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  bingo
06/05/2004

Governo perde o jogo

Na mais dura derrota do governo Lula numa votação no Congresso, o Senado rejeitou ontem a medida provisória que desde 20 de fevereiro proibia o funcionamento dos bingos no país. “Agora liberou geral a jogatina”, protestou o senador Tião Viana, do PT do Acre, admitindo que o lobby dos donos de bingo tinha vencido. Foram decisivos para a derrota do governo, porém, a desarticulação da base governista e o racha no PMDB.

A medida provisória foi arquivada numa votação apertada: foram 31 votos favoráveis ao texto e 32 contra a legitimidade de se usar uma MP para o assunto, entre os quais cinco do PMDB, partido da base governista. Nas galerias do plenário e do lado de fora do Congresso, funcionários dos bingos fizeram barulhenta comemoração logo após o resultado da votação. As casas de bingo estão liberadas para reabrir desde ontem à noite.

Os manifestantes passaram a sessão xingando senadores governistas que defendiam a aprovação da MP. Usando camisetas com a inscrição “Devolvam nossos empregos”, 60 pessoas saíram no Congresso acenando o V de vitória para os senadores. Derrotados, os governistas disseram que os senadores que votaram contra estavam a favor do jogo do bicho e da contravenção.

"Decidir pela reabertura dos bingos é uma incoerência e uma irresponsabilidade total. Esta foi uma decisão da oposição que ela terá que assumir perante a sociedade ", disse Tião Viana.

Derrota Calculada
Antes da votação, a oposição tentou aprovar uma emenda do senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO) que regulamentaria o funcionamento dos bingos com cartelas e proibiria as máquinas e os caça-níqueis. A decisão do governo de não aceitar o acordo foi tomada pelo ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Ele disse à líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), que não poderia dar seu aval sem antes ter certeza de que a proposta seria mantida pela Câmara.

"É uma temeridade, por causa do acirramento das relações entre a Câmara e o Senado, eu dar uma posição sem conversar com o João Paulo (Cunha, presidente da Câmara)". disse Aldo a Ideli, por telefone.

O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), aprovou a opção do governo de não fazer um acordo. Segundo ele, seria uma contradição permitir a abertura dos bingos depois da edição de uma medida provisória que os fechou. Renan preferiu não comentar o significado do resultado para o governo nem se o placar era uma demonstração da fragilidade da base parlamentar aliada no Senado. Os cinco do PMDB que votaram contra a MP foram Gilberto Mestrinho (AM), Mão Santa (PI), Papaléo Paes (AP), Leomar Quintanilha (TO) e Sérgio Cabral (RJ), que se absteve, mas retificou o voto, ficando contra o governo.

"A base não é problema meu. O PMDB fez o possível. Apelei à bancada. Os que me seguem fizeram a reversão do voto e me comunicaram. Foi uma decisão sábia do governo, uma derrota calculada", avaliou Renan.

O Brasil sai perdendo
O clima ficou tenso, às 16h30m, logo depois da leitura do parecer à medida provisória pelo relator, Maguito Vilela (PMDB-GO). Quebrando uma tradição da casa, nenhum parlamentar se manifestou em relação ao mérito da MP. Quando o presidente José Sarney (PMDB-AP) se preparava para dar como aprovada a relevância e urgência da matéria, o senador José Jorge (PFL-PE) pediu a contagem nominal dos votos. Já que a votação havia começado, os governistas não tiveram como mudar a situação.

Ideli e a senadora Heloísa Helena (sem partido-AL) bateram boca. Heloísa insistia que o governo não poderia pedir urgência para a MP porque ignorou o apelo da oposição para que fossem indicados nomes para a CPI do caso Waldomiro Diniz. Ideli argumentou que, uma vez aprovada a MP, o governo já teria pronta nova legislação para regular o jogo no país. Nas galerias, uma centena de empregados e pessoas ligadas ao jogo torciam para derrubar o projeto do governo e xingavam a líder do PT.

Ideli disse que o país perdeu com a rejeição da MP porque a maioria da opinião pública é favorável ao fechamento dos bingos:

"Não considero uma derrota política. É uma derrota para o país".

O líder do PFL, José Agripino Maia (RN), que defendeu o acordo, criticou a atitude do governo:

"O PFL desde o início queria defender o emprego. Mas o governo não quis negociar".

A senadora Roseana Sarney (PFL-MA), uma das articuladoras do governo em outras votações, desta vez não ajudou: se absteve, alegando que acompanhava o partido. Outros senadores ligados a Sarney ficaram contra o projeto, como Edison Lobão (PFL-MA) e João Alberto (PMDB-MA).

Na hora da votação, nove senadores deixaram o plenário, inclusive Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), outro aliado eventual do governo. Além de Mercadante, outros petistas não foram ao senado ontem: Cristovam Buarque (DF), Flávio Arns (PR) Ana Júlia Carepa (PA), além do também governista Marcelo Crivella (PL-RJ).

VALDEREZ CAETANO
LYDIA MEDEIROS
do jornal O Globo

   
 
 
 

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