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05/05/2006
Carta da semana
América “América,
o erro migrante, errante
alquimista da nação mista
quimérica,
nem por instante
te esquece em passo
em prece:
cada Gagarin tem
a terra azul que merece.
América, estou eu
anti-herói de guerra
pomba da paz sem terra
de volta a teu velho Novo Mundo
em busca dum tempo perdido
no vago saber vagabundo.
Teu passado negro
passo em branco,
assino nossa sentença
de vítima
e réu confesso arrependido.
América, soy loco, soy loco
a ver teu verde amarelar
te explico, te entendo
muito pouco,
te aceito de bom grado
um café com açúcar,
a mão cabocla no cabo
da arma e do arado,
o olho comprido, gordo
na renda da tua fazenda.
Cristo vão da rota inversa
de Colombo,
te encontro viúva deserdada
a quem Vespúcio
não deu sobrenome.
Ouro, prata, riqueza imensa
pesada no lombo
movida a chibata
por teus filhos que cantam
driblando a dor e a fome.
Pássaro impossível
renasço das cinzas
que Cabral não fez das caravelas,
Ícaro ibero-americano
encaro cara-pálida teu sol
que me da calor mas derrete
minhas asas.
Vôo baixo, altivo
e desabo nas encostas
de tuas favelas.
América,
um poema não estanca
o sangue índio das tuas veias abertas,
uma reza não traz à vida
tuas esperanças mortas.
Então, me deixa mais uma vez
mamar em teu seio
me aceita pr'eu morrer em meio
à tua selva amazônica urbana,
ser apenas outra lenda eletrônica
da mais nova novela mexicana,
puxar a espada, dar o grito
de independência e misericórdia
da minha cidadania de banana.
Sei que teu segredo, teu pecado
carrego em mim, América
luso-hispânica, católica
indígena de África,
cubana anti-americana
de Maracanã e Copacabana.
América, mãe latina
exporta a virtude de tua menina
pós salvação jesuítica em pó
da tua cocaína,
mas acolhe de volta, em súplica
teu filho, que a ti se resigna”,
Eduardo Carrascosa,
Rio de Janeiro (RJ) -
eduardocarrascosa@yahoo.com.br
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