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O professor Cristovam Buarque passou
12 meses no Ministério da Educação e
está agora tentando descobrir as lições
que deveria tirar dessa tão curta quanto tumultuada
experiência. Na visão dele, as lições
não são boas —nem para ele nem para o
país.
Criador do Bolsa-Escola e prestigiado
dentro e fora do Brasil, Cristovam reconhece que a passagem
pelo governo "feriu seu patrimônio de credibilidade",
por ter saído acusado, entre assessores do presidente,
de inoperante e, pior, porque a demissão foi feita
pelo telefone. "A primeira lição: eu não
imaginava que, uma vez no poder, reproduziríamos com
tanta intensidade o ambiente de intrigas da corte."
Outra lição, diz ele,
é ter aprendido sobre a distância que existe
no PT entre as promessas e o empenho de mudar a educação
brasileira. "No programa eleitoral, propúnhamos
que toda criança deveria estar na escola desde os quatro
anos. Quando, na condição de ministro, insisti
nessa idéia, fui acusado de fanfarronice." O próprio
Lula teria dito a assessores que muitas das propostas de Cristovam
seriam "fanfarronices".
Essa distância se deve, para
Cristovam, à "acomodação" do
núcleo do poder à lógica da estabilidade
econômica. "Certa vez eu disse ao Lula que o ministro
da Educação deveria defender o princípio
da estabilidade econômica, assim como o ministro da
Fazenda deveria querer que todas as crianças estivessem
na escola."
Para o senador, a maior lição,
porém, é a respeito do olhar do PT sobre a educação.
"Para mim, a educação é a chance
de uma nova abolição. É preciso fazer
disso uma mania, uma obsessão nacional. Não
é o que o governo sente e eu pensei que sentia."
Mais lições ainda estão
sob reflexão. Antes de assumir o Ministério
da Educação, muitos advertiram Cristovam de
que seria muito arriscado —o governo exigiria, naquele
momento, pessoas mais pragmáticas, menos sonhadoras.
Ele não acreditou, imaginava-se adequado ao cargo,
o homem certo no lugar certo.
Ou não era o homem certo,
ou estava no lugar errado —ou, quem sabe, as duas coisas.
"Sobre essa lição, ainda vou ter de estudar",
brinca.
Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo,
na editoria Sinapse.
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