O corredor
de um hospital virou o palco perfeito para um grupo de enfermeiras-menestréis
se apresentar
Formada em enfermagem, Eliseth Ribeiro Leão fez uma
pós-graduação na USP para estudar os
efeitos terapêuticos da música, especialmente
para aliviar a dor dos pacientes. Estava começando
aí sua experiência artística, cujo palco
é um corredor de hospital. "É o local perfeito.
Consigo fazer com que, pelo menos naquele momento, os pacientes
se esqueçam da dor."
Eliseth Ribeiro Leão
A vida acadêmica de Eliseth começou num curso
de letras e, depois, entrou em enfermagem e se especializou
em neurologia. Daí veio seu interesse em conhecer como
o cérebro transforma a música em medicamento
contra a dor. Da USP, ela rumou para a França a fim
de aperfeiçoar seus conhecimentos. Mas a carreira artística
só viria porque entrou no departamento de pesquisa
do hospital Samaritano, onde encontrou sua platéia.
Surgiria, assim, o Vozes de Menestréis, formado em
sua maioria por enfermeiras voluntárias.
crédito das fotos: Eduardo
Gaggini
Em seus estudos, ela acompanhou a saúde de pacientes
submetidos a diferentes doses diárias de música,
em geral clássica. Eram visíveis, segundo ela,
as alterações para melhor da pressão
arterial ou da freqüência cardíaca. "Só
o fato de o paciente prestar menos atenção à
sua dor já ajuda."
Ouça as músicas:
Uma
canção ao cuidar
Vira
Virou
Carinhoso
Os resultados que mais a impressionavam eram encontrados nas
experiências com pacientes vítimas de dores crônicas;
na França, Eliseth acompanhou idosos. Aprendeu, por
exemplo, como as notas musicais ativam analgésicos
naturais (as endorfinas) no cérebro.
Voltou ao Brasil convencida de que uma política de
humanização hospitalar deveria prever a injeção
de música nos pacientes. O prazer de cantar na adolescência
-ensaiava com sua banda na garagem de casa e cantava no coro
da igreja- levou-a a integrar o conjunto Vozes de Menestréis,
com suas apresentações nos corredores.
A aceitação foi tanta que tiveram de expandir
os espaços das apresentações e não
mais apenas para pacientes. Foram cantar também para
os funcionários do hospital.
Dessa cantoria ainda não saiu uma pesquisa, mas já
saíram um CD e um DVD. "Muitos pacientes queriam
ouvir de novo as canções."
Mas queriam ouvir, de preferência, fora do hospital.
Depois de oito meses de ensaios, Eliseth e as menestréis
lançaram, enfim, um disco, acompanhado dos vídeos
com as apresentações. "Música é
como gente. É um universo de possibilidades."
No caso de Eliseth, abre-se mais uma possibilidade: aos 45
anos, decidiu estudar piano. Como está se mudando para
um apartamento com uma vista ampla de São Paulo, imaginou
que a cidade será uma paisagem mais interessante ao
som do piano. "O ditado sobre como cantar espanta os
males já adiantava as descobertas da neurociência."
Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
Além da
música, o cinema também ajuda no tratamento
de doenças
da Redação
Além da turma dos “Vozes dos Menestréis”,
os profissionais do Hospital Samaritano, na capital paulistana,
também utilizam o cinema para otimizar a melhora da
saúde de seus pacientes. Trata-se do projeto “Cine
Debate”, desenvolvido pelo Centro de Estudos e Pesquisas
da Entidade.
O programa, que acontece desde 2001, pretende difundir conhecimentos
sobre pontos relacionados à saúde e às
emoções, tendo o cinema como ponte. Depois das
exibições dos filmes, os pacientes são
convidados para um debate. A conversa serve para estimular
a reflexão e o autoconhecimento de cada um.
Já passaram pelas telas do projeto filmes como “Melhor
Impossível”, “O Lenhador” e “A
Bela da Tarde”. Estes e outros títulos são
exibidos toda terceira segunda-feira de cada mês, sempre
à partir das 19h30 – gratuitamente e aberto à
comunidade. Informações: (11) 3821-5871.
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