BRASÍLIA - O primeiro Orçamento
do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
foi aprovado ontem pelo Congresso após uma maratona
de discussões e votações de 1.800 emendas
e destaques. Até a oposição admitiu que
o primeiro Orçamento do PT tem virtudes, mas também
alguns vícios. Entre os avanços, destaca-se
o orçamento da saúde, o maior dos últimos
anos com R$ 36,3 bilhões, com quase R$ 5 bilhões
a mais do que a proposta original. A verba só foi assegurada,
porém, por pressão da bancada da Saúde
e do procurador-geral da República, Cláudia
Fonteles.
A proposta também privilegia as regiões mais
pobres: os investimentos para as regiões Norte vão
crescer 137% e, para o Nordeste, 84%, enquanto os do Sudeste
cresceram 78%, os do Centro-Oeste 66,3% e os do Sul, 45%.
No total, os recursos destinados a investimento vão
subir dos atuais R$ 4,4 bilhões para R$ 12 bilhões.
"Este Orçamento se aproxima muito da cara do
governo Lula porque vai investir mais em saúde, saneamento,
infra-estrutura e reforma agrária", disse o relator,
deputado Jorge Bittar (PT-RJ).
Para a oposição, o pior vício do Orçamento
é o arrocho fiscal, já que ainda faltam recursos
para o governo começar a cumprir a promessa de dobrar
o valor do salário-mínimo, assim como para garantir
um reajuste maior para o funcionalismo público.
"Com um aumento real de 5% para o salário-mínimo
previsto para 2004, o governo não vai cumprir a promessa
de dobrar o valor até o fim do mandato. Com um reajuste
de pouco mais de 1% no salário dos servidores, o governo
promoverá o maior arrocho dos últimos anos",
previu o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ).
Senadora critica verbas destinadas ao social
A senadora tucana Lúcia Vânia (GO) elogiou
os critérios de Bittar para estabelecer as receitas,
mas disse que o Orçamento é crítico na
área social:
"Como este ano o governo está investindo muito
pouco no social, a base de cálculo para os investimentos
em 2004 fica muito reduzida".
A disputa por recursos foi acirrada na Comissão Mista
de Orçamento. A sessão começou às
9h30m. As pressões sobre Bittar garantiram aos parlamentares
ampliar o volume de investimentos dos R$ 7,8 bilhões
propostos inicialmente pelo governo para R$ 12,1 bilhões.
Nem bem havia iniciado a sessão para a votação
das emendas e Bittar interrompeu os trabalhos por causa da
pressão por mais verbas para as emendas, especialmente
da bancada do PFL. O relator previa aceitar o equivalente
a R$ 3,6 bilhões, mas acabou cedendo mais R$ 800 milhões.
A disputa por mais recursos na reta final da votação
não garantiu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o
dinheiro necessário para preparar as eleições
municipais. O valor assegurado após a votação
dos destaques foi de apenas R$ 25,5 milhões, muito
aquém do montante solicitado pela emenda da Comissão
de Constituição e Justiça do Senado (CCJ),
de R$ 120 milhões destinados à substituição
de 76,2 mil urnas eletrônicas obsoletas.
O primeiro Orçamento do PT traça um quadro
mais otimista para 2004. Segundo os números, a taxa
de juros básica do Banco Central ficará em 13,75%
na média do ano. A economia vai crescer 4%, a inflação
medida pelo IPCA será de 5,71%, e a cotação
média do dólar ficará em R$ 3,19. Em
compensação, a previsão para o crescimento
da massa salarial não é das mais otimistas.
Enquanto o governo previa no início de 2003 que a massa
cresceria 12,28%, o Orçamento aprovado ontem prevê
um crescimento de 11,09%.
Com receita extra, mínimo pode chegar a R$
276
Bittar reservou R$ 3,6 bilhões para um aumento
do mínimo acima da inflação. Com isso,
ele garante um mínimo de R$ 270, podendo chegar a R$
276, caso o governo encontre outras receitas para pagar um
passivo de R$ 14 bilhões de perdas das aposentadorias
em planos econômicos.
"O valor do salário-mínimo só será
estabelecido em abril pelo presidente Lula. Ele poderá
ser até superior a R$ 270. O comportamento das receitas
da Previdência é que vai ditar o novo piso",
disse Bittar.
Dos R$ 3,6 bilhões, o governo ainda terá de
gastar R$ 1,1 bilhão num reajuste linear das aposentadorias
do INSS em 2004. Existe problema parecido em relação
ao funcionalismo. O relator deixou uma reserva de R$ 5,4 bilhões
para dar o aumento determinado pela Constituição.
Além disso, há de se considerar o crescimento
da folha e os gastos para realinhar cargos e carreiras. Caso
o governo decida cumprir o que está no Orçamento,
os funcionários públicos terão reajuste
de 1,9%.
VALDEREZ CAETANO
do jornal O Globo
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