Até
o próximo sábado, monstrinhos também
irão à escola. Dentro da campanha O Amor É
a Melhor Herança - Cuide das Crianças, a Fundação
Maurício Sirotsky Sobrinho levará os personagens-símbolo
do projeto às escolas que mais atividades desenvolverem
promovendo a proteção à infância.
A idéia é incentivar as instituições
a se tornarem fóruns da comunidade. A professora Carmem
Maria Craidy, doutora em educação e professora
da Faculdade de Educação da UFRGS, salienta
que esses fóruns são a chave para ampliar o
contato entre escola e família e oferecer à
criança uma infância sem maus-tratos. Confira
trechos da entrevista:
ZH Escola - Como diminuir o abismo entre
escola e comunidade na questão da violência doméstica?
Carmem Maria Craidy - A primeira coisa é
verificar se a criança está realmente sendo
maltratada. Será preciso uma conversa com os pais.
Além disso, a escola, embora não deva abrir
mão de suas atribuições de ensinar, deve
transcender essa função, sendo um fórum
de discussão da comunidade, um local em que professores
e famílias possam conversar sobre a criança.
ZH Escola - Como a escola se torna esse
fórum?
Carmem - É comum a escola só conversar com
os pais quando há problema com as crianças.
Os pais se condicionam a ver um chamado da escola com preocupação
ou receio. Isso deve ser invertido. Os pais devem ir mais
à escola. Assim, a escola será uma ponte entre
crianças e pais e terá mais facilidade para
resolver os problemas que surgirem.
ZH Escola - Qual o papel do professor ao
perceber que uma criança apresenta sinais de violência?
Carmem - A criança maltratada é
deprimida, retraída, triste, agitada, agressiva, ou
traz marcas, hematomas, machucaduras. O professor vai precisar
ganhar a confiança desse aluno, ser sincero, acolhedor,
reforçar a auto-estima. Também precisará
desenvolver uma boa interlocução com os pais,
conversar sobre o assunto. Quando os pais se comportarem de
forma agressiva, ou mesmo retirarem a criança da escola,
o recurso que resta é uma denúncia ao Conselho
Tutelar.
ZH Escola - E qual o papel do Conselho Tutelar?
Carmem - O conselheiro deveria ter uma formação
especial, o que infelizmente não ocorre sempre. Deveria
também ter uma retaguarda de instituições
a quem encaminhar a criança. Por isso não podemos
pensar em casos isolados, e sim em uma política para
a infância. Temos de buscar propostas positivas para
a infância.
ZH Escola - Que propostas seriam essas?
Carmem - Que espaços há hoje
para cultura e lazer dedicados a crianças ou jovens?
Um pai que mora na periferia e é assalariado, onde
poderia levar os filhos para um programa de lazer? Em que
bairros há centros com cinema, biblioteca, espaços
de convivência que descontraem e ajudam a compensar
situações difíceis? São questões
que influem no ambiente familiar e precisam ser discutidas
pela sociedade com seus governantes.
ZH Escola - A escola seria esse espaço?
Carmem - A escola é o único
espaço público com o que a criança conta
hoje. Mas não é possível debitar a solução
de todos os problemas na escola. Não se prevê
a criança no social. Os bairros não são
planejados com espaço para criança. Há
edifícios em que os adultos não deixam a criança
brincar no playground porque fazem barulho. Quem não
quiser ouvir grito de criança que vá morar no
campo. A criança não pode mais ser vista como
questão privada. É mais do que isso, ela é
uma política da sociedade como um todo.
As informações são
do Zero Hora.
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