Não
sei avaliar tecnicamente a viabilidade da proposta de Marta
Suplicy de disseminar a internet gratuita. Meu primeiro impulso
é apreciar a idéia, mesmo sabendo que em ano
eleitoral os candidatos têm a imaginação
mais fértil. Não se pode, hoje, pensar em inclusão
social sem a inclusão digital --é uma interessante
visão de futuro imaginar uma cidade onde todos possam
se conectar.
O que me incomoda, porém, é o risco de desperdício.
Isso porque tenho visitado inúmeras escolas públicas,
onde os laboratórios de informática estão
fechados --ou não são bem utilizados. Faltam
monitores e professores capazes de transformar as máquinas
em aprendizado, Aliás, as escolas muitas vezes nem
sabem usar suas bibliotecas. Isso ocorre tanto em escolas
estaduais como municipais.
Falei aqui de uma experiência em que estou participando,
conduzida jornalistas recém-formados. Eles montaram
um mapa digital do que existe de graça ou a preços
populares em cultura e educação na cidade de
São Paulo. Se você entrar no site (www.catracalivre.com.br)
verá o número impressionante de opções,
a maioria delas pouco usadas por estudantes. Como é
um projeto colaborativo, propagam-se as dicas em cascata.
Por isso, gostei muito da promessa da ex-prefeita de criar
um sistema de transporte para que os alunos aproveitem toda
a riqueza cultural disponível, a começar dos
CEUs. É uma percepção correta e contemporânea
de que a cidade deve ser um espaço educador --aí,
sim, eu vejo uma ação inovadora e viável.
Assim como considero inovadoras e viáveis a transformação
dos clubes da prefeituras em extensão da escola (Clube-Escola),
implementada por Gilberto Kassab. Ou reunir as famílias
nos finais de semana na escola, com complementação
educacional, um programa impulsionado por Alckmin em sua gestão.
Ou seja, usa-se melhor o que existe, buscando as mais diferentes
conexões.
Estou convencido de que a melhor forma de conectar a cidade
num projeto digital, neste momento, é usar melhor o
que já temos --as bibliotecas, os telecentros e os
laboratórios de informática das escolas e centros
culturais. Assim, o investimento vai para quem, de fato, precisa:
os mais pobres.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, editoria Pensata.
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