Depois
de amargar quedas consecutivas desde o final de 2001, o consumo
das famílias, o principal motor do PIB, finalmente
se recuperou, registrando expansão de 3,1% no primeiro
semestre em relação ao mesmo período
de 2003.
No primeiro semestre do ano passado a retração
chegou a 4,5%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística). Com peso de 57% na formação
do PIB, a demanda das famílias teve um desempenho ainda
melhor no segundo trimestre -alta de 5% na comparação
com igual período de 2003.
Para especialistas ouvidos pela Folha, sem uma retomada desse
item seria impossível o país sonhar em manter
uma rota de crescimento sustentável.
O crédito -mais farto e com prazos maiores- foi o
principal propulsor do crescimento das famílias. "Quem
não vai comprar com a possibilidade de pagar em até
dez vezes sem juros?", questiona Roberto Olinto, gerente
das Contas Nacionais do IBGE.
Embora estável nos últimos meses em 16%, os
juros estão mais baixos do que em 2003, o que impulsionou
especialmente a venda de eletrodomésticos, móveis
e veículos. Com isso, movimentou o comércio,
que teve expansão de 9,9% no segundo trimestre.
Para Estêvão Kopschitz, do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada), a melhora do crédito
foi determinante para o aumento do consumo familiar. Já
Francisco Pessoa, da LCA, destaca mais dois fatores: renda
e emprego.
Com mais gente empregada, diz, cresce a massa de salários,
o que permite maior nível de consumo. A renda, afirma,
também começa a dar sinais de recuperação.
"Mais do que a renda, que ainda está letárgica,
o que ajudou o consumo foi o aumento do emprego com carteira
assinada", afirma Marcel Pereira, economista-chefe da
RC Consultores.
Francisco Pessoa ressalta, porém, que a reação
do consumo ainda está muito dependente dos bens duráveis
e que ainda existem dúvidas sobre um crescimento das
vendas de não-duráveis (calçados, alimentos
e outros).
Além do consumo, outro item que compõem a demanda
também teve bom desempenho. Foram os investimentos,
que subiram 11,7% na comparação com o segundo
trimestre de 2003, na maior alta desde o segundo trimestre
de 1997.
A maior parte da expansão, para o IBGE, foi motivada
pela compra de máquinas e equipamentos -aumento de
28% no trimestre. O IBGE destaca ainda o crescimento de 6%
da construção civil, que vinha registrando consecutivas
taxas negativas.
No primeiro semestre, os investimentos cresceram 6,8% ante
uma retração de 6,2% em igual período
de 2003. É o maior percentual registrado desde o primeiro
semestre de 2001.
Olinto, do IBGE, diz que "é um forte crescimento".
Afirma, porém, que é cedo para dizer se os investimentos
estão acontecendo num ritmo suficiente para manter
o crescimento nos próximos anos nem se o bom desempenho
irá se repetir nos próximos trimestres.
Mais pessimista, Kopschitz, do Ipea, arrisca dizer que os
investimentos em infra-estrutura necessários para manter
o atual patamar de crescimento não estão sendo
feitos. No caso do setor público, que poderia fazer
as obras, falta dinheiro, diz ele. Os motivos são dois:
o ajuste fiscal e a falta de poupança externa. Já
para a iniciativa privada, diz Kopschitz, o problema é
que o país avançou pouco para aperfeiçoar
seus marcos regulatórios.
PEDRO SOARES
GABRIELA WOLTHERS
da Folha de S.Paulo
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