A população
brasileira vai parar de crescer em seis décadas se
o fenômeno da queda da fecundidade se mantiver constante
até lá. Projeções feitas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
indicam que, em 2062, o crescimento populacional será
zero, e o país terá 263,7 milhões de
habitantes. Nos anos seguintes, se a tendência verificada
hoje não mudar, a taxa deverá começar
a cair.
"Não são dados oficiais, mas projeções
baseadas, entre outros indicadores, na relação
entre o número de nascimentos e o número de
óbitos no Brasil", disse o gerente de Análises
Demográficas do IBGE, Juarez de Castro Oliveira.
O IBGE divulgou ontem a Revisão 2004 da Projeção
da População, que levou em conta as taxas de
natalidade e mortalidade calculadas a partir do Censo 2000
e as Estatísticas de Óbitos do Registro Civil
1999-2001 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) 2001. Apesar das projeções que apontam
para a queda populacional, o número de brasileiros
praticamente dobrou em relação aos 93 milhões
da década de 1970. Em julho deste ano, a população
brasileira já era de 181,5 milhões de pessoas.
A população aumentou em 10 milhões de
pessoas somente entre 2000 e 2004. Em 2050, serão 259,8
milhões de brasileiros, e a expectativa de vida ao
nascer será de 81,3 anos, a mesma dos japoneses hoje.
As projeções, explicou Juarez Oliveira, demonstram
que o Brasil caminha a passos largos para um processo de envelhecimento.
Em 2000, os brasileiros de 0 a 14 anos representavam 30% da
população, enquanto os maiores de 65 anos eram
5%. Em 2050, os dois grupos se igualarão em 18%.
Idosos
Embora o aumento da população idosa reflita
a melhoria na qualidade de vida dos brasileiros, o fenômeno
trará transtornos para a economia. Juarez disse que,
para cada grupo de cem brasileiros com 64 anos ou mais, há
1.150 em idade ativa (de 15 a 64 anos), o que representa um
por 11,5. Confirmadas as projeções do IBGE,
esta proporção em 2050 será cem com 65
ou mais para 350 em idade ativa (um por 3,5).
O IBGE prevê ainda o aumento da população
de brasileiros com 80 anos ou mais dos atuais 3 milhões
para 13 milhões em 2050.
"A longevidade não terá impacto apenas
na economia ou no sistema previdenciário. Vai mudar
o comportamento do brasileiro. As pessoas deixarão
para casar e ter filhos bem mais tarde. Além disso,
várias gerações da mesma família
vão conviver na mesma casa", disse o pesquisador
do IBGE.
Na contramão desta tendência, a população
brasileira já não cresce às mesmas taxas
do passado. Se o ritmo se mantivesse no mesmo nível
observado em 1950 (aproximadamente 3%), em 2004 a população
residente no Brasil seria de 262 milhões. Porém,
devido exclusivamente à queda dos níveis gerais
da fecundidade no país, a diminuição
do balanço entre nascimentos e mortes ao longo de 44
anos produziu uma diferença de cerca de 80 milhões
de pessoas que não entraram no cálculo populacional
em 2004.
Para o IBGE, a taxa de fecundidade tem diminuído deste
então devido às transformações
ocorridas na família brasileira, como a popularização
dos métodos anticoncepcionais e a entrada da mulher
no mercado de trabalho. Em 2000, com uma média de 2,39
filhos por mulher, o Brasil estava na 75ª posição
entre os 192 países ou áreas comparados pela
ONU.
Taxa de crescimento
A taxa de crescimento da população diminuiu
de 3% ao ano, no período 1950-1960, para 1,44% ao ano,
em 2004, e poderá alcançar 0,24%, em 2050, com
uma população projetada em 259,8 milhões
de habitantes. Neste ritmo, o IBGE espera que a população
do Brasil atinja o chamado crescimento zero por volta de 2062,
apresentando, a partir daí, taxas de crescimento negativas.
Em 2000, quando a taxa de crescimento da população
era de 1,5% ao ano, o Brasil ocupava a 94 posição
no ranking crescente de 192 países ou áreas
com 100 mil habitantes ou mais. A média mundial, para
o mesmo ano foi estimada em 1,24% ao ano, e no período
2045-2050, poderá situar-se em 0,33% ao ano.
Juarez Oliveira disse que outra previsão verificada
neste trabalho é o crescimento da população
feminina. Em 2050, o Brasil terá 6 milhões de
mulheres a mais do que homens. Em 1980, havia 98,7 homens
para cada grupo de 100 mulheres. Esta proporção
que caiu para 97% em 2000 e será de 95% em 2050.
"Isso se deve principalmente à violência,
que atinge majoritariamente jovens do sexo masculino",
explicou.
O IBGE também divulgou ontem, em cumprimento à
lei n 8.443, as Estimativas das Populações Residentes
nos 5.560 municípios brasileiros. Em relação
ao ano passado, houve aumento de população em
72,6% dos municípios e diminuição em
27,2% deles, enquanto em apenas nove (0,2%), não houve
alterações. Pelas projeções, a
população do município do Rio ultrapassa
os 6 milhões de habitantes, só atrás
de São Paulo.
CHICO OTÁVIO
do jornal O Globo
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