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05/05/2004

Para Delfim, falta confiança no Brasil

As condições macroeconômicas do país melhoraram, mas o crescimento não ocorre porque o governo não consegue estimular a confiança entre os empresários.

O diagnóstico foi mostrado pelo ex-ministro da Fazenda Delfim Netto e empresários como Roberto Teixeira da Costa, presidente do Conselho da Sul América, e Paulo Skaf, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), em seminário do PP (Partido Progressista).

Mas, a despeito de reconhecerem e exaltarem, em suas palavras, o esforço do governo, José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Princeton, e Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, não pouparam as ressalvas. Para Scheinkman, os males não se resumem à confiança. Barros disse que o Brasil corre o risco de "virar um mico".

Em sua apresentação, ainda pela manhã, Delfim argumentou que a queda na relação dívida/exportações e uma tendência de melhora na relação dívida/PIB, por exemplo, ratificariam evolução no cenário macroeconômico neste ano em relação a 2003.

"Todos os indicadores apontam que em termos estruturais vamos terminar 2004 melhor do que começamos. Mas está se propagando nas pessoas um sentimento de que as coisas não vão [adiante]. Se essa dúvida se apodera do empresariado, não há crescimento", afirmou o ex-ministro.

Delfim elogiou a decisão do governo de elevar o salário mínimo em apenas R$ 20. "Significa que o governo não cederá às pressões [de afrouxar o rigor fiscal]."

"Se não cedeu com o mínimo, não cederá mais. Não adianta você querer colocar um sapato 36 em uma caixinha de número 32", disse, em alusão às restrições para mais aumento no salário mínimo.

Teixeira da Costa disse que a falta de confiança é "problema central" do Brasil e que o empresariado e sociedade brasileiros sofrem de "complexo de inferioridade".

"Não temos confiança em nós mesmos. Quando as coisas estão melhorando, ao primeiro sinal negativo de fora, mudamos de atitude. O que era verdade 60 dias atrás passa a ser dúvida. Nós nos esquecemos das conquistas, da melhora nas contas externas, do saldo da balança comercial...", disse o empresário.

Para ele, eventual aumento nas taxas de juros dos EUA ou uma freada na economia da China, em tese, não deveriam provocar abalos estruturais no Brasil. E completou: "Agora, se você tem esse complexo de inferioridade, não dá para fazer nada".

Paulo Skaf, presidente da Abit, disse que desenvolvimento depende de "confiança, de estado de espírito, do setor privado". "Isso tem que ter. Do contrário, a menor oscilação do dólar se transforma em uma situação de crise."

O empresário julgou contraproducente o nervosismo despertado pela elevação do dólar nos últimos dias.

"Durante muito tempo houve uma grande reivindicação para que o real se desvalorizasse [o que aumentaria a competitividade dos produtos brasileiros]. Agora, porque houve uma pequena desvalorização e o dólar nem chegou a R$ 3, fala-se como se fosse um grande problema."

À tarde, o professor José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton (EUA), argumentou que há fatores objetivos, para além da "confiança", que limitam a disposição de investimentos no país. "O Brasil é um país em que a intermediação do capital [custo do dinheiro emprestado] é muito cara. Há um sistema financeiro caro, problemas jurídicos, de marcos regulatórios, itens que abalam a intenção dos empresários de investir."

Scheinkman disse a rigidez fiscal do governo brasileiro é vista no exterior como necessária e adequada. E que essa mesma rigidez fiscal permitiria que os juros fossem mantidos mais baixos.

Mais contundentes foram os comentários de Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Barros afirmou que o país precisa emitir sinais positivos ao exterior, do contrário corre o risco de "ficar micado". "O Brasil está deixando de ser interessante para atrair IDE [investimento direto estrangeiro], em um momento em que esses recursos escasseiam.

Sinais do governo são cruciais para esses investimentos", afirmou o economista. "Corremos o risco de sermos vistos como um país micado em um ano que não poderia", disse. Os sinais do governo: "Ser pouco contundente em relação ao compromisso com a política implementada pelo governo".



JOSÉ ALAN DIAS
da Folha de S.Paulo

   
 
 
 

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