O chefe
da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem que o Brasil
precisa ter coragem para desvincular o salário-mínimo
dos benefícios pagos pela Previdência Social.
Para o ministro, seria a única forma de aumentar o
seu valor real. Ao discursar na abertura do Fórum Nacional
para Expansão do Porto de Santos, Dirceu afirmou que
o governo agiu com responsabilidade ao dar o aumento de apenas
R$ 20, elevando o mínimo para R$ 260:
”Ou o Brasil tem coragem de desvincular o salário-mínimo
da Previdência ou o salário-mínimo será
sempre um salário que não corresponde nem mesmo
à necessidade de expansão do mercado interno”.
Dirceu lembrou que o governo não propôs a desvinculação
do salário-mínimo dos benefícios da Previdência.
