O governo
terá que fazer um novo corte de R$ 1 bilhão
em custeio, que poderá ser linear para atingir todos
os ministérios. A economia será necessária
porque, enquanto a área econômica vem controlando
com mão-de-ferro os gastos de investimentos para garantir
o ajuste fiscal, as demais pastas não estão
conseguindo controlar as despesas de suas próprias
máquinas. Na prática, um corte dessa magnitude
significa que os ministérios terão que reduzir
o tempo de ligação telefônica, diminuir
o consumo de combustível, viajar menos de avião,
ter mais rigor na contratação de terceiros e
até diminuir o consumo de cafezinho. São esses
os gastos de custeio, ou seja, despesas de manutenção
e funcionamento da máquina governamental.
Além disso, segundo cálculo da consultoria
de orçamento da Câmara, com as novas concessões
feitas pelo governo no Congresso, para aprovar o projeto que
instituiu a cobrança do PIS e da Cofins sobre as importações,
haverá uma perda de receita de R$1 bilhão. Em
relação ao salário-mínimo, o governo
foi menos generoso. Segundo os consultores, o reajuste só
vai representar gastos adicionais de R$ 150 milhões
além do que estava previsto no Orçamento, e
o aumento do funcionalismo público, outros R$ 500 milhões.
Pressão
Já os dados do Sistema Integrado de Acompanhamento
Financeiro do Tesouro Nacional (Siaf) mostram que os gastos
de custeio com apenas dez itens — entre os quais passagens
aéreas e estadias, material de consumo e contratações
temporárias — cresceram perto de R$ 700 milhões
em relação ao ano passado. Apenas os gastos
com passagens aéreas, por exemplo, passaram de R$ 73
milhões para R$ 90 milhões no primeiro quadrimestre.
Apesar do aumento com passagens, as despesas do governo Lula
com o item permanecem abaixo da gestão anterior, cuja
média nos primeiros quatro meses de 2002 chegou a R$
120 milhões.
"É natural que no primeiro ano de governo os
gastos sejam menores, porque a máquina está
sendo azeitada. Depois dos programas estabelecidos, a demanda
por gastos de custeio aumentam. Inclusive, no caso das passagens
aéreas, o governo conseguiu negociar tarifas reduzidas
em relação às pagas anteriormente",
diz o deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG).
A precaução do governo em fechar a torneira
se deve às pressões por reajustes salariais
e às negociações no Congresso, que podem
resultar em novas concessões e renúncias fiscais
e tendem a aumentar até as eleições municipais.
Segundo os consultores de orçamento do Congresso, o
valor do novo mínimo será quase neutro do ponto
de vista do déficit da Previdência, porque os
recursos destinados à correção da inflação
já estavam no Orçamento. Mas eles apontam novas
demandas, como o pagamento do passivo dos aposentados do INSS,
para o qual não há receita discriminada.
Os números do Siaf mostram que, até 30 de abril
de 2004, as despesas totais com os dez itens de custeio totalizaram
R$ 1,74 bilhão, enquanto nos quatro primeiros meses
do ano passado, elas chegaram a R$ 1,04 bilhão. Ainda
tomando como parâmetro o primeiro quadrimestre, na rubrica
“contratação por tempo determinado”
os gastos em 2003 totalizaram R$ 3,8 milhões, mas este
ano já chegaram a R$ 147 milhões; as diárias
dos servidores civis saltaram de R$ 63,3 milhões em
2003 para R$ 83,2 milhões em 2004. No item material
de consumo (papel, xerox, cafezinho e outros), as despesas
saltaram de R$ 651 milhões para R$ 628,2 milhões.
Já a locação de mão-de-obra passou
de R$ 240 milhões para R$ 293,2 milhões.
Receitas a mais de R$ 1,2 bi
A execução do Orçamento deste ano
incluiu dois itens que não constavam da execução
do ano passado: outras despesas variáveis de civis
e de militares. Nesse caso, os civis tiveram gastos de R$
170 milhões e os militares de R$ 154,4 milhões.
Pelo levantamento preliminar dos consultores de orçamento,
o governo terá, este mês, receitas adicionais
de R$ 1,2 bilhão. Além disso, obteve um ganho
de R$ 800 milhões de receitas em 2004, em função
da queda de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), que se reflete
no cálculo dos gastos e receitas para este ano. Do
lado da perda de receitas, apenas o aumento do repasse a estados
e municípios da Contribuição de Intervenção
do Domínio Econômico (Cide) de 25% para 29% vai
resultar num déficit adicional de R$ 200 milhões.
Soma-se a esta quantia a renúncia fiscal de R$ 1 bilhão
feita para possibilitar a aprovação da Cofins
sobre importações e os R$ 500 milhões
do aumento dos servidores.
As informações são
do jornal O Globo.
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