Cresce o mutirão dos paraenses
contra o desperdício de alimentos e a favor dos projetos
que tentam reduzir a fome de milhares de pessoas pobres. As
marcas desse movimento estão na Central de Abastecimento
do Pará (Ceasa), na Associação de Distribuidores
e Atacados do Pará (Adapa) e em dezenas de empresas.
Pessoas e empresas que fazem programas como Feira Solidária,
da Ceasa, e Mesa Brasil, do Sesc (Serviço Social do
Comércio), beneficiam 93 instituições
filantrópicas da Grande Belém. Mesmo assim,
mais de seis toneladas de hortigranjeiros ainda vão
para o lixo em Belém.
A solidariedade reúne esforços: um dá
os legumes, o outro dá a massa, o óleo, a carne...
E outro distribui. Um dos mecanismos contra o desperdício
de alimentos foi acionado em agosto do ano passado, pela Ceasa.
Já era tempo. Goreti Gomes, diretora administrativa
e de projetos especiais do órgão, admite que
cerca de 12 toneladas de alimentos iam para o lixo, quantidade
mais do que suficiente para afrontar qualquer percentual de
famintos no Brasil. Pesquisa da ONU (Organização
das Nações Unidas) aponta para 50 milhões
deles. Os números dizem também que 40% dos famintos
são crianças e adolescentes. Segundo a ONU,
280 crianças morrem diariamente no Brasil antes de
completar um ano, em conseqüência de problemas
gerados pela fome.
Para combater o desperdício a Ceasa firmou parcerias.
Criou a Feira Solidária e com ela o Sopão da
Ceasa, em agosto de 2003. Além do sopão, o programa
ainda distribui hortigranjeiros “in natura”, beneficiando
44 entidades filantrópicas. Tudo começou com
300 pratos. Passou para 600 e, depois, para mil, alcançando,
hoje, a casa dos dois mil.
Nos cálculos da diretora administrativa, os alimentos
que antes eram jogados no lixo já produziram 155.200
pratos de sopa de 300 a 600 calorias cada nesses 13 meses
de ação efetiva. Foram consumidos 96.646 quilos
de alimentos. O número de pessoas beneficiadas é
incalculável.
Lucilele Farinha, presidente da Ceasa, lembra que o combate
ao desperdício de alimentos só vai ter fim quando
o órgão conseguir zerar o que é aproveitável.
E faz cara feia quando as estatísticas apontam para
as seis toneladas de hortigranjeiros que ainda não
são aproveitadas pela Feira Solidária. Ela diz
que já tem projetos em andamento para zerar as perdas,
mas precisa de mais parceiros para isso A Feira Ribeirinha,
que atende aos moradores das margens do Rio Guamá,
no entorno da Ceasa, soma no processo de resgate da dignidade
dos empobrecidos, através não só da distribuição
de alimentos como também na implementações
de ações educacionais e de valorização
dos meios de sobrevivência dessa gente.
Para colocar os dois mil pratos na rua, Farinha lembra que
não basta colocar hortigranjeiros na água quente.
Há um processo custoso. O trabalho conta até
com serviço de entrega, em vasilhames especiais, ensacolados,
nas entidades beneficiadas. Passa pelo acompanhamento de técnicos
e profissionais de nutrição. E, não aproveita
alimentos estragados. “Os alimentos aproveitados são
aqueles ‘in natura’, que possuem perdas em seu
valor comercial, ocorridas principalmente durante o transporte,
mas que têm boa qualidade nutricional para o consumo
humano”, explica.
Todo o Estado
Além do Sopão da Ceasa, que congrega
os proprietários dos boxes localizados na área
do Utinga e os 110 associados da Adapa, os donos dos supermercados
direcionam produtos e mercadorias, nas mesmas condições
dos da Ceasa, a entidades filantrópicas.
Os alimentos com perdas de valor comercial viram ingredientes
de sopa ou são embalados para distribuição.
Na Ceasa, por exemplo, 25 funcionários trabalham na
arrecadação juntos aos boxes, seleção,
lavagem (com hipoclorito), embalagem ou trituração
na cozinha. Para o sopão, a Socipe (Cooperativa de
Indústria Pecuária no Pará), outra parceira,
doa 350 kg de carne por semana.
