Milhares de funcionários
públicos municipais passaram as festas de fim de ano
no vermelho — alguns deles sem ver a cor do salário
desde maio do ano passado. Sem leis que punam atraso no pagamento
de salários e respaldados pela falta de dinheiro, 2.050
prefeitos em todo o país atrasaram o pagamento da folha
do funcionalismo em até sete meses. Desses, 1.320 não
pagaram o décimo-terceiro salário que, por lei,
deve ser quitado até 20 de dezembro.
O levantamento é da Confederação Nacional
dos Municípios (CNM), que promete reunir em Brasília,
nos dias 15,16 e 17 de março, quatro mil prefeitos
para forçar a União a aumentar os repasses de
recursos aos municípios. O Brasil tem 5.560 municípios,
com um total de 12 milhões de servidores.
Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), como
as leis, inclusive a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF),
não estabelecem sanção para os administradores
que não honram a folha de pagamentos, a única
saída para quem levou o calote é apelar para
a Justiça. “A rigor, nada pode ser feito para
obrigar os prefeitos a manter em dia o pagamento. A única
saída para o servidor é propor uma ação
para que o juiz bloqueie a verba da prefeitura inadimplente”,
diz o procurador do TCU Lucas Furtado.
A inexistência de leis para obrigar os administradores
a pagar os salários já está movimentando
parlamentares. O deputado federal Walter Pinheiro (PT-BA)
já tem esboçados dois projetos que vai apresentar
na Câmara. Um propõe mudanças da LRF para
punir os prefeitos pelo atraso dos salários. Outro
vincula a liberação dos recursos do Fundo Nacional
do Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) à
apresentação de um comprovante de que o prefeito
está com a folha de pagamento da área de educação
em dia.
Educação
Pela legislação, 60% dos recursos do Fundef
devem ser destinados ao pagamento e à reciclagem de
professores e pessoal especializado em educação.
O deputado admite que este ano houve queda nos repasses do
Fundo de Participação dos Municípios
(FPM), mas considera que ainda existe muito desvio de dinheiro
público, o que seria, segundo ele, uma das causas de
atraso nos pagamentos dos salários. “Em muitos
municípios, o que a gente vê são prefeitos
ricos e população pobre. Ainda existe muito
roubo. Além disso, muitos prefeitos preferem pagar
fornecedores, porque a LRF exige, mas deixam de pagar salários
pois não há punição”, diz
o deputado.
Os prefeitos admitem que existem maus administradores, mas
atribuem a falta de dinheiro das prefeituras à queda
nos repasses dos recursos do FPM e do ICMS. Quase três
mil pequenos municípios têm apenas essas fontes
de receitas. Segundo o presidente da Confederação
Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski (PMDB), prefeito
de Mariana Pimentel (RS), todos os custos das prefeituras
no ano passado subiram muito acima da inflação
e os repasses do FPM foram corrigidos em cerca de 9%.
Segundo o líder dos prefeitos, apenas nos repasses
do ICMS às prefeituras perderam R$ 5 bilhões,
principalmente devido à queda da arrecadação
pelo baixo desempenho da economia em 2003. Apenas o estado
de São Paulo teve uma perda de R$ 8 bilhões
na arrecadação de ICMS.
As informações são
do jornal O Globo.
|