Invertendo a lógica tradicional,
a Seção de Cães de Guerra do 3º
Batalhão de Polícia do Exército, na Capital,
vem auxiliando crianças vítimas de violência
doméstica a recuperarem a paz e a auto-estima. Em um
projeto pioneiro, militares e voluntários apostam na
interação com os mascotes como caminho para
romper as barreiras erguidas por maus-tratos.
Fruto de uma parceria entre uma equipe multidisciplinar de
profissionais, o Exército e a Casa de Passagem da Fundação
de Assistência Social e Cidadania (Fasc) da Capital,
o projeto se iniciou em outubro. As atividades ocorrem duas
manhãs por semana no quartel, beneficiando 14 dos 35
abrigados na Casa de Passagem em decorrência de agressões,
abuso sexual ou negligência sofridos dentro da família.
Interagindo com labradores, poodle e vira-lata, as crianças
reforçam os vínculos afetivos, reaprendendo
noções como respeito e cuidado. Aos poucos,
superam limites impostos pela dor. Antes de participar do
projeto, Jonas (nome fictício), quatro anos, não
falava. Com ruídos incompreensíveis, demonstrava
o trauma pelo histórico de violência que provocou
sua retirada do convívio familiar, que incluía
marcas de queimadura de cigarro espalhados pelo corpo. Depois
de três sessões de cinoterapia, marcadas por
atividades como correr atrás de bolinhas, acariciar
os bichos e montar nos cães, vieram as primeiras palavras:
"Una, una", disse, chamando a cadela labrador Luna.
Conquistas como essa alimentam o entusiasmo dos voluntários
envolvidos no projeto, como a psicóloga Lavínia
Palma. Os participantes mostram-se mais afetivos, sociáveis
e tranqüilos.
Com os cães, os pequenos maltratados e rejeitados
no passado perdem o medo de estabelecer novos vínculos.
Aprendem que não pode maltratar de quem se gosta, interrompendo
a espiral de violência que tende a transformar a vítima
em novo agressor.
"A gente percebe que hoje eles estão mais respeitosos
e ajudam mais uns aos outros. No caso de Jonas, ele aqui sentiu
a necessidade de se expressar, antes não via sentido
em falar", diz Lavínia.
O tenente Pedro Jaime Simon Ferraz, que também é
veterinário, foi quem idealizou o projeto. Depois de
trabalhar com ecoterapia em um quartel em Osório, teve
a idéia de realizar atividades semelhantes com cães
no 3º BPE. A partir de contatos com amigos, começou
a formar a rede de voluntários. Hoje, duas fonoaudiólogas
e uma psicóloga o acompanham.
"Se tivéssemos mais voluntários e algum
tipo de patrocínio, como rações para
os animais ou lanche para as crianças, poderíamos
ampliar o número de crianças atendidas. Os resultados
são fantásticos", analisa Ferraz.
Saiba mais
O que você pode fazer
- Quem quiser colaborar com o projeto, atuando como voluntário
ou fazendo doações de ração ou
alimentos para o lanche das crianças, pode entrar em
contato pelo e-mail planetdog@ig.com.br ou fone (51) 9961-3068,
com Lavínia
Como funciona o projeto
- O Exército oferece o transporte, o local,
o lanche e o veterinário. As crianças são
da Casa de Passagem, e os voluntários realizam o trabalho
terapêutico
- Duas vezes por semana, uma Kombi do Exército busca
uma turma de crianças
- Na Seção de Cães de Guerra, um veterinário
do Exército e voluntários trabalham com as crianças
por intermédio de cães
- Os animais que participam do treinamento passam por avaliações
comportamentais do veterinário.
- A maioria dos animais é levada pelos próprios
voluntários, pois os cães do Exército
são treinados para funções de guarda
e, por isso, costumam ser agressivos
As informações são
do Zero Hora.
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