HOME | NOTÍCIAS | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 

criatividade
12/08/2004
Jovens utilizam muros para fazer campanha sobre sexo seguro

Vanessa Sayuri Nakasato

Estudantes dos ensinos fundamental e médio da rede estadual de Fortaleza, no Ceará, acharam um jeito bem diferente de fazer campanha sobre sexo seguro: pintar os muros de suas escolas. Com desenhos de coração, arco-íris e mensagens, os jovens tentam falar aos colegas e à sociedade da importância de se prevenir contra a gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).

“Se você ama, você cuida”, “Não importa se você gosta de homem ou de mulher, use camisinha”, “Procure um posto de saúde”, “Homossexualismo não é doença”. Estas são algumas das mensagens do projeto Pintou no Muro, Tô na Fita!, do Instituto de Juventude Contemporânea. Trata-se de uma organização não-governamental (ONG) composta e coordenada por jovens, que tem por objetivo desenvolver a cidadania e o protagonismo juvenil.

Coordenador do projeto e da campanha, Fábio Mendes conta que a idéia de pintar os muros nasceu depois de a ONG perceber que a população - os jovens, em especial - sente vergonha em procurar informações relacionadas ao sexo e à sexualidade.

Embora tenha sido criado este ano, o projeto já ilustrou a fachada de cinco escolas em bairros diferentes. Elas foram pintadas por 40 jovens que participam da campanha Sexo Seguro, Tá Ligado?, idealizada pela ONG, apoiada pelo Ministério da Saúde e financiada pela Unesco.

“No ano passado, selecionamos um grupo de estudantes de enfermagem da Universidade Federal do Ceará para conversar individualmente com os alunos das escolas participantes do Sexo Seguro. Pessoas de fora ficaram sabendo e nos procuraram. Elas também tinham mil dúvidas e queriam atendimento individual. A partir daí entendemos que não bastava existir a campanha. Ela tinha de chegar, de alguma forma, até a comunidade”, disse o coordenador do projeto.

Segundo Mendes, a proposta do Pintou no Muro, Tô na Fita! não é banalizar o sexo e nem fazer apologia ao homossexualismo. Muito pelo contrário. A intenção é apresentar o ato sexual como uma forma de amor, algo que mereça cuidado e carinho. Até dezembro, mais cinco muros serão pintados.

Campanha
A campanha Sexo Seguro, Tá Ligado? existe há três anos e tem como meta formar jovens multiplicadores da rede pública de ensino. Ela começou atuando em um bairro da capital cearense e, hoje, atende 15 escolas de toda a cidade. Todo início de ano são selecionados quatro alunos, de 13 a 25 anos, de cada escola participante. Eles são treinados, durante dez meses, para debaterem educação sexual em suas escolas e comunidade.

No primeiro semestre, eles só têm aulas teóricas. Aprendem e se aprofundam em assuntos como direitos sexuais reprodutivos, diversidade sexual, juventude, DSTs, HIV/AIDS, afetividade e sexualidade. No segundo semestre, além dos muros, os jovens organizam e lideram, em suas escolas, o que eles chamam de “roda de conversa”. São grupos de 50 alunos interessados que se reúnem, uma vez a cada seis meses, para discutir o assunto e tirar suas dúvidas.

A campanha também distribui cerca de quatro mil preservativos, por mês, nas escolas inscritas. Mil jovens, 500 meninos e 500 meninas, são cadastrados para receberem três camisinhas masculinas e duas femininas mensalmente. Elas são fornecidas pelo Ministério da Saúde e distribuídas pela Secretaria Municipal da Saúde.

“O índice de gravidez na adolescência é muito alto em Fortaleza. Nós sabemos que distribuir preservativos não vai resolver esse problema. No entanto, é uma forma de incentivar os jovens a se cuidarem. Parece mentira, mas tem gente aqui que não usa camisinha porque não sabe onde consegui-la”, comenta Mendes.

Levar o tema sexo seguro às escolas tem agradado não só a sociedade, mas as escolas em geral. Conforme o coordenador da campanha, os jovens que não encontram informações na família, buscam na escola. Entretanto, nem sempre obtêm respostas. “Para alguns professores, somos uma espécie de “luz no fim do túnel”, pois se eles não conversam com os alunos sobre sexo, nós conversamos.”

E não é só isso. A maior parte dos adolescentes que participa da campanha ou das rodas de conversa continua o trabalho no ano seguinte, voluntariamente. Eles orientam colegas, vizinhos, conhecidos, e angariam, sozinhos, preservativos junto à prefeitura para distribuir a quem precisa.

O patrocínio da Unesco termina no final do ano e, atualmente, há 70 escolas públicas inscritas para serem atendidas pela ONG. “Por enquanto, não temos nada certo para o ano que vem. Mas brigaremos para que o próximo prefeito adote o sexo seguro como uma política pública necessária”, finaliza Mendes.

 
 
 

NOTÍCIAS ANTERIORES
11/08/2004 Comunidade pobre em bairro rico vai desaparecer para dar lugar ao metrô
11/08/2004
Policiamento comunitário ainda não chegou às residências
10/08/2004
Primeira favela carioca com título de propriedade vive dias de valorização
06/08/2004 Manual mostra onde estão os fundos públicos
05/08/2004 Interesse pelo trabalho voluntário cresce no Brasil
05/08/2004
Minas, Rio e Ceará levam prêmio da Fundação Abrinq
05/08/2004 Balé melhora vida de meninas carentes
05/08/2004
Projeto Índio quer Paz resgata e preserva cultura indígena
05/08/2004 Artista desperta o olhar dos jovens para questão ambiental
04/08/2004 Sanitário seco transforma dejetos em adubo