A educação
da manhã até o fim da tarde teria impacto muito
maior que qualquer outro programa social no país
É um movimento O raro no Brasil. Em Apucarana, norte
do Paraná, com 116 mil habitantes, pais com maior poder
aquisitivo estão tirando seus filhos de escolas privadas
para matriculá-los na rede municipal de ensino - e
não por questões financeiras.
Apucarana está no topo da lista das cidades com melhor
avaliação, feita pelo Ministério da Educação.
Suas escolas municipais oferecem aulas da manhã até
o final da tarde, com direito a dois lanches e almoço;
assistência médica; 33 tipos de atividades extracurriculares
(como xadrez, origami e música); programas de estímulo
ao empreendedorismo mesmo para as crianças da 1ª
série.
Pelo menos um motivo deveria levar os candidatos a governador
e a presidente a estudar essa experiência: o custo mensal
do aluno é de R$ 180. É uma quantia que sugere
a viabilidade de replicar, a médio e longo prazos,
semelhante qualidade de ensino em todo país.
Só se chegou a esse valor porque se montou um quebra-cabeças
unindo as mais diferentes esferas da prefeitura. Dividiu-se
a cidade em regiões, cada qual gerida por um núcleo
que agrega lideranças comunitárias e o poder
público; cada núcleo se reúne numa escola.
Os responsáveis da prefeitura pelo turismo e pelo meio
ambiente, por exemplo, foram chamados a envolver os alunos.
O Sesi e o Senai instalaram classes de orientação
profissional dentro das escolas em conexão com empresários
locais. Como se concentra, na cidade, uma cadeia produtiva
têxtil, os estudantes são convidados a customizar
roupas.
As crianças vão ao "Clube da Sabedoria",
um centro de convívio de idosos, onde desenvolvem atividades
com a terceira idade. Se um pai de aluno estiver sem dinheiro,
será convidado a trabalhar numa horta comunitária,
o que lhe garantirá, além dos recursos federais
do Bolsa-Família, uma cesta básica. Mães
são encaminhadas a programas para gestantes; jovens,
para um centro de prevenção à gravidez
precoce.
Os estudantes aprendem sobre economia -e também sobre
alimentação saudável- porque todos os
produtos são comprados em vilas rurais, sem agrotóxico.
Isso ajuda a manter os baixos índices de desemprego
do local.
É um projeto ainda em consolidação.
Muito falta para assegurar sua perenidade, formar gestores
dentro e fora da escola, implementar um currículo melhor
e elevar o nível dos professores. Não se passou
pelo teste da mudança de governo. Mais grave, a rede
municipal vai da 1ª à 4ª série. Depois,
os alunos passam para escolas estaduais, que, por ora, têm
apenas um turno. Corre-se, assim, o risco de perder o investimento.
Tais falhas e riscos só levam à conclusão
de que o melhor que um presidente e um governador podem fazer
para a melhoria do nível de ensino e das ações
sociais é estimular esses de modelos de integração
-é mais gestão e menos no dinheiro que está
a diferença. Temos um exemplo de incompetência
educacional com Macaé, no Rio, onde a renda per capita
é de R$ 96 mil (a renda per capita de Apucarana é
de 6,9 mil, e a do Brasil é R$ 9,7 mil), e sua educação,
segundo os testes, é sofrível. Assim como temos
o exemplo de Sertãozinho, no interior de São
Paulo, primeiro lugar do ranking estadual, em que o custo
de cada aluno sai por R$ 150 mensais, também beneficiado
por um tipo de ensino integral.
Graças a uma articulação com empresários,
consegue-se, com R$ 140 por aluno ao mês, ter uma escola
de ensino médio integral em Pernambuco -já são
13 centros experimentais, nos quais a gestão será
de uma entidade social, e não do governo, e os professores
recebem bônus de produtividade. Em um bairro de Nova
Iguaçu, na Baixada Fluminense, redirecionaram-se verbas
federais e estaduais, usaram-se espaços pouco utilizados
da comunidade para transformá-los em sala de aula.
Com mais R$ 12 mensais, um aluno pode ficar em alguma atividade,
dentro ou fora da escola, até o fim da tarde.
Não se está falando aqui de um projeto de ensino,
mas de um projeto de nação. Disseminar a educação
em tempo integral teria um impacto muito maior do que qualquer
outro programa social na prosperidade dos indivíduos
e das famílias -principalmente se começar na
pré-escola. É a grande porta de saída
contra a miséria, um complemento indispensável
ao Bolsa-Família, que corre o risco de gerar dependência.
P.S. - Coloquei no site
um detalhamento sobre os vários programas de Apucarana
e um comparativo das notas de seus alunos com as de outras
cidades e da média nacional. Detalho também
os casos de Sertãozinho, Pernambuco, Nova Iguaçu
e Macaé para que se compare o desempenho escolar com
os seus demais indicadores.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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