As condições
macroeconômicas do país melhoraram, mas o crescimento
não ocorre porque o governo não consegue estimular
a confiança entre os empresários.
O diagnóstico foi mostrado pelo ex-ministro da Fazenda
Delfim Netto e empresários como Roberto Teixeira da
Costa, presidente do Conselho da Sul América, e Paulo
Skaf, da Abit (Associação Brasileira da Indústria
Têxtil), em seminário do PP (Partido Progressista).
Mas, a despeito de reconhecerem e exaltarem, em suas palavras,
o esforço do governo, José Alexandre Scheinkman,
professor da Universidade de Princeton, e Octávio de
Barros, economista-chefe do Bradesco, não pouparam
as ressalvas. Para Scheinkman, os males não se resumem
à confiança. Barros disse que o Brasil corre
o risco de "virar um mico".
Em sua apresentação, ainda pela manhã,
Delfim argumentou que a queda na relação dívida/exportações
e uma tendência de melhora na relação
dívida/PIB, por exemplo, ratificariam evolução
no cenário macroeconômico neste ano em relação
a 2003.
"Todos os indicadores apontam que em termos estruturais
vamos terminar 2004 melhor do que começamos. Mas está
se propagando nas pessoas um sentimento de que as coisas não
vão [adiante]. Se essa dúvida se apodera do
empresariado, não há crescimento", afirmou
o ex-ministro.
Delfim elogiou a decisão do governo de elevar o salário
mínimo em apenas R$ 20. "Significa que o governo
não cederá às pressões [de afrouxar
o rigor fiscal]."
"Se não cedeu com o mínimo, não
cederá mais. Não adianta você querer colocar
um sapato 36 em uma caixinha de número 32", disse,
em alusão às restrições para mais
aumento no salário mínimo.
Teixeira da Costa disse que a falta de confiança é
"problema central" do Brasil e que o empresariado
e sociedade brasileiros sofrem de "complexo de inferioridade".
"Não temos confiança em nós mesmos.
Quando as coisas estão melhorando, ao primeiro sinal
negativo de fora, mudamos de atitude. O que era verdade 60
dias atrás passa a ser dúvida. Nós nos
esquecemos das conquistas, da melhora nas contas externas,
do saldo da balança comercial...", disse o empresário.
Para ele, eventual aumento nas taxas de juros dos EUA ou
uma freada na economia da China, em tese, não deveriam
provocar abalos estruturais no Brasil. E completou: "Agora,
se você tem esse complexo de inferioridade, não
dá para fazer nada".
Paulo Skaf, presidente da Abit, disse que desenvolvimento
depende de "confiança, de estado de espírito,
do setor privado". "Isso tem que ter. Do contrário,
a menor oscilação do dólar se transforma
em uma situação de crise."
O empresário julgou contraproducente o nervosismo
despertado pela elevação do dólar nos
últimos dias.
"Durante muito tempo houve uma grande reivindicação
para que o real se desvalorizasse [o que aumentaria a competitividade
dos produtos brasileiros]. Agora, porque houve uma pequena
desvalorização e o dólar nem chegou a
R$ 3, fala-se como se fosse um grande problema."
À tarde, o professor José Alexandre Scheinkman,
da Universidade de Princeton (EUA), argumentou que há
fatores objetivos, para além da "confiança",
que limitam a disposição de investimentos no
país. "O Brasil é um país em que
a intermediação do capital [custo do dinheiro
emprestado] é muito cara. Há um sistema financeiro
caro, problemas jurídicos, de marcos regulatórios,
itens que abalam a intenção dos empresários
de investir."
Scheinkman disse a rigidez fiscal do governo brasileiro é
vista no exterior como necessária e adequada. E que
essa mesma rigidez fiscal permitiria que os juros fossem mantidos
mais baixos.
Mais contundentes foram os comentários de Octávio
de Barros, economista-chefe do Bradesco. Barros afirmou que
o país precisa emitir sinais positivos ao exterior,
do contrário corre o risco de "ficar micado".
"O Brasil está deixando de ser interessante para
atrair IDE [investimento direto estrangeiro], em um momento
em que esses recursos escasseiam.
Sinais do governo são cruciais para esses investimentos",
afirmou o economista. "Corremos o risco de sermos vistos
como um país micado em um ano que não poderia",
disse. Os sinais do governo: "Ser pouco contundente em
relação ao compromisso com a política
implementada pelo governo".
JOSÉ ALAN DIAS
da Folha de S.Paulo
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