O ministro da Saúde, Humberto
Costa, anunciou ontem uma série de medidas para tentar
estimular os usuários de planos de saúde que
assinaram contratos antes de 1998 a mudarem para novas modalidades.
A principal delas — batizada de Programa de Incentivo
à Adaptação dos Contratos Antigos —
exige que, até março de 2004, as operadoras
enviem aos clientes pelo menos uma proposta de migração,
que aumente a cobertura de atendimento, oferecendo benefícios
que entraram em vigor após 98. Um deles proíbe
limitar o tempo de internação. A mudança,
contudo, pode resultar num reajuste de até 25% na mensalidade
— o governo calcula que o aumento médio será
de 15%.
O ministro também informou que, no início de
2004, enviará ao Congresso um projeto de lei propondo
que consumidores com contrato de mais de dez anos com a mesma
operadora ganhem descontos de até 25% nas mensalidades.
Além disso, a carência para doenças preexistentes
seria reduzida de 24 para 18 meses.
Para o Idec, medida é ‘presente de grego’
O usuário que optar pela adaptação
de seu plano terá que cumprir um prazo de carência
para os procedimentos médicos a serem incluídos.
Esse prazo, no entanto, será de até 90 dias
e não de 180, como ocorre nos contratos novos. A outra
alternativa é a migração para um novo
contrato. Neste caso, a carência também será
menor, mas o percentual de reajuste não será
fixado pelo governo, e sim pela operadora. Daí o risco
de aumentos.
O ministro explicou que os clientes não estão
obrigados a abandonar os contratos antigos, mas lembrou que
pode haver problemas com atendimentos não incluídos
nos planos. Existem hoje no Brasil 22,3 milhões de
usuários com planos antigos, dos quais 8,2 milhões
com contratos individuais e 14,1 milhões com coletivos.
"O consumidor tem a opção de ficar com
o contrato antigo. Mas ele precisa saber que existem outras
opções, que podem ser mais caras, mas são
mais vantajosas do ponto de vista de cobertura", argumentou
Costa.
O presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), Januário Montone, disse que a escolha da adaptação
ou da migração vai depender de cada contrato:
"Se um consumidor tem em seu contrato antigo um procedimento
opcional, como cirurgia plástica, e quer mantê-lo,
pode ser mais vantajoso fazer apenas a adaptação".
Em nota, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)
chamou a proposta do governo de “um presente de grego”.
Segundo o Idec, haverá prejuízo aos consumidores
que optarem pela adaptação, uma vez que o reajuste
nas mensalidades pode chegar a 25%, dependendo do contrato.
O Idec avisa que, se optar por permanecer com o contrato antigo,
o usuário estará protegido pelo Código
de Defesa do Consumidor.
Além disso, informa que, independentemente do tempo
de contrato, o consumidor deverá cumprir carência
de até 90 dias para os procedimentos mais complexos.
E critica a diminuição da carência de
24 para 18 meses nas doenças preexistentes. Para o
Idec, a redução é exígua, já
que os pacientes não terão cobertura em procedimentos
por vezes fundamentais durante um ano e meio.
Por sua vez, o diretor de saúde da Federação
Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização
(Fenaseg), Horácio Cata Preta, considera razoável
o reajuste médio de 15% nas mensalidades dos contratos
adaptados:
"Teremos que nos adaptar às normas. As seguradoras
apresentaram um estudo no Fórum de Saúde Suplementar
no qual mostramos que o percentual de reajuste deveria ser
de 30% em média. Portanto, haverá casos em que
será necessário aplicar o teto de 25%".
Mas Cata Preta condenou o projeto que fixa descontos proporcionais
ao tempo de plano dos usuários. Para ele, a proposta
é inviável:
"O plano de saúde é um sistema mutualista:
se houver desconto, o custo será repassado ao grupo,
pois a despesa geral não se altera. A proposta simplifica
algo complexo".
Desconto de 1% ao ano na mensalidade
O ministro da Saúde também anunciou
que, a partir de janeiro de 2004, os novos contratos terão
reajustes distribuídos por dez faixas etárias,
em vez de sete, como ocorre hoje. A primeira faixa será
de zero a 18 anos e a última, de 59 anos ou mais. A
mudança foi feita para adaptar a lei dos planos ao
Estatuto do Idoso, que proíbe o reajuste por faixa
etária a partir dos 60 anos.
O reajuste da última faixa pode ser de, no máximo,
seis vezes o da primeira. Mas para impedir que os aumentos
se concentrem nos contratos dos usuários mais velhos,
o governo vai exigir que eles sejam diluídos. Com isso,
o percentual acumulado nas três últimas faixas
não pode superar o das sete primeiras.
Costa informou que o projeto que vai para o Congresso prevê
que os consumidores com mais de 45 anos de idade e dez anos
de contrato com a mesma operadora recebam desconto nas mensalidades.
Para os primeiros dez anos, o projeto prevê um desconto
de 0,25% anual. Na década seguinte, passaria a 0,50%
ao ano, e a partir do 21 ano chegaria a 1%. O desconto máximo
seria de 25%.
O Idec afirmou que a proposta de reajuste por idade suprime
a faixa de 60 anos em diante, mas mantém o percentual
total de reajuste. Hoje o reajuste, que soma 500%, está
distribuído por sete faixas etárias (a primeira
de zero a 17 anos e a última, de 70 anos). A proposta
da ANS, diz o Idec, apenas dilui o reajuste de 500% em dez
faixas.
MARTHA BECK
ANA CECÍLIA SANTOS
do jornal O Globo
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