Os dados sobre a mortalidade infantil
em um país são considerados um bom indicador
para avaliação das condições de
saúde e de vida da população. No Brasil,
a mortalidade infantil (óbitos de menores de até
um ano de idade para cada 1.000 nascidos vivos) sofreu um
decréscimo de 37,5% na década de 90.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), em 1990 a taxa de mortalidade infantil
no país foi de 45,7%. Dez anos depois, os números
caíram para 29,7%. A taxa é considerada média
dentro dos parâmetros da OMS (Organização
Mundial de Saúde). Conforme o órgão,
as taxas são classificadas em alta (50%), média
(20% a 49%) e baixa (menos de 20%).
Apesar da queda, o Brasil ainda apresenta grandes contrastes
setoriais, principalmente entre as regiões Nordeste
e Sul. De um modo geral, a primeira contém os piores
índices do país (44,7%), e a segunda, os melhores
(18,9%).
As regiões Sudeste e Centro-Oeste apresentam índices
similares. A primeira, com 21,3%, e a segunda, com 21,6%.
A taxa da região Norte é de 29,5%.
Nordeste x Sul
Alagoas, que registrou decréscimo na taxa
de 37,5% na década de 90, continua com uma taxa de
mortalidade infantil alta: 62,5%. É o maior índice
não só da região Nordeste como também
de todos os Estados brasileiros. O segundo pior índice
está concentrado no Maranhão (49%), seguido
pela Paraíba (48,3%).
No outro extremo aparece o Rio Grande do Sul, com uma taxa
de 16,1%, a menor do país. Os dados positivos também
aparecem no Distrito Federal (18,3%), São Paulo (18,6%),
Roraima (19,7%) e Santa Catarina (19,5%).
Rio de Janeiro e Minas Gerais, Estados com um grande número
de habitantes, apresentam, respectivamente, taxas de 20,6%
e 22,2%, classificadas como "média mortalidade"
pela OMS, assim como o restante dos Estados.
Média
Todos os Estados das regiões Sul, Sudeste
e Centro-Oeste possuem taxa de mortalidade infantil abaixo
da média nacional, que é de 29,7%, além
de Rondônia (25,9%), Roraima (19,7%), Pará (29%)
e Amapá (26%).
A razão para os indicadores nesses Estados da região
Norte deve-se, conforme o IBGE, não só à
existência de uma economia de subsistência na
área mas, também, ao fluxo de migrantes oriundos
do Sul do país, que já apresentam um padrão
de mortalidade relativamente baixo.
Domicílio
As taxas de mortalidade infantil no país são
maiores nas áreas urbanas em relação
às rurais, com exceção de Rondônia,
Amazonas, Roraima e Amapá. O índice da área
rural no Brasil é de 35,2%, enquanto na urbana é
de 27%. Conforme o Censo 2000, cerca de 80% da população
brasileira mora na área urbana.
Entre os Estados, os que apresentam a maior taxa na região
rural são Alagoas (67,2%), Maranhão (53,1%)
e Paraíba (49,1%). Os que têm a menor são
Rio Grande do Sul (17,5%), Espírito Santo (18,8%) e
Santa Catarina (22,1%).
Na área urbana, os Estados com maiores taxas são
Alagoas (58,2%), Maranhão (44,5%) e Rio Grande do Norte
(43,2%). As menores estão em Rio Grande do Sul (15,8%),
Distrito Federal (18,2%) e São Paulo (18,3%). No Estado
paulista, a taxa de óbitos na área rural é
de 22,9%.
Raça
A mortalidade infantil de crianças de mulheres
que se declaram de cor branca é de 22,9%. O número
sobe para 34,9% em crianças de cor preta declarada
pela mãe e declina levemente para 33,% em pardos, conforme
o Censo 2000.
Se considerarmos o conjunto de negros e pardos, o valor é
de 33,7%. Ou seja, as crianças de mulheres que declararam
cor preta e parda têm uma probabilidade 47% maior de
virem a morrer do que as crianças de mulheres que se
declararam brancas.
As regiões do Centro Sul do país são
as que apresentam as diferenças mais significativas,
sendo menores no Nordeste e Norte.
No entanto, quando esse quadro é analisado pelas Unidades
da Federação, fica mais complexo. Embora, um
conjunto significativo de Estados do Norte e Nordeste esteja
entre aqueles que apresentam menor desigualdade racial no
indicador, existem situações, como o caso do
Rio de Janeiro, Paraná e Goiás, em que as diferenças
se situam num patamar de 20%.
