Pela
1ª vez, a elite econômica reúne membros
do Executivo para pedir que a educação seja
uma prioridade nacional
Um ponto de táxi localizado na rua Natingui, quase
esquina com a Fradique Coutinho, em Pinheiros, criou uma inusitada
modalidade de auto-escola. Quando trafegam pelo bairro e vêem
que um aluno está cabulando a aula, os taxistas tentam
estimulá-lo a sair da rua e ir para a sala de aula.
Em alguns casos, chegam até mesmo a ligar para a diretora.
Quando estão livres, eles muitas vezes dão carona
a algum professor.
A inédita transformação, em uma metrópole
estressada, de taxistas em voluntários educacionais
faz parte da história de Maria de Fátima Borges,
uma quase desconhecida professora que estará, no dia
de hoje, no museu do Ipiranga, misturada a uma pequena multidão
de autoridades públicas e de celebridades empresariais.
Não fosse convidada a falar, passaria por ali em total
anonimato. "Um dos motoristas daquele ponto era pai de
um de nossos alunos. A partir daí, começou a
cumplicidade", conta Maria de Fátima.
Tal cumplicidade é apenas um detalhe da transformação
da escola municipal Olavo Pezzotti, a poucos metros do ponto
de táxi.
Em 1998, havia até mesmo rumores de fechamento da
escola, tantos eram os problemas e tão poucos os alunos
matriculados. Localizava-se na fronteira de uma região
de cortiços conflagrada pela violência, conhecida
por "mangue". "À noite, os tiroteios
eram freqüentes." A desolação estava
estampada na aparência da Olavo Pezzotti, com suas paredes
pichadas e seus banheiros destruídos. Maria de Fátima
ganhou a confiança da comunidade, estimulou os professores
e, aos poucos, foi criando um ambiente menos hostil para o
aprendizado. Saiu batendo às portas de vizinhos à
procura de ajuda. Entre eles estão duas universidades
-USP e PUC-, onde conseguiu apoio para a formação
de seus professores. Aliou-se ao centro de saúde para
cuidar melhor dos alunos, muitos dos quais não aprendiam
pela simples falta de um par de óculos ou pela dificuldade
de audição.
Apenas neste ano todo esse trabalho se tornou visível.
As notas dos alunos, segundo o teste aplicado pelo Ministério
da Educação, não apenas ficaram muito
acima da média da cidade de São Paulo como superaram
as de Curitiba e Campo Grande, campeãs entre as capitais.
Por isso, Maria de Fátima foi indicada a falar hoje
no museu do Ipiranga, véspera do Dia da Independência:
pela primeira vez, a elite econômica brasileira reúne
representantes dos governos federal, estadual e municipal
para pedir que a educação se transforme em prioridade
nacional. Jorge Gerdau deverá falar em nome do empresariado,
estabelecendo metas e prazos a serem acompanhados. O ano de
referência para atingir essas metas é 2022, quando
se comemora o bicentenário da Independência.
"Sem educação não há desenvolvimento
que preste", defende Gerdau.
Toda essa transformação vai depender tanto
das celebridades e das autoridades quanto de anônimos
como Maria de Fátima com seus taxistas.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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