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criatividade
18/08/2004
Cursos livres ensinam o que faltou na escola

A aula começa, mas os alunos não tomam notas nem o professor assume a atitude de superior hierárquico. Estão todos sentados em confortáveis poltronas como numa conversa informal entre amigos.

Às vezes a aula é interrompida para um vinho. Ela pode variar de uma simples explicação sobre o tema filosófico da caverna platônica a uma complexa discussão sobre singularidade no universo quântico, passando pelo erotismo de Don Juan e suas implicações na chamada literatura libertina.

A aula, claro, não está sendo ministrada em nenhuma universidade, mas na recém-inaugurada Casa do Saber, em São Paulo, instituição que, em quatro meses de existência, já conta com mais de mil alunos inscritos nos 36 cursos oferecidos neste semestre.

Como a Casa do Saber, criada por quatro sócios que se reuniam informalmente para estudar, vários outros cursos livres de difusão cultural estão atraindo uma seleta platéia formada por executivos, profissionais liberais e socialites. Há professores para todas as disciplinas, da pintura à música, passando por literatura, cinema, teatro, política, filosofia, psicanálise e até religião.

O interessado pode aprender sobre Guimarães Rosa em quatro aulas e, no mês seguinte, começar um curso sobre o cinema de Antonioni, o teatro de Artaud ou a pintura de Mark Rothko, passando depois para a música de Schoenberg ou a poesia concreta dos irmãos Campos com a atriz Maria Fernanda Cândido – isso mesmo, a bonitona de Um só Coração e uma das sócias da Casa do Saber.

Em tempo: os outros sócios, o secretário de Educação Gabriel Chalita e o editor Luiz Felipe D’Ávila, criador da revista Bravo, também dão aulas este semestre, mas a lotação está esgotada.

Nomes respeitados
Os cursos livres são o maior fenômeno da temporada. Ministrados por respeitados intelectuais paulistas – críticos como Rodrigo Naves, Inácio Araújo e Davi Arrigucci Jr., diretores de teatro como Ulysses Cruz, professores universitários como José Miguel Wisnik e artistas como o pintor Paulo Pasta –, esses cursos de curta duração são dirigidos a pessoas sem tempo para estudar exaustivamente um tema ou um autor e que procuram, em função disso, especialistas na área.

Por vezes os cursos são substituídos por aulas in loco, como na escola de arte do Masp, que promove visitas guiadas ao acervo, ou nos passeios organizados pelo Instituto de Arte na Escola, dirigido pela empresária Evelyn Ioschpe. Com vasta experiência na área, a ex-diretora de Educação da Bienal de São Paulo costuma reunir um grupo de socialites interessadas no assunto, que hoje dividem o tempo entre compras na Daslu e telas de Volpi.

O fenômeno tem explicações diversas. Uma delas aponta o difícil diálogo interdisciplinar no meio acadêmico. Economistas concluem o curso universitário sem conhecer uma só nota musical. Dentistas mexem com cirurgia estética, mas são incapazes de apontar diferenças entre Mira Schendel e Eduardo Sued. Engenheiros erguem pontes sem nunca ter lido uma só linha de Manuel Bandeira.

Legitimação e falta de tempo
O colunista César Giobbi, do Estado, observa que jovens executivos, transformados em novos ricos, estão entre os primeiros a buscar a legitimação social pela cultura, lotando esses cursos rápidos. As megaexposições, conclui Giobbi, acabaram colocando em pauta discussões sobre temas pouco familiares nas rodas sociais. A solução, diz, é procurar um mestre no assunto. Ou ficar fora da conversa (e perder dinheiro, status ou ambos).

Há outras explicações para o fenômeno. São Paulo é uma cidade com trânsito agitado e pessoas ocupadas demais para voltar à universidade. A pintora Liana Virdis, casada com um médico, arranjou um meio de estudar história da arte e cinema ao mesmo tempo, recuperando as horas perdidas num curso superior malfeito.

“No tempo em que estudei artes visuais, isto é, nos anos 70, os professores só falavam em arte conceitual e performance, praticamente proibindo discussões sobre pintura e outras mídias.” A alternativa para compensar essa deficiente formação foi procurar os cursos dos críticos Rodrigo Naves e Inácio Araújo, também com lotação esgotada até o fim do ano.


As informações são da Agência Estado.

 
 
 

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