Outros ingredientes da sopa, não vendidos na Ceasa,
são doados pela Adapa. Segundo a secretária
executiva da associação, Gisele Lima de Queiroz,
de 15 em 15 dias, os associados doam, em média, 220
kg de arroz, feijão, massas, etc. Os produtos são
comprados nos supermercados, com dinheiro do próprio
caixa. A Adapa ajuda ainda outras instituições,
como a creche espírita Jardim das Oliveiras e projetos
como Natal da Solidariedade e Fome Zero, para o qual, num
só jantar no final de 2003, a entidade arrecadou 10
toneladas de alimentos.
Para Carlos Limão, presidente da Associação
Paraense de Supermercados, a rede paraense adota uma linha
independente no processo de evitar desperdício de alimentos.
A associação não é parceira do
Feira Solidária, mas distribui mercadorias sem valor
comercial diretamente à rede de entidades filantrópicas.
Ele cita o o exemplo do seu supermercado, o Amazônia,
que doa toda semana centenas de quilos de diversos produtos
à Casa da Amizade. “Nada que ainda é consumível
é desperdiçado nos supermercados paraenses.
Tudo, de acordo com decisões tomadas por cada um, é
direcionado para o bem comum, contra o desperdício
e a favor do combate à fome.
Mesa Brasil - Este programa do Sesc foi implantado em Belém
no último dia 18, mas funciona desde julho. Nesse período
já arrecadou 200 toneladas de alimentos. Reconhecido
pelo Governo Federal, o programa, que também redistribui
alimentos excedentes próprios para o consumo ou sem
valor comercial, tem perspectiva de se expandir por todo o
Pará. “A recepção do empresariado
tem sido fantástica”, avalia a nutricionista
Nádia Helena Santos, coordenadora.
Hoje, diz Nádia Helena, o Mesa Brasil já está
implantado na capital, em Ananindeua, Marituba e Castanhal.No
primeiro mês, houve adesão de apenas três
empresas, depois passou para oito e, atualmente, congrega
57 empresas, beneficiando 49 instituições.
O programa integra o Sesc à empresas, instituições
sociais e voluntários, no esforço de diminuição
das carências alimentares e do desperdício de
alimentos. A coordenadora lembra que o Mesa Brasil Sesc, como
ação emergencial, baseia-se no princípio,
já aceito internacionalmente, de que a alimentação
é direito fundamental de todo e qualquer cidadão.
O programa do Sesc tem dois modelos operacionais: Banco de
Alimentos e Colheita Urbana. O primeiro recolhe o alimento,
transportando-o para uma área de armazenamento, onde
há seleção e as instituições
recolhem a doação. Trabalha com estoques de
alimentos, mesmo que por curtos períodos. A Colheita
Urbana transporta e seleciona os alimentos, faz a ponte entre
empresas que doam e entidades que recebem e não atua
com estoques de alimentos.
Contra o desperdício, fique sabendo:
Que uma casa brasileira desperdiça, em média,
20% dos alimentos que compra semanalmente. Isso representa
uma perda de 1 bilhão de dólares por ano, ou
o suficiente para alimentar 500 mil famílias.
Que se uma família desperdiça 350 gramas de
alimentos por dia, em um mês acaba jogando fora pouco
mais de 10 quilos de comida, quantidade suficiente para fornecer
uma refeição para 30 pessoas.
3. Que no Brasil perto de 50 milhões de pessoas convivem
com a fome e a desnutrição, pelos dados da ONU.
E que 40% dos famintos têm menos de 15 anos.
4. Que, segundo dados da ONU, 280 crianças morrem
diariamente no Brasil antes de completar um ano, em conseqüência
de problemas gerados pela desnutrição.
5. Que, se em uma única refeição, você
deixar 100 gramas de alimento no prato, ao ano terá
desperdiçado 36,5 quilos de alimentos e no decorrer
de 60 anos serão 2.190 quilos desprezados, quantidade
suficiente para a alimentação de 5.400 crianças
com uma refeição de 400 gramas. Ou ainda, para
garantir o almoço de 45 famílias de quatro pessoas
durante um mês inteiro. Se 20 mil pessoas fizerem o
mesmo ao longo de 60 anos, 10 mil crianças terão
acesso a meio quilo de alimento durante os primeiros 24 anos
de suas vidas.
6. Que você não desperdiça se colocar
no prato apenas aquilo que realmente você tem certeza
que vai comer.
7. Que se sobrar algum alimento do almoço, você
pode reciclar: bem temperadas, as sobras podem se transformar
em deliciosos bolinhos, sopas e risotos.
8. Que o Brasil é um dos maiores produtores de alimento
do mundo, com uma das áreas agricultáveis mais
abrangentes do planeta, sem incidentes naturais sérios
e com sol o ano inteiro.
As informações são
do Instituto Akatu.
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