Mais de 80% da população
convive com ela, mas, por medo ou vergonha, poucas pessoas
procuram ajuda médica. Trata-se da doença das
hemorróidas, um processo de dilatação
do calibre das veias da região anal que pode ser agravado
pelos excessos alimentares e alcoólicos cometidos nas
festas de final de ano.
Adiar o tratamento pode levar ao agravamento da doença.
Quando atingem o grau mais avançado, os chamados mamilos
hemorroidários só podem ser removidos com cirurgia.
Outro perigo é que a falta de avaliação
médica pode retardar o diagnóstico de doenças
graves, como o câncer retal, que tem sintomas -como
sangramento e constipação-, semelhantes aos
provocados pelas hemorróidas.
Sangramento anal, especialmente em pessoas acima de 40 anos
(faixa etária de maior incidência do câncer
do reto), deve ser avaliado imediatamente por um proctologista,
alerta o cirurgião-geral Vandyck Neves da Silveira,
do Hospital Santa Catarina.
As pessoas, porém, não devem se impressionar
apenas com os sintomas. "O fato de ter hemorróidas
não é indicativo de câncer. Não
há nenhuma relação entre uma coisa e
outra. Também não quer dizer que a única
solução seja a cirurgia. Hoje há várias
opções de tratamento", diz Silveira.
A alimentação inadequada - especialmente as
dietas pobres em fibras e a pouca ingestão de líquidos-
associada a uma vida sedentária leva a um esforço
evacuatório, o que pode desencadear a doença
hemorroidária, de acordo com a proctologista Margareth
da Rocha Fernandes, do Hospital do Servidor Estadual e membro
da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Sexo anal, ao
contrário do que muitos imaginam, não provoca
hemorróidas.
Hábitos errados, como o de ler sentado no vaso sanitário,
também podem aumentar o número de "crises"
das hemorróidas por provocar uma pressão na
área retal, diz a proctologista Mariza Helena Prado-Kobata,
professora da disciplina de gastroenterologia cirúrgica
da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Tratamento
Em geral, nos graus iniciais, o tratamento da doença
hemorroidária é clínico, à base
de pomadas anestésicas, reguladores intestinais e orientação
para mudança de hábitos alimentares. No caso
das hemorróidas internas, pode ser indicada a ligadura
elástica, que dispensa anestesia.
Segundo os médicos, técnicas muito usadas no
passado, como a crioterapia (aplicação de nitrogênio
líquido que causa a necrose da hemorróida) e
a fotocoagulação (aplicação de
raios infravermelhos na mucosa e submucosa retal), estão
hoje em desuso.
No grau 4, em que as hemorróidas ficam fora do canal
retal, a indicação é quase sempre cirúrgica.
Uma nova técnica é a do grampeamento, que possibilita
um pós-operatório mais rápido e indolor.
Nas cirurgias convencionais, a cicatrização
total leva em média um mês, período em
que a pessoa costuma sentir dor durante as evacuações.
Nos casos de hemorróidas externas ou mistas, os cirurgiões
costumam optar pela técnica convencional (hemorroidectomia),
que pode ser aberta (a cicatrização ocorre espontaneamente),
fechada ou semifechada.
De acordo com Silveira, a hemorroidectomia aberta permite
uma cicatrização mais uniforme. O inconveniente
é que a cicatrização é mais lenta
e dolorosa.
Na técnica fechada, o principal problema é
a perda dos pontos e um risco maior de ocorrer estenose (estreitamento
do canal anal). Para os médicos, a cirurgia a laser
não provou ser melhor que as outras, especialmente
porque a cicatrização costuma ser anômala.
"Não há uma técnica superior a outra.
A ideal é aquela que o cirurgião está
acostumado a fazer", diz Prado-Kobata.
De acordo com os proctologistas, até 10% das pessoas
que operaram as hemorróidas podem voltar a apresentar
o problema, anos mais tarde, em outras veias.
Fernandes diz que a recidiva pode acontecer em casos em que
a cirurgia foi incompleta. "Feita em fase precoce, é
possível que fiquem outros mamilos, que vão
se desenvolver com o tempo."
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S. Paulo
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