Aos 17
anos, Lilian Freire Fiel tem duas preocupações
a curto prazo: achar um emprego e entrar numa faculdade. Filha
de uma cozinheira e de um pedreiro, ela sonha em chegar muito
além do ponto onde seus pais conseguiram alcançar
até agora. "Preciso começar a trabalhar
para ter dinheiro para começar a faculdade. Com o que
os meus pais ganham não dá para pagar mensalidade."
Organizações não-governamentais e instituições
que lidam com juventude percebem claramente estas necessidades.
Educação e emprego se transformaram numa tônica
entre adolescentes a partir de 14 ou 15 anos.
"Todos eles pensam: ´Não quero ser como
as pessoas da minha casa, tanto no que diz respeito a cultura,
quanto a trabalho´", avalia a coordenadora da ONG
Associação para Proteção das Crianças
e Adolescentes (Cepac), Elizabeth Prado Lopes - que atende
320 jovens numa casa no Parque Imperial, bairro pobre de Barueri,
região metropolitana de São Paulo. "Os
pais de 80% dos garotos que vêm aqui estão desempregados."
Pesquisa divulgada na quinta-feira pelo Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostra
que, entre os jovens brasileiros de 15 a 24 anos, 38% têm
a educação como principal preocupação,
enquanto o trabalho é o assunto mais importante para
37%. Diferente do que se costuma pensar, menos de 10% têm
drogas e sexo entre seus temas favoritos.
Desemprego e informalidade
O Perfil da Juventude Brasileira é um levantamento
inédito sobre este universo de 34 milhões de
brasileiros. Foram ouvidos 3.501 jovens em dezembro, e constatou-se
também que 40% da população de 15 a 24
anos estava desempregada. Entre os que trabalhavam, 64% estavam
no mercado informal.
É esta realidade de desemprego e trabalho precário
que alimenta as preocupações dos jovens. Segundo
o Ministério do Trabalho, há 3,5 milhões
de desempregados na faixa dos 16 aos 24 anos, o que equivale
a quase metade dos 7,7 milhões sem emprego no País.
Dados do Ministério da Educação apontam
que entre os jovens de 15 a 17 anos, 83% estão estudando.
O índice cai para 50% na faixa de 18 e 19 anos e para
cerca de 30% entre os com 20 a 24 anos. Para o ministro da
Educação, Tarso Genro, a pesquisa evidencia
o uma preocupação histórica do jovem
no Brasil.
Concurso público
Para a estudante Karolynne Alves Pereira, do 3.º
ano do ensino médio em Sobradinho, cidade-satélite
de Brasília, a meta mais próxima não
é o vestibular, mas um concurso público que
a permita ajudar a sustentar a família. Aos 17 anos,
ela é estagiária da Caixa Econômica Federal
e, assim como Lilian, seu desafio no momento é ter
um emprego.
"Tenho muita preocupação em ajudar minha
família", diz a estudante. Os dois irmãos
mais velhos dela estão desempregados. O pai trabalha
como caseiro e a mãe é costureira.
Karolynne recebe R$ 390,00 por mês. Para fazer o estágio,
passou a estudar à noite. Ela admite que, em termos
de qualidade do ensino e preparação para o vestibular,
aprende-se mais na turma da manhã. Mas agora só
pensa nos concursos públicos.
As informações são da Agência Estado.
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