Gilberto
Kassab fez uma aposta --e, até por falta de alternativa,
só podia fazer essa aposta. Ele montou toda a sua campanha
baseado na possibilidade de que sua chance de crescer estava
condicionada à comparação com a gestão
Marta Suplicy. E, assim, deixaria de lado Geraldo Alckmin,
com quem não queria um enfrentamento.
Mas, até domingo de manhã, nem ele apostava
que poderia ter tantos votos quanto teve na reta final, o
que o coloca como um dos fenômenos das eleições
em todo o país.
A lógica de Kassab era a de que as temáticas
locais iriam dominar toda a campanha e, com isso, Geraldo
Alckmin tenderia a perder discurso, já que a emoção
estaria na briga entre PT e DEM.
Ele começou a preparar sua candidatura no mesmo dia
em que tomou posse, estimulado pelo governador José
Serra --mas, por muito tempo, não acreditava que Alckmin
saísse candidato. Pelos bastidores, teve sempre o estímulo
de seu padrinho político. Graças a esse apoio,
costurou alianças que viabilizaram o que seria essencial
em sua campanha --um farto horário na propaganda gratuita.
De olho no mapa de votos, ele sabia que a classe média
tenderia a ficar contra o PT e investiu em núcleos
estratégicos da periferia, acenando com as ações
de saúde e educação. Apostou que ganharia
ao se apresentar como "sócio" dos CEUs, a
marca registrada de Marta Suplicy. Sua diferença viria,
porém, se tivesse um chamariz em saúde --e,
aí, a importância das AMAs. Na agenda "negativa",
ele se esforçou em ressaltar a rejeição
de Marta, voltando a lembrar as taxas.
Imaginava que quanto mais trouxesse Marta Suplicy para essa
comparação, maiores seriam suas chances de crescimento
--até esse primeiro turno funcionou, o que lhe faz,
neste momento, começar favorito no segundo turno.
Agora vamos ver se a aposta aguenta a pancadaria que ele
receberá quando serão lembradas com ainda mais
intensidade suas vinculações com Pitta ou Maluf
--ou se vão ser compensadas pelo apoio mais explícito
de Serra.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, editoria Pensata.
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