Há uma boa notícia para os que disputarão
as eleições municipais: os candidatos podem
anunciar que as tarifas de ônibus vão melhorar.
E não serão acusados de fazer demagogia ou de
vender promessas mirabolantes.
Não há um único
técnico especializado em energia, desses acostumados
a ver apenas números e planilhas, que discorde da idéia
de que é possível, a partir de agora, reduzir
os preços dos combustíveis para as empresas
de ônibus. Já começou a sair do papel
uma experiência para segurar o preço dos combustíveis
dos ônibus, reduzir a poluição e, ainda
por cima, economizar dólares enviados ao exterior.
A Petrobras decidiu estimular a produção
de ônibus movidos a gás e está fazendo
uma oferta tentadora: quem aderir ao programa, adaptando-se
a essa fonte de energia, vai gastar menos dinheiro com o combustível.
O proprietário da frota terá a garantia, por
dez anos, de que pagará pelo gás cerca da metade
do que o despendido com óleo diesel. De quebra, economizam-se
dólares; o diesel, afinal, é importado.
São Paulo é a primeira
cidade beneficiada pela oferta, a ser estendida ainda neste
ano a municípios das regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste.
Perspectiva de redução das tarifas de ônibus
é apenas um detalhe a indicar que existe, no Brasil,
uma luz (no caso, uma chama) no fim do túnel para o
crescimento econômico. E essa luz pode ser gerada pelo
gás.
Apenas um limitado grupo de técnicos,
empresários e jornalistas se deu conta de que, com
a descoberta da imensa jazida de gás em Santos (SP),
que triplicou as reservas brasileiras, surgiu uma oportunidade
para a geração de empregos em escala nacional,
sustentada por uma energia abundante e barata.
De olho nesse mercado, estuda-se lançar,
ainda neste ano, veículos movidos a gás com
o motor saído de fábrica; o motor deve servir
também para álcool e gasolina. Os motoristas
de táxi perceberam há muito tempo a economia
que representa o gás e têm adaptado, nas oficinas,
o motor de seus carros ao novo sistema. É óbvio
que os demais motoristas serão atraídos por
automóveis devidamente fabricados para o uso de energia
mais barata e menos poluente.
Mais importante do que o impacto no
transporte individual e coletivo será o barateamento
dos custos das empresas, o que pode representar mais investimentos.
Maior utilização de gás significa, além
de menos poluição, mais exportação
(é possível vender para fora o petróleo
nacional) e menos importação. O diesel, por
exemplo, representa remessa de dólares.
Por essas e por outras (por exemplo,
atrair empresas que usam o gás como matéria-prima),
há quem diga que essa reserva de Santos vai estar para
o Brasil como a descoberta de petróleo do mar do Norte
esteve para a Inglaterra. Segundo as estimativas oficiais,
seria possível fornecer 55 milhões de metros
cúbicos por dia durante 30 anos; o Brasil consome,
diariamente, 28 milhões de metros cúbicos.
Aposta-se até que o papel desempenhado,
no passado, pelo café na economia paulista venha a
ser reproduzido, no futuro, pelo gás. Além do
impulso econômico, seriam pagos royalties ao Estado
de São Paulo pela exploração. Delírios?
Talvez.
Mas muita gente serena parece seduzida
pelos efeitos do gás. O deputado e ex-ministro Delfim
Netto refere-se à jazida como o "santo gás
de Santos". O governador Geraldo Alckmin fala em novo
ciclo de desenvolvimento -opinião compartilhada pela
direção da Fiesp.
Consultores internacionais estão
recomendando a empresas estrangeiras que aproveitem a oportunidade
e instalem no Brasil fábricas para a produção
de turbinas movidas a gás. Documentos dessas consultorias
propõem até mesmo a localização
que imaginam ideal: bolsões abandonados da zona leste
da cidade de São Paulo, antes sedes de indústrias.
Já existem obras em andamento para ligar o porto de
Santos ao aeroporto internacional de Guarulhos, passando por
esses bolsões.
Até agora, não se sabe
de onde vão sair os recursos para extrair as reservas
de gás de Santos. Afinal, não se está
falando de pouco: calcula-se que as obras custem até
R$ 9 bilhões.
Seria menos difícil se houvesse
regras claras, estáveis, para que investidores estrangeiros
e nacionais pusessem dinheiro em obras de infra-estrutura
-essas regras estão em debate no Congresso.
Casos como esse é que vão
medir até onde vai o sentido de urgência dos
políticos, a começar do presidente Lula, quando
falam em geração de empregos.
PS - Por falar em eleições
municipais, José Serra fez muito bem em recusar disputar
a Prefeitura de São Paulo. Mesmo que ele vencesse,
seria ruim para a cidade. São Paulo já tem problemas
demais para ter um prefeito sem vontade de ser prefeito, considerando
que tal cargo é pouco para seu currículo. É
muita ingenuidade esperar que a cidade seja encarada não
como um trampolim, mas como ponto de chegada? Marta Suplicy
tem, é claro, todo o direito de ser candidata a governador
em 2006, mas terá de informar rapidamente, e com toda
a transparência, se vai ficar até o fim do mandato
caso seja reeleita.
Coluna originalmente
publicada na Folha de S. Paulo, na editoria
Cotidiano.
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