtido em pesquisa realizada pela
CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores
em Educação) com 4.656 professores de dez Estados.
Feita no início do ano, a pesquisa foi tabulada pelo
Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Sócio-Econômicos), e a tendência
de "desaparecimento" de profissionais de educação
foi informada somente agora.
O descompasso entre a perda de profissionais e o baixo ingresso
de jovens na profissão indica que, em um período
de no máximo 15 anos, não haverá mais
professores para diversas áreas no ensino público.
E todas as disciplinas estão ameaçadas.
A sondagem da CNTE aponta que, dos cerca de 2,5 milhões
de educadores, cerca de 60% estão mais perto da aposentadoria
que do início de carreira.
A progressiva diminuição do ingresso de jovens
pode ser constatada pelo número de professores em cada
faixa etária. Na faixa entre 40 e 59 anos estão
53,1% dos docentes, e na faixa de mais de 60 anos estão
2% deles - idades bem próximas da aposentadoria. Já
as faixas de 25 a 39 anos e de 18 a 24 anos correspondem,
respectivamente, a 38,4% e 2,9%.
Dados da pesquisa revelam ainda que a categoria enfrenta
alto índice de afastamento por problemas de saúde
e faltas por problemas de exaustão. O estudo mostra
que 20% dos docentes precisaram se licenciar e mais 40% sofreram
cirurgia.
O estudo também aponta que a maioria trabalha até
70 horas por semana e já sofreu ameaças de morte.
São fatores que provocam a migração de
boa parte dos professores do ensino público para o
privado.
A pesquisa foi realizada nos Estados: Tocantins, Espírito
Santo, Rio Grande do Norte, Paraná, Alagoas, Mato Grosso,
Piauí, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul.
Baixos salários
"Esse descompasso entre a perda de profissionais
e o ingresso de novos educadores será sentido fortemente
nos próximos dez ou 15 anos, quando a falta de professores
será generalizada", afirmou Juçara Dutra
Vieira, presidente da CNTE.
Entre as causas apontadas pelo pouco interesse dos jovens
pela profissão estão os baixos salários
(média de R$ 500 a R$ 700 por 20 horas semanais), violência
nas escolas e superlotação em salas de aula.
A alta média de idade dos docentes contribui para
uma renovação muito lenta do quadro de professores
do ensino público.
Governo preocupado
Ciente do risco, o governo diz que já está
fazendo uma pesquisa, que deve ser finalizada em fevereiro,
com os educadores de 6.270 escolas públicas. Os trabalhos
serão coordenados pelo Inep (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão vinculado
ao Ministério da Educação.
"Temos um universo de 2,5 milhões de funções
docentes e estamos fazendo um perfil dos professores para
sabermos como priorizar nossas ações",
afirmou a diretora de Estatísticas da Educação
Básica do Inep, Dirce Gomes.
"Este número [da CNTE] é uma realidade.
Hoje já há um déficit nas áreas
de física, química, biologia e matemática",
disse. "Por isso estamos fazendo o censo", completou.
Ela comentou ainda que a pesquisa mostrará também
quantos professores trabalham em duas ou mais escolas públicas.
Ex-ministro
Para o ex-ministro da Educação Paulo
Renato Souza, as condições de trabalho do professor
da rede pública no país ainda precisam ser melhoradas.
"Hoje, não são boas, mas têm melhorado",
afirmou.
"Mas precisava ler melhor o estudo (da CNTE) para analisar
melhor", completou.
Paulo Renato disse, porém, que de 94 até 2002,
(período em que ele foi ministro), o número
de professores com ensino superior aumentou de 43% para 60%.
E o de professores leigos caiu de 25% para 6%.
DANI BLASCHKAUER
da Folha Online
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