Muitos discursos (277 até
o dia 23), painéis gigantes, cerimônias no Palácio
do Planalto, vídeos elaborados, panfletos e revistas
com o resumo das realizações. Essa foi a parte
mais visível da área social do governo Luiz
Inácio Lula da Silva neste primeiro ano. Abaixo da
superfície, vários programas empacaram e as
metas não foram cumpridas.
A Folha analisou 13 ações e programas anunciados
pelo presidente da República com grande visibilidade,
mas que ficaram longe de atingir os objetivos prometidos.
Os programas analisados são nas seguintes áreas:
racismo, favelas, segurança pública, semi-árido
nordestino, turismo, educação, saúde
mental, agricultura familiar, microcrédito, emprego,
violência contra a mulher, crédito com consignação
em folha de pagamento e cisternas rurais.
O principal ícone da era petista, o Fome Zero, teve
um início atabalhoado, desde a sua concepção
até a execução do programa. Acabou se
revitalizando nos últimos meses do ano, depois de ser
reestruturado pelo governo.
Apesar de haver um gasto anual de aproximadamente R$ 1 bilhão
com propaganda em órgãos federais, o governo
não divulga uma tabela simples com os números
prometidos e os resultados alcançados.
Quem quer saber o que aconteceu deve buscar informações
em várias fontes, ler mais de cem discursos, cruzar
as promessas com os resultados e fazer um cálculo do
que foi realizado.
Emprego
O caso mais dramático é o do desemprego
- área apontada como o principal problema do país
por 41% dos eleitores, segundo pesquisa Datafolha deste mês.
Em 30 de junho, Lula fez uma grande cerimônia no Palácio
do Planalto para anunciar o programa Primeiro Emprego.
"Gerar empregos para todo o povo brasileiro é
um sonho, uma obsessão e uma determinação
do meu governo", disse o presidente em seu discurso.
Diferentemente de outros temas que foram enviados ao Congresso
por meio de medida provisória, esse programa foi um
projeto de lei. A sanção só se deu em
22 de outubro.
A meta do Primeiro Emprego era criar, neste ano, 137.600
vagas para jovens que nunca haviam trabalhado - dando incentivos
às empresas que produzissem esses postos de trabalho.
Segundo a revista "A mudança já começou",
editada pelo governo com algumas informações
esparsas sobre realizações lulistas, "22
mil vagas já estão sendo oferecidas por grandes
empresas". Como o verbo usado está no gerúndio,
não é possível saber o número
exato. Ainda assim, essas 22 mil vagas representam apenas
15,99% do prometido.
O arrocho econômico imposto pela necessidade de atender
as metas oferecidas ao FMI (Fundo Monetário Internacional)
impediu também que outras promessas fossem cumpridas.
Crédito
Em 25 de junho, Lula abriu as portas do Planalto
para anunciar o que seria uma revolução econômica,
segundo assessores encarregados de tentar influenciar jornalistas
que presenciavam o evento. Era o programa de microcrédito,
cujo objetivo seria incentivar as instituições
bancárias a oferecer empréstimos de pequeno
valor à população de baixa renda.
"Não tenham nenhuma preocupação
de emprestar dinheiro a pobre, porque pobre não dá
calote, pobre paga e paga em dia e, quando não puder
pagar, vai comunicar a vocês [bancos] que não
pode pagar", discursou Lula. A medida obrigou os bancos
a direcionar 2% dos seus depósitos à vista (contas
correntes) para operações de microcrédito
- empréstimos de até R$ 500 (pessoas físicas)
ou R$ 1.000 (empresas), a juros de 2% ao mês.
A meta do microcrédito era injetar R$ 1,1 bilhão
na economia. Até agora, entretanto, o BC ainda não
editou medidas que regulamentam a fiscalização
dessas operações. Não se sabe se os bancos
estão cumprindo a regra. Até o começo
de dezembro, o Banco do Brasil havia liberado R$ 6 milhões,
de R$ 400 milhões disponíveis para essa operação
- ou seja, meros 1,5% do pretendido nesse que seria o principal
agente operador da idéia anunciada.
Na segurança pública, a promessa não
cumprida é emblemática. No dia 22 de abril,
Lula discursou ao lado do governador do Espírito Santo,
Paulo Hartung. O Estado capixaba frequentou o noticiário
nos últimos anos por abrigar máfias do crime
organizado.
"O Espírito Santo está sendo tratado como
um filho caçula, aquele que recebe mais carinho, aquele
que é tratado com mais chamego", disse o presidente.
Voltando-se para Paulo Hartung, prometeu: "Daqui a pouco
nós vamos anunciar tanto investimento aqui que você
nem esperava que isso fosse acontecer".
Ficou na promessa. A idéia era que o Estado recebesse,
já em abril, R$ 50 milhões do governo federal
para a segurança pública. Em novembro, seriam
entregues mais R$ 10 milhões para aquisição
de equipamentos, serviços etc.
Até o dia 18 deste mês, o governo federal só
havia depositado R$ 4 milhões para o Espírito
Santo. Cerca de R$ 12 milhões em veículos e
motos já estavam confirmados -mas os equipamentos chegariam
até o dia 31.
As informações são
da Folha de S.Paulo, em Brasília.
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