Em novembro, a taxa de desemprego teve a primeira queda significativa de 2003:
passou de 12,9% em outubro para 12,2%, segundo o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). É uma
diferença, de um mês para o outro, de 0,7 ponto
percentual.
A redução ocorreu, principalmente, pelo aumento
de vagas no setor informal. O rendimento em novembro recuou
mais uma vez.
Apesar de considerar que 2003 foi "um ano praticamente
perdido para o mercado de trabalho", Cimar Azeredo Pereira,
gerente da PME (Pesquisa Mensal de Emprego), afirmou que o
resultado foi "o primeiro sinal de reação".
Não quer dizer, porém, que ele se manterá
em 2004, ressaltou.
Comprovando o aumento da informalidade, o número de
pessoas trabalhando sem carteira assinada subiu numa velocidade
maior do que o de pessoas com carteira. No caso dos com carteira,
a expansão foi de 1,1% em relação a outubro.
O emprego sem carteira cresceu mais: 3,2%.
Apesar do recuo, a taxa de desemprego de novembro ainda é
maior do que a do mesmo mês de 2002, quando ficara em
10,9%. Já a renda do trabalhador caiu 13% se comparada
com novembro de 2002. Em relação a outubro,
ficou estável (mais 0,1%).
Ao observar a média de março a novembro deste
ano (único período mais longo para qual o IBGE
tem dados disponíveis), o rendimento recuou 12,9% na
comparação com igual período de 2002.
A renda média cedeu de R$ 982,97 para R$ 855,62.
De acordo com Pereira, a renda em queda e a expansão
da informalidade evidenciam que 2003 foi um "ano ruim,
difícil". "Certamente, o mercado de trabalho
está muito pior do que em 2002."
Ele disse que, apesar da influência sazonal -o emprego
tradicionalmente aumenta no final do ano com o Natal-, a queda
de novembro foi "expressiva e um primeiro sinal de recuperação".
Um dado que sugere uma futura recuperação é
o fato de o número médio de horas trabalhadas
ter aumentado de 40 em novembro de 2002 para 43,1 em novembro
deste ano. Isso significa que as empresas estão aumentando
a carga horária sem fazer novas contratações,
o que pode ser o próximo passo, segundo o IBGE.
Para Lauro Ramos, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), houve uma melhora "discreta"
do mercado de trabalho em novembro. A recuperação,
disse, foi muito à custa da informalização
e da ampliação dos empregos precários.
Ramos citou um dado positivo: o desemprego caiu ao mesmo
tempo que a ocupação cresceu. Foi a primeira
vez que isso ocorreu, o que mostra que o mercado absorveu
o contingente de desempregados e que a procura por emprego
pode estar menor.
"O mercado de trabalho está um pouco melhor,
mas não há como separar fatores sazonais. Novembro,
historicamente, tem desemprego menor. Mas pode ser o início
de uma tendência, que ainda precisa de confirmação."
Ramos diz que o mercado está "debilitado"
desde 2001. Então, "qualquer empurrãozinho"
da economia se traduz em melhora.
Mais otimista, Francisco Pessoa, da LCA, acredita que a redução
do desemprego "é compatível com outros
indicadores" tanto de mercado de trabalho como de produção
e vendas da indústria.
"A economia está se reativando. As expectativas
são melhores. É natural uma reação
do emprego."
PEDRO SOARES
da Folha de S. Paulo, sucursal do Rio
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