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entrevista
16/08/2004
Amigos criam ONG que patrocina estudo a jovens de baixa renda

Foi numa conversa descontraída numa mesa de bar que os amigos de infância Thomas e Guy resolveram agir. O primeiro entrou com o projeto de uma ONG, engavetado há cerca de dois anos. Faltava foco. O segundo ajudou a encontrá-lo. Os dois saíram para vender a idéia e aprender como se faz. Pouco depois, nasceu de fato, a Vida Bela, organização-não-governamental que patrocina bolsas de estudos no ensino superior para candidatos de baixa renda.

Confira a entrevista dupla com os criadores da ONG e com os dois primeiros bolsistas, jovens da Fundação Gol de Letra.

Thomas Rideg, hoje com 31, e Guy Rossi, 26, tiveram experiências parecidas. As viagens para fora do país e o contato com outras culturas foram fundamentais para despertar em ambos a consciência da realidade no país onde nasceram. Os desejos de mudança, de justiça social e de igualdade de oportunidades motivaram os dois amigos a seguir em frente com o projeto. A grande certeza: o caminho para reverter às disparidades existentes na sociedade brasileira é a educação universitária. Na entrevista a seguir, eles contam um pouco mais da ainda curta história da ONG e dos primeiros bolsistas, e apontam os maiores desafios da Vida Bela atualmente.


Como surgiu a idéia da ONG?
Thomas: O nascimento da idéia tem cerca de quatro anos. Por ter vivido em outros países, pude perceber ainda mais a desigualdade de oportunidades existentes no Brasil, além de vários problemas em todas as esferas da sociedade brasileira. A gota d’água foi dentro de mim – percebi que idealizações sozinhas não obtêm resultado algum. O projeto inicial era mais abrangente, com propostas para todos os setores e tipos de problemas – uma espécie de mini ONU. Passados dois anos, o Guy me ajudou a focar na educação e nas bolsas para o ensino superior.
Guy: Achávamos que distribuir bolsas de estudo aleatoriamente até poderia funcionar, mas nossa intenção era fazer algo que tivesse um impacto forte o suficiente para causar uma mudança na sociedade. A educação é o caminho e o acesso à universidade, o melhor meio de melhorar a sociedade, pois cidadãos mais conscientes serão formados e atuarão de forma efetiva com esse objetivo.

Quais foram os primeiros passos?
Guy: A idéia do Thomas era captar recursos no exterior e aplicá-los aqui – essa era a premissa. Começamos de fato em janeiro de 2003 quando resolvemos criar um projeto piloto com um candidato apenas. O escolhido foi o Luis Marcelo e não tínhamos muito tempo: ele tinha passado no vestibular e precisava fazer a matrícula. Tínhamos que começar a ‘bancar’ os estudos dele, mesmo que fosse do nosso próprio bolso. E foi assim mesmo.
Começamos a envolver nossos amigos e parentes, informalmente. Percebemos que, aqueles aos quais apresentávamos a idéia, na hora, queriam contribuir.

Como foi a seleção do primeiro candidato?
Guy: Foi tudo meio no susto. Fomos atrás de outras ongs para aprender com a experiência alheia e pular algumas etapas. Achamos a Gol de Letra e começamos a conversar com a Cris (Cristina Saito, desenvolvimento institucional da FGL). Ela nos disse que a idéia era boa e que devíamos seguir em frente. Surgiu a nossa primeira grande dúvida: “o que vem primeiro, o recurso ou o candidato?”
Então a Cris indicou o Marcelo, que era monitor de informática da fundação, e fomos conversar com ele, na Gol de Letra mesmo. Encontramos um jovem excepcional, muito inteligente e capaz, que tinha feito o ensino médio em escola pública; o pai e a mãe estavam desempregados e, apesar de todas as dificuldades, tinha uma consciência de sociedade e civilidade muito grandes. Ele se tornou o nosso projeto piloto e, ao mesmo tempo, o melhor marketing – ele ‘venderia’ a causa. Levantamos os recursos necessários, ele fez a matrícula na faculdade na mesma semana. Tudo na maior correria.

Quais são os pré-requisitos para o jovem se candidatar a uma bolsa de estudos?
Thomas: Quando escolhemos educação, vimos que é o melhor canal para melhorar a sociedade, a ação com o maior número de reações positivas possíveis. Mas é extremamente importante a escolha do candidato, pois ele deve ter consciência da sociedade em que vive, e principalmente, o desejo de disseminar o conhecimento.
Guy: O candidato também tem que ter o preparo e capacidade para cursar uma faculdade, caso contrário, não vai conseguir acompanhar, e tem que ter sido aprovado no vestibular de alguma instituição. O Marcelo (o primeiro bolsista) é a glorificação desse exemplo, voltado para ajudar a família, os amigos e a comunidade. Tudo o que ele aprende, já tenta passar aos colegas mais novos. E é assim que tem que ser: a gente ‘investe’ em um, mas o ‘investimento’ atinge cinco, dez... Esse é o efeito que a gente pretende.

