Aos 29 anos, o ganhador da segunda
medalha de bronze para o Brasil nos Jogos Olímpicos
tem um discurso diferente da maioria dos atletas. Não
há uma única conversa que ele não desvie
para seu assunto preferido: o projeto Reação,
a ONG que fundou com amigos para dar assistência a mais
de 500 crianças em três bairros miseráveis
do Rio. Conheça um pouco das idéias de Flávio
Canto.
Quando começou esta preocupação
com o social?
Flávio Canto - Depois de
Sydney (Canto não se classificou) percebi que o judô
deveria ser parte da minha vida e não a própria
vida. Há coisas muito mais importantes do que ganhar
uma medalha olímpica. A gente precisa sacudir a inércia.
Escolhi o judô porque é o que sei fazer melhor.
Posso até ser chamado de piegas, mas me preocupa muito
viver num país tão desigual, tão cheio
de problemas
Quantas crianças sua ONG atende?
Canto - São 400 na Cidade de Deus, 140 na
Rocinha e mais umas tantas na Lagoa.
Como você entrou nisso?
Canto - Quando vi que deveria fazer alguma coisa,
falei a um amigo que gostaria de ser voluntário em
alguma iniciativa. Ele me convidou. Dois anos depois, a prefeitura,
que era parceira, desistiu. Vi então que teria de dar
continuidade. Convidei uns amigos, arrumamos 32 patrocinadores
e criamos a ONG Reação.
Você prepara uma festa pela vitória
de hoje?
Canto - Não sou muito disso. Aprendi que o
sucesso ou o fracasso devem durar dois dias apenas. Depois,
é esquecer tudo e tocar a vida.
E as crianças?
Canto - Elas certamente gostarão. Depois do
Pan de Winnipeg, elas seguravam a medalha. Vão fazer
isso de novo.
Você é crítico da situação
do esporte. O que deve mudar?
Canto - Hoje, não dá para fazer projetos.
Tudo fica na dependência dos resultados. É incrível
que o país não tenha ainda uma lei de incentivo
fiscal destinada ao esporte. Sem ela, vamos penar. O judô,
por exemplo, é muito forte no Brasil, mas o que você
vê são cada vez mais atletas parando por falta
de incentivo. Os patrocinadores só querem saber dos
campeões e esquecem da base. Melhorou um pouco, precisa
melhorar bem mais.
Você pensa nisso com a ONG?
Canto - Meu projeto é social, é de
inclusão. Fazer campeões é conseqüência.
O mais importante é trazer estas pessoas de volta para
a sociedade. Meu objetivo de vida é ser uma pessoa
útil.
As informações são
do jornal Zero Hora.
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