Às
vésperas de completar dez anos, a Lei Rouanet, de incentivo
à cultura (voltada para artes cênicas, artes
plásticas, música e literatura), ganha um pacote
de mudanças. A reforma, que será feita através
de decreto regulamentando a Lei, já está alinhavada
e aguarda apenas ajustes técnicos antes de seguir para
o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e para a Casa Civil.
Segundo assessores, Gil já marcou para segunda-feira
a divulgação das medidas num almoço no
Rio.
Região Sudeste tem 77,3% do dinheiro
O objetivo principal, segundo o secretário de Fomento
do Minc, Sérgio Xavier, é descentralizar os
recursos. Dos R$ 411 milhões captados no ano passado
(um volume recorde, do qual mais da metade foi de investimentos
acima do teto), R$ 318 milhões destinaram-se à
região Sudeste, sendo que o eixo Rio-São Paulo
ficou com R$ 284 milhões. Os recursos do Nordeste não
chegaram a R$ 30 milhões.
”Queremos dar maiores oportunidades a quem nunca obteve
um tostão, muitas vezes montando espetáculos
com recursos do próprio bolso. Mas os artistas conhecidos
e experientes continuam recebendo a sua fatia”, diz.
A partir de agora, as regiões contarão com
tetos mínimos de investimento, ajustáveis de
acordo com a procura e a oferta dos proponentes e dos investidores.
A mudança já inquieta uma parte da classe artística
de Rio e São Paulo, que, numa visão antagônica
à do Minc, vem reclamando da ausência de recursos
e temendo que, com uma redistribuição, o dinheiro
diminua ainda mais. Xavier põe panos quentes:
”O Sudeste não vai ser prejudicado pela simples
razão de que os recursos foram crescendo historicamente.
O que não se pode aceitar é que estados como
o Amazonas, nos últimos dois anos, tenham captado zero
real. O aumento do teto da renúncia fiscal de R$ 160
milhões para R$ 320 milhões, a partir de 2004,
possibilitará a distribuição de recursos
sem reduzir os níveis de captação desses
estados”.
O ajuste mais drástico, que dependerá de mudança
na Lei, altera o teto de renúncia fiscal. Hoje, as
empresas descontam do IR 100% do valor investido. Com a mudança,
passam a ter os tetos estabelecidos de acordo com o tipo de
projeto e a partir de critérios socioeconômicos
e geográficos. A empresa que quiser, por exemplo, investir
em regiões menos favorecidas, terá direito a
uma renúncia maior.
O Minc também vai criar uma compensação
obrigatória para empresas que, em vez de financiar
projetos, preferirem criar (ou manter) fundações
próprias. Agora elas terão que escolher opções
de contrapartida, ficando impedidas de investir 100% da renúncia
em favor próprio, prática que vinha sendo acusada
de provocar fuga de recursos.
Os critérios para seleção, segundo Xavier,
vão se tornar mais rigorosos. Os requisitos, que ainda
estão sendo discutidos, podem incluir aspectos como
direitos autorais, cachês, qualidade do gestor e do
elenco, padrão de custos e política de preços.
”Até ano passado cada secretaria dentro do ministério
tinha um procedimento, não havia uma unidade. Agora
esses procedimentos poderão ser otimizados. É
uma transição de quatro a cinco sistemas para
um só. E não se deve esquecer que esta avaliação
será feita por comitês que representam cada setor
de atividades”.
2003
Ano passado, segundo dados da secretaria, apenas 15 projetos
foram indeferidos, sendo que mais de quatro mil foram aprovados
ou prorrogados. Num exame preliminar, verifica-se que a maior
parte dos projetos rejeitados não atende a qualquer
preceito da Lei na forma atual. Por exemplo, um livro contendo
planos de reestruturação urbana na área
de transporte, ou projetos que pareceram às comissões
ter caráter eminentemente comercial e não primar
por uma política de preços atrativa.
As informações são
do jornal O Globo.
|