Vanessa Sayuri
Nakasato
Estudantes dos ensinos fundamental e médio da rede
estadual de Fortaleza, no Ceará, acharam um jeito bem
diferente de fazer campanha sobre sexo seguro: pintar os muros
de suas escolas. Com desenhos de coração, arco-íris
e mensagens, os jovens tentam falar aos colegas e à
sociedade da importância de se prevenir contra a gravidez
indesejada e doenças sexualmente transmissíveis
(DSTs).
“Se você ama, você cuida”, “Não
importa se você gosta de homem ou de mulher, use camisinha”,
“Procure um posto de saúde”, “Homossexualismo
não é doença”. Estas são
algumas das mensagens do projeto Pintou no Muro, Tô
na Fita!, do Instituto de Juventude Contemporânea. Trata-se
de uma organização não-governamental
(ONG) composta e coordenada por jovens, que tem por objetivo
desenvolver a cidadania e o protagonismo juvenil.
Coordenador do projeto e da campanha, Fábio Mendes
conta que a idéia de pintar os muros nasceu depois
de a ONG perceber que a população - os jovens,
em especial - sente vergonha em procurar informações
relacionadas ao sexo e à sexualidade.
Embora tenha sido criado este ano, o projeto já ilustrou
a fachada de cinco escolas em bairros diferentes. Elas foram
pintadas por 40 jovens que participam da campanha Sexo Seguro,
Tá Ligado?, idealizada pela ONG, apoiada pelo Ministério
da Saúde e financiada pela Unesco.
“No ano passado, selecionamos um grupo de estudantes
de enfermagem da Universidade Federal do Ceará para
conversar individualmente com os alunos das escolas participantes
do Sexo Seguro. Pessoas de fora ficaram sabendo e nos procuraram.
Elas também tinham mil dúvidas e queriam atendimento
individual. A partir daí entendemos que não
bastava existir a campanha. Ela tinha de chegar, de alguma
forma, até a comunidade”, disse o coordenador
do projeto.
Segundo Mendes, a proposta do Pintou no Muro, Tô na
Fita! não é banalizar o sexo e nem fazer apologia
ao homossexualismo. Muito pelo contrário. A intenção
é apresentar o ato sexual como uma forma de amor, algo
que mereça cuidado e carinho. Até dezembro,
mais cinco muros serão pintados.
Campanha
A campanha Sexo Seguro, Tá Ligado? existe há
três anos e tem como meta formar jovens multiplicadores
da rede pública de ensino. Ela começou atuando
em um bairro da capital cearense e, hoje, atende 15 escolas
de toda a cidade. Todo início de ano são selecionados
quatro alunos, de 13 a 25 anos, de cada escola participante.
Eles são treinados, durante dez meses, para debaterem
educação sexual em suas escolas e comunidade.
No primeiro semestre, eles só têm aulas teóricas.
Aprendem e se aprofundam em assuntos como direitos sexuais
reprodutivos, diversidade sexual, juventude, DSTs, HIV/AIDS,
afetividade e sexualidade. No segundo semestre, além
dos muros, os jovens organizam e lideram, em suas escolas,
o que eles chamam de “roda de conversa”. São
grupos de 50 alunos interessados que se reúnem, uma
vez a cada seis meses, para discutir o assunto e tirar suas
dúvidas.
A campanha também distribui cerca de quatro mil preservativos,
por mês, nas escolas inscritas. Mil jovens, 500 meninos
e 500 meninas, são cadastrados para receberem três
camisinhas masculinas e duas femininas mensalmente. Elas são
fornecidas pelo Ministério da Saúde e distribuídas
pela Secretaria Municipal da Saúde.
“O índice de gravidez na adolescência
é muito alto em Fortaleza. Nós sabemos que distribuir
preservativos não vai resolver esse problema. No entanto,
é uma forma de incentivar os jovens a se cuidarem.
Parece mentira, mas tem gente aqui que não usa camisinha
porque não sabe onde consegui-la”, comenta Mendes.
Levar o tema sexo seguro às escolas tem agradado não
só a sociedade, mas as escolas em geral. Conforme o
coordenador da campanha, os jovens que não encontram
informações na família, buscam na escola.
Entretanto, nem sempre obtêm respostas. “Para
alguns professores, somos uma espécie de “luz
no fim do túnel”, pois se eles não conversam
com os alunos sobre sexo, nós conversamos.”
E não é só isso. A maior parte dos adolescentes
que participa da campanha ou das rodas de conversa continua
o trabalho no ano seguinte, voluntariamente. Eles orientam
colegas, vizinhos, conhecidos, e angariam, sozinhos, preservativos
junto à prefeitura para distribuir a quem precisa.
O patrocínio da Unesco termina no final do ano e,
atualmente, há 70 escolas públicas inscritas
para serem atendidas pela ONG. “Por enquanto, não
temos nada certo para o ano que vem. Mas brigaremos para que
o próximo prefeito adote o sexo seguro como uma política
pública necessária”, finaliza Mendes.
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