Um galpão abandonado, escuro,
sujo, de teto desabando e sustentado por paredes esburacadas
entrou na moda e virou ponto de encontro de alguns dos melhores
profissionais de moda da cidade.
Instalado num antigo estacionamento
de ônibus, o galpão abriga um laboratório
educativo da estilista Karlla Girotto, 26 anos, professora
da Faap, que resolveu descobrir talentos. Ela entusiasmou
a Coordenadoria da Juventude da prefeitura e obteve, sem custo,
o espaço, agora adaptado para receber gratuitamente
os alunos, preparando-os para o mercado.
Foram atraídos, neste ano,
para a primeira turma 26 alunos, que, durante dois dias por
semana, recebem aulas, a maioria delas práticas, e
conversam com os profissionais da moda. "A riqueza do
curso está nesse contato com os profissionais de ponta",
afirma Karlla.
Já começam a aparecer
as primeiras ofertas. A Ellus resolveu encomendar peças
para o ateliê-escola, e dois alunos foram convidados
para trabalhar na São Paulo Fashion Week.
No galpão, o emprego começa
na vizinhança. Está estrategicamente localizado
no Bom Retiro, bairro onde é produzido quase um terço
das roupas feitas no país. Lugar certo e hora certa.
O bairro sonha em entrar na moda.
Está em discussão, além das intervenções
urbanas -reforma das calçadas e do visual das lojas,
por exemplo-, a criação de uma universidade
livre de moda.
A experiência do galpão
encaixa-se nos planos dos comerciantes locais de criar um
selo de qualidade Bom Retiro para ganhar mercados dentro e
fora do país -o que depende de trabalhadores mais treinados
e de uma imagem de sofisticação.
"Estamos aproveitando a vocação
paulistana para a moda", afirma Karlla, que, desde a
adolescência, ganhava dinheiro vendendo roupas de fabricação
própria para suas amigas, depois entrou na Ellus e
atualmente possui o seu próprio ateliê. Nessa
trajetória, surgiu a inspiração para
o projeto.
Ela acha que só chegou aonde
chegou -da adolescente, filha de imigrantes nordestinos, costurando
no quarto da filha, à empresária- porque conseguiu
uma bolsa para estudar na Faculdade Santa Marcelina.
Coluna originalmente publicada
no jornal Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.
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