Do lado direito, está o
rio Tocantins, que cruza a região Norte; do outro,
grandes plantações de soja, cada vez mais presentes
na paisagem. No meio, entre o sul do Maranhão e o norte
do Tocantins, um pequeno grupo de indígenas leva informações
sobre manejo ambiental para seus conterrâneos, ao mesmo
tempo em que tenta convencer pequenos produtores rurais a
permanecerem em suas terras.
Esse é o trabalho dos agentes ambientais do projeto
“Frutos do Cerrado”, que existe há 11 anos
e trabalha com o uso sustentável dos recursos naturais
encontrados no bioma. O grupo tem o apoio do Centro de Trabalho
Indigenista (CTI), com sede em Carolina (MA), e da Associação
Vyty-Cati, que representa cinco povos timbira.
Em princípio, os agentes são escolhidos em
suas tribos para acompanharem o plantio, a colheita e o pré-beneficiamento
das frutas que serão levadas para a Fábrica
FrutaSã, entidade sem fim lucrativo ligada ao projeto.
A fábrica é especializada em polpa congelada
de frutas tropicais, e a renda obtida é aplicada pela
associação em seus próprios objetivos
sociais.
“Os agentes são um elo entre a aldeia, a associação
e a fábrica”, explica Jaime Siqueira, coordenador
do projeto. A atividade é baseada no extrativismo e
no plantio consorciado, que trabalha com várias espécies
de árvores e que fornece colheita contínua ao
longo do ano. Hoje, são recolhidas anualmente mais
de 80 toneladas de frutas pela associação.
O trabalho dos agentes cresce no mesmo ritmo das pressões
sofridas em suas terras. Atualmente, das 35 milhões
de toneladas de soja produzidas no Brasil, 18 milhões
saem do Cerrado, de acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária). A procura por terras cultiváveis
leva pequenos produtores que vivem no entorno das áreas
indígenas a venderem suas terras e partirem para áreas
urbanas. Entre 1991 e 2000, a taxa de urbanização
da cidade de Carolina aumentou de 49% para quase 60%, segundo
o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, elaborado pelo
PNUD, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
e a Fundação João Pinheiro.
Os agentes já atuam, de forma informal, no trabalho
de convencimento desses pequenos proprietários. Em
médio prazo, a intenção do CTI é
transformar esses indígenas em técnicos, reconhecidos
inclusive pelo Ibama, para promoverem soluções,
fiscalizarem os limites das terras e diagnosticarem a situação
ambiental. “Eles poderão mostrar aos donos de
terras no entorno que vale mais a pena ficar e trabalhar de
forma sustentável do que receber o dinheiro e ir para
a cidade, onde muitas vezes é difícil arranjar
emprego”, explica Siqueira.
Para tentar conter o avanço da soja na região,
o centro propôs ao Ministério do Meio Ambiente,
em julho, a formação do Parque Nacional de Carolina.
Ele uniria as terras indígenas e ajudaria a estender
o trabalho de exploração sustentável,
já realizado pelas tribos, aos agricultores.
Preparação
As ações de capacitação
dos agentes duram três ou quatro dias, com prática
de manejo, poda de árvores, sistemas de plantio e beneficiamento.
Também há cursos teóricos na sede da
associação que duram de dez a 15 dias, quando
uma série de questões técnicas é
discutida entre os participantes.
Porém, é no dia-a-dia que os conhecimentos
são consolidados. Os agentes aproveitam o intercâmbio
cultural que já existe entre as tribos para transmitir
e reter as informações sobre o manejo correto
do bioma. “A intenção do projeto”,
explica Jaime, “não é proibir práticas
que fazem parte da tradição deles, como o uso
do fogo, mas discipliná-los para reduzir os impactos
e aumentar a produtividade”.
As atividades do projeto “Frutos do Cerrado”
são apoiadas pelo Programa de Pequenos Projetos (PPP),
do GEF (sigla em inglês para Fundo Global para o Meio
Ambiente), do qual participam o PNUD, o Banco Mundial e o
PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente).
CRISTINA AMORIM
da PrimaPagina
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