Uma em cada seis crianças e adolescentes está em situação
de pobreza nas dez maiores cidades da região de Ribeirão
Preto (314 km a norte de São Paulo). Em três
municípios - Taquaritinga, Bebedouro e Matão
-, o contingente de excluídos supera a média
verificada no Estado.
Em números absolutos, são 84.243 pessoas entre
zero e 17 anos com renda familiar per capita de até
meio salário mínimo, o equivalente a 16,69%
do universo pesquisado (504.618).
A constatação é baseada no "Relatório
sobre a Situação da Infância e Adolescência
no Brasil", publicado pelo Unicef (Fundo das Nações
Unidas para a Infância) em dezembro. "[A situação]
É resultado de uma das maiores concentrações
de riqueza do mundo, da falta de investimento do Estado em
serviços sociais e da falta de participação
dos cidadãos na implementação de políticas
públicas", diz trecho do documento.
O estudo, um cruzamento dos dados do Censo de 2000 do IBGE
(Fundação Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), apontou que a exclusão regional
é inferior às médias nacional e estadual
em sete dos dez municípios do entorno de Ribeirão
Preto. A pobreza atinge 45% das crianças e adolescentes
brasileiros. Em São Paulo, chega a 22,4%.
Entre os dez municípios mais populosos da região,
estão abaixo dos dois índices, pela ordem: Jaboticabal
(18,69%), Barretos (18,46%), Araraquara (17,6%), Sertãozinho
(16,23%), Ribeirão Preto (15,17%), São Carlos
(13,79%) e Franca (13,58%).
Curiosamente foi Franca, líder na região em
trabalho infantil, a cidade com menor pobreza juvenil. "Pode
ser que haja alguma relação [entre esses dois
indicadores], mas não posso afirmar", diz Márcio
Nalini, 41, secretário de Assistência Social
de Franca.
A liderança do ranking é de Taquaritinga, onde
29,55% dos menores de 18 anos engrossam a estatística
da pobreza. "Esse número é muito grande.
Hoje em dia não é mais assim. Nossa última
favela foi retirada em 1997", afirma a assistente social
da Prefeitura de Taquaritinga Elba Salles, 41. De acordo com
ela, um cadastro único de inclusão em programas
sociais beneficiará 1.700 famílias.
Na sequência na listagem dos jovens excluídos
está Bebedouro, com 25,20%. A cidade reflete um problema
nacional, avalia Edméia Corrêa, 43, assistente
social da prefeitura local. "O problema não é
exclusivo da nossa região", diz ela, que vê
a evolução da pobreza no país. "O
pobre se torna miserável, e com o miserável
a gente não sabe como fazer."
Em terceiro no ranking está Matão, com 22,77%
de crianças e adolescentes pobres. A reportagem não
conseguiu contato com um representante da prefeitura para
comentar a pesquisa.
Dirce Koga, pesquisadora do núcleo de assistência
e seguridade social da PUC-SP, diz que a principal causa da
pobreza no país é, sem dúvida, a alta
concentração de renda.
RICARDO GALLO
da Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto
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