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O engenheiro mecânico desempregado
Wagner Fernandes jamais poderia imaginar que seu kart, sem
ganhar nenhuma corrida -aliás, sem nem sequer disputar
uma corrida-, faria tanto sucesso. Não precisou nem
mesmo pisar em uma pista: bastou ir para uma escola.
A história do kart se inicia bem distante da engenharia
mecânica. Começou em outro tipo de movimento:
uma aula de balé. Uma filha de Wagner Fernandes se
ofereceu para dar aulas de balé como voluntária
em um colégio estadual na zona leste (Blanca Zwicker).
Neste ano, as escolas estaduais passaram a abrir nos finais
de semana para o desenvolvimento de atividades extracurriculares
que envolvem a comunidade.
O pai resolveu seguir os passos de sua filha e se propôs
ensinar o que já faz há tanto tempo: montar
carros. Na frente dos boquiabertos estudantes, para os quais
ciências é um amontado de fórmulas desconectadas
da realidade, Wagner ia falando sobre química, física
e matemática, enquanto montava, peça por peça,
o kart. "Pelos olhos deles, era como se eu estivesse
fazendo mágica." Aprendeu-se ali, em meio aos
ruídos do acelerador, o que é, por exemplo,
combustão ou octanagem.
Mas os olhos brilharam mesmo quando os estudantes não
apenas viram mas sentiram como aqueles princípios de
física e de química produziam movimento. Pilotaram,
eletrizados, o kart. No sábado passado, o veículo
foi apresentado como uma espécie de troféu na
escola. Seria a despedida -mas, pelo jeito, foi a largada.
Quando começou a frequentar a escola, Wagner estava
convencido de que o projeto talvez ajudasse a formar jovens
para trabalhar em oficinas mecânicas, onde eles poderiam
ganhar algum dinheiro. Nada mais do que isso. O projeto mudou
de rumo e se transformou em um modelo de aprendizado de ciências.
"É uma experiência genial", entusiasma-se
o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que conheceu
pessoalmente os efeitos pedagógicos do kart.
Os educadores, afinal, buscam desesperadamente meios de tornar
mais atrativo o ensino das ciências, aproximando-as
do cotidiano. O secretário estadual da Educação,
Gabriel Chalita, está estudando os meios de fazer o
kart educativo correr. "É o caso de levar o projeto
a mais escolas", compromete-se o secretário.
Coluna originalmente publicada no
jornal Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.
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