Em reunião
ontem com presidentes de partidos aliados, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva disse que vai propor no ano que
vem desvincular o salário mínimo dos benefícios
da Previdência. Seu objetivo, relataram os presentes
à Folha, é dar aumento maior para o salário
mínimo.
Lula também defendeu novamente a política econômica,
dizendo que "resultados positivos" já começaram
a surgir e "as mudanças [que prometeu na campanha]
virão no médio e longo prazos". Como de
costume, ouviu críticas à política econômica.
Admitiu que, entre outros motivos, "um erro de articulação
do governo" contribuiu para a derrota de anteontem no
Senado, por 33 a 31, na votação da medida provisória
que proibia os bingos. "Faltaram dois senadores do PT.
"Vou mudar isso [a vinculação do valor
do salário mínimo aos benefícios da Previdência].
Não é justo, por causa da Previdência,
não poder pagar mais para quem pode receber mais. Se
não fosse a Previdência, podia dar R$ 450",
afirmou Lula, sempre segundo o relato de participantes da
reunião.
Após muita discussão, Lula deu um reajuste
real de apenas 1,2% ao salário mínimo, que passou
de R$ 240 para R$ 260. Alegou impacto negativo nas contas
públicas e precaução em relação
a uma eventual piora do cenário econômico internacional,
o que afetaria negativamente o Brasil.
O ministro da Casa Civil, José Dirceu, defendeu recentemente
a desvinculação do mínimo da Previdência.
Sofreu críticas da oposição e de entidades
de aposentados. Motivo: com a desvinculação,
na prática, a aposentadoria corre o risco de ficar
abaixo do salário mínimo.
Para desvincular, é preciso aprovar uma emenda constitucional,
o que exige 60% (três quintos) dos votos em duas votações
na Câmara e no Senado.
Na Previdência, cerca de 13,7 milhões de benefícios
correspondem a um mínimo. No campo privado, os trabalhadores
domésticos são os que mais dependem do mínimo.
A reunião com os presidentes de partido é um
compromisso de campanha de Lula, que abriu o encontro dizendo
que já deveria tê-lo realizado fazia tempo. Isso
desarmou algumas críticas.
Esse "conselho" reúne os presidentes dos
partidos da base aliada. Ontem, participaram da reunião
nove presidentes de partidos políticos do PT, PC do
B, PL, PP, PPS, PSB, PTB, PV e PSC, além dos ministros
José Dirceu (Casa Civil), Aldo Rebelo (Coordenação
Política) e Antonio Palocci Filho (Fazenda) e do senador
Maguito Vilela, que representou o PMDB.
Palocci, que levou gráficos, mostrou a evolução
dos indicadores macroeconômicos desde a posse de Lula,
em janeiro de 2003.
As críticas mais duras partiram dos presidentes do
PC do B, Renato Rabelo, e do PPS, Roberto Freire. "Sobre
a herança maldita que eles falam, disse lá dentro
que ela é, para a equipe econômica, uma herança
bendita, porque eles não mudam", disse Freire.
Na reunião, afirmou que a política econômica
"é um equívoco".
Já Rabelo disse, olhando para Palocci, que estava
"errada" uma política que mantinha ao mesmo
tempo superávit primário alto (meta anual de
4,25% do Produto Interno Bruto) e taxa básica de juros
alta (16% ao ano). O superávit é a economia
do setor público para pagar juros, o que deixa menos
dinheiro para investimentos.
Palocci se disse aberto ao diálogo, mas reafirmou
a confiança na sua política. Olhando para Valdemar
Costa Neto (PL), que pediu sua demissão publicamente,
disse: "Não adianta gritar contra juros altos.
Não adianta o José Alencar (vice-presidente,
filiado ao PL) discursar contra. É preciso colocar
o Brasil nos trilhos para o país voltar a crescer".
O presidente do PT, José Genoino, classificou o encontro
de "produtivo". Para ele, só com diálogo
o governo conseguirá fortalecer a coalização
com os outros partidos: "Nossa maioria no Congresso não
nasceu nas eleições".
Segundo Aldo Rebelo, o conselho terá reuniões
regulares de agora em diante.
As informações são da Folha de S.Paulo.
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