Pela primeira vez, Priscila Darot
vai apresentar, amanhã à noite, suas criações
numa das passarelas da São Paulo Fashion Week -um sonho
de uma legião crescente de jovens seduzidos pelo glamour
da moda. Nos seus 26 anos de idade, ela já perdeu,
há tempos, algumas das ilusões juvenis. "Glamour
é para quem vê desfiles só da platéia",
avisa.
Curitibana que veio morar ainda menina em São Paulo,
Priscila não perdeu o encanto pela moda, mas conhece
todo o estresse por trás dos homens e das mulheres
exuberantes que desfilam nas passarelas. Além dos bastidores
do desfile, um corre-corre histérico, existem as dificuldades
nada glamourosas da profissão de estilista de moda.
"Noto como os jovens estão iludidos e resolvem
viver da moda, impressionados apenas com o brilho das passarelas.
Dá pena."
Quando saiu da faculdade de moda, ela logo aprendeu que a
concorrência é enorme e, para a imensa maioria,
o dinheiro é curto. "Ficam vendo aquelas mulheres
e homens, os estilistas aplaudidos, as modelos milionárias,
e imaginam que vão habitar um mundo de sonhos."
Há dias em que, segundo ela, é tanto trabalho
e pressão que dá vontade de desistir. "Muitas
vezes, não temos fim de semana nem feriado." Não
desistiu porque, entre outras razões, conseguiu subir
um andar na sua carreira. Ela faz parte da primeira geração
de uma experiência batizada de 2nd Floor, um objeto
de desejo para jovens numa cidade que, aos poucos, vai se
firmando no design mundial.
Há dois anos, a Ellus resolveu abrir o segundo andar
de sua loja para um seleto grupo de jovens expor suas criações.
O espaço, de 200 m2, tornou-se, então, um misto
de incubadora com sala de aula, loja e vitrine de talentos
-isso no coração da Oscar Freire, a rua paulistana
das grifes. A idéia deu certo e atraiu para lá
gente como Priscila, que, na adolescência, não
sabia se seguiria a carreira de artes plásticas ou
a de moda. "Acabei juntando artes plásticas com
moda."
A efervescência surtiu resultado a ponto de o segundo
andar experimental da loja da Oscar Freire ganhar um desfile
exclusivo amanhã, quando Priscila, entre outros jovens
em início de carreira e ainda distantes do estrelato,
terão motivos para sentir o encanto -mas, especialmente,
o estresse- da passarela. A chance de irem para o "primeiro
andar" está na razão direta do estresse
que tiverem e do glamour que espectadores sentirem.
.Coluna originalmente publicada
na Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.
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