Se eu tivesse
de eleger um símbolo da violência brasileira,
indicaria o músico Marcelo Yuka, ex-baterista da banda
Rappa. Em 2000, no Rio, levou noves tiros e ficou paraplégico.
Cinco anos depois seria vítima de um arrastão.
No sábado passado, foi agredido por marginais. Até
se sentiu com sorte por não ter levado um tiro --chegamos
ao ponto de um paraplégico sentir-se felizardo por
ter apenas levado uma surra.
Todos sabemos que violência se reduz, em primeiro lugar,
com a redução do clima de impunidade. Em uma
palavra: cadeia. Todos sabemos também que a prevenção
significa melhores escolas, espaços de lazer, oportunidades
de empregos, tratamento de doenças mentais etc.
Uma pesquisa por pesquisadores canadenses mostra como a questão
é ainda muito, mas muito mais complexa --eles tocaram
no que se poderia chamar de o DNA da violência. Cientistas
da Universidade McGill conseguiram detectar mudanças
genéticas em vítimas de maus-tratos durante
a infância. Tal modificação aumenta a
tendência a desequilíbrios emocionais crônicos
entre as vítimas --o detalhamento da pesquisa está
no neste
link.
Está aí um dos reflexos da desestrutura familiar,
violência doméstica e pobreza. A tradução
disso: quanto menos tivermos políticas públicas
na fase do zero a seis anos (inclusive educando as famílias)
mais difícil será não vermos cenas como
um paraplégico apanhando de marginais.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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