Por outro lado, Estados como Paraíba, Roraima, Ceará
e Amapá a diferença entre a mortalidade infantil
de crianças cujas mães são brancas em
relação às de mães de cor preta
e parda é superior a 36%. No Amapá, por exemplo,
essa diferença chega a 56%.
Região
As diferenças entre os distintos grupos étnicos
são afetadas também pelas desigualdades regionais.
Em relação às taxas de mortalidade infantil
de crianças de mães brancas, o menor valor é
encontrado no Distrito Federal (14,4%), seguido de Roraima
(15,3%) e Rio Grande do Sul (16,0%). No extremo, tem-se um
conjunto importante de Estados nordestinos em que a mortalidade
de crianças brancas é significativamente elevada,
chegando a atingir a cifra de 59,2% em Alagoas.
Em relação à mortalidade infantil de
crianças de mães negras, os menores valores
são encontrados nos principais Estados do Sul, Sudeste
e Centro-Oeste, situando-se, em todos eles, abaixo da média
nacional (29,7%), sendo que no Rio Grande do Sul a taxa é
a mais baixa dentre todos os Estados (23,7%).
Por outro lado, quando se focaliza a situação
da mortalidade infantil de crianças de mães
negras, os Estados do Nordeste se destacam por exibirem, mais
uma vez, altas taxas de mortalidade, com valores que superam
a cifra de a 40%, chegando a um máximo de 65,6% em
Alagoas.
Considerando a região Nordeste como um todo, o valor
da taxa de mortalidade infantil, para esse grupo específico,
é de 48,2% contra 38,5% no grupo de brancos, enquanto
na região Sudeste os valores eram respectivamente de
28,3% e 18,5%.
Conforme o IBGE, no entanto, independentemente da cor do
indivíduo, residir, principalmente em áreas
menos desenvolvidas economicamente, como é a situação
dos Estados nordestinos, implica em menores chances de sobrevivência
de suas crianças, seja ela, branca, preta ou parda.
Educação
A educação da mãe tem sido uma
das principais variáveis sócio-econômicas
que tem originado impactos positivos na redução
dos índices de mortalidade infantil, em função
da maior percepção que a mãe adquire
no trato e cuidado da saúde dos filhos.
No Brasil, apesar dos avanços alcançados nos
últimos anos na inserção de novas gerações
no sistema escolar, quando se considera o grupo de mulheres
em idade fértil (15 a 49 anos) observa-se que ainda
é bastante elevada a proporção dessas
mulheres que têm baixa escolaridade.
Trabalhando com o conceito de analfabetismo funcional (até
3 anos de instrução), a maioria dos Estados
da região Nordeste apresenta proporções
de mulheres nessa faixa etária cujos valores chegam
a 39,6%, como é o caso de Alagoas, sendo que a média
regional é de 31%.
Com exceção do Rio Grande do Norte com 24,3%
e Pernambuco com 26,7%, todos os demais Estados apresentam,
ou valores próximos a essa média (Ceará
com 29%) ou acima, situação dos demais Estados.
Importante destacar que a média nacional é
de 19,2%, sendo que as regiões Sul, Sudeste e Centro
Oeste apresentam valores bem abaixo desse parâmetro,
como é a situação do Distrito Federal
(9,3%) e Rio Grande do Sul (10,2%), enquanto os Estados do
Norte --exceção de Roraima (18,4%) e Amapá
(19,1%)-- apresentam proporções entre 20% e
26%.
Estas diferenças, portanto, deverão se relacionar
com os distintos níveis de mortalidade infantil observado
em cada região e Unidade da Federação,
segundo o IBGE.
Instrução
Existe uma relação inversa entre o
nível de educação da mãe e a mortalidade
infantil, ou seja, à medida que aumenta a escolaridade
materna, diminui de forma intensa a mortalidade de menores
de 1 ano.
Neste sentido, para o Brasil como um todo, enquanto esta
mortalidade que era de 40,2% nas crianças cujas mães
tinham até 3 anos de instrução, se reduz
para 16,7% em crianças com mães com nível
de instrução superior a 8 anos, representando
um diferencial de 140%.
A situação continua sendo ainda preocupante
no Nordeste, que apresenta as taxas de mortalidade infantil
mais elevadas para crianças com mães de baixa
instrução.
Em 2000, os valores se situavam acima de 57 óbitos
de menores de 1 ano por 1.000 nascidos vivos, o dobro do observado
para as regiões Sudeste e Sul.
Outras variáveis sócio-econômicas que
influenciam na mortalidade infantil são a questão
da renda e os serviços de infra-estrutura de saneamento
básico.
ANA PAULA GRABOIS
da Folha Online, no Rio
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