A Thaís (segunda bolsista escolhida) e o Marcelo estão em programas diferentes. Como eles funcionam?
Guy: Eles também foram selecionados de forma diferente. A escolha do Marcelo foi muito feliz, pois quando o encontramos percebemos que ele era aquilo que a gente nem sabia que queria. Conversando com ele fomos traçando o que o candidato tem que ter pra ser contemplado com essa oportunidade...
Thomas: No caso da Thaís, o processo foi mais profissional. Criamos um guia de admissão, com os pré-requisitos necessários, que nos orienta na hora de selecionar os candidatos para a entrevista pessoal com uma colega psicóloga, que faz a triagem para ver se o candidato em potencial vai dar o retorno que a gente espera. Aos poucos, fomos aperfeiçoando esse processo.
O Marcelo faz parte do programa Vida Acadêmica e sua bolsa é mantida com recursos de contribuições de pessoas físicas. A Thaís está no programa Adote um Aluno, com bolsa mantida com recursos de uma empresa.

A situação da Vida Bela hoje está dentro do que você esperava quando fez o projeto?
Thomas: Eu esperava que ela já tivesse um alcance maior e um número maior de bolsistas. Por um lado, a Vida Bela já obteve um bom reconhecimento, mesmo com pouco tempo de existência Temos uma responsabilidade enorme e não podemos correr o risco de perder a credibilidade, pois a nossa ação atinge diretamente a vida desses jovens.

Quais são os maiores desafios da Vida Bela atualmente?
Guy: A ONG Vida Bela existe de fato, no papel, desde agosto de 2003. Já temos dois bolsistas e nosso objetivo é conseguir mais cinco até agosto, quando ela completa um ano. Chegamos ao ponto crucial em que temos que sair da nossa rodinha de amigos e abrir pro mundo, dar o próximo passo. Precisamos focar muito e vamos ver até quando dura o nosso elo.
Thomas: É importante crescer com cuidado. Precisamos sim aumentar a captação de recursos para podermos financiar os estudos de mais jovens. E tão importante quanto é garantir que esses alunos se formem. Esse é o nosso compromisso. Ao mesmo tempo, manter o comprometimento e envolvimento da equipe é fundamental para o crescimento da nossa ONG.

Mas a ONG é relativamente nova e seu nome não é muito conhecido e, ao mesmo tempo, vocês têm planos de estender a atuação da ONG para a América Latina. Qual é a estratégia de divulgação e ação para atingir tanto os candidatos em potencial como os parceiros/financiadores das bolsas?
Thomas: Não adianta fazer toda a divulgação e não ter como atender à demanda. Isso afeta a nossa credibilidade. A minha proposta inicial era captar recursos no exterior e aplicá-los no Brasil. Pensei nisso porque não é da cultura do brasileiro, do latino-americano em geral, fazer esse tipo de investimento. Isso é muito mais comum nas sociedades européias, por exemplo. Usamos muito o fato da empresa na qual trabalhamos ser uma multinacional como ponto de alavancagem – usar a rede pessoal para criar uma base e dar o respaldo para captar recursos no exterior de forma eficiente.
Guy: A captação é uma questão crucial. Há pouco tempo, 100% dos recursos eram gerados dentro do nosso círculo social, familiares, amigos, conhecidos, nós mesmos. O site é fundamental para divulgar além do nosso círculo de ação e chegar aos ouvidos certos, tanto dos possíveis patrocinadores e colaboradores quanto dos candidatos em potencial.
Existe uma demanda enorme por bolsas de estudos e um número muito grande de pessoas que tem interesse nelas, mas não se enquadram no perfil do nosso candidato. Também não temos condições de atender a todos e não podemos correr o risco de apenas tentar e abandonar o barco no meio do caminho.

Por que Vida Bela? O Projeto foi batizado logo no início com esse nome?
Thomas: Esse nome é basicamente otimista. Eu batizei o meu projeto inicial assim por acreditar que através de algumas ações podemos tornar a vida bem melhor, tornar a Vida Bela de verdade. Além da sonoridade e da fácil pronúncia em outras línguas, esse nome resume o nosso objetivo perfeitamente. É de fácil associação, e sempre positiva. Assim como o girassol, que só remete a coisas boas. E é isso que queremos transmitir pra as pessoas.
O mais gratificante é percebermos que estamos transformando a vida dos outros para melhor. E as nossas vidas também.

Como ajudar:
Depósito em conta corrente:
Associação Vida Bela
CNPJ: 05.784.544/0001-05
Unibanco - Ag 0471 - C/c 101292-4
www.vidabela.org



As informações são da Fundação Gol de Letra.

 
 
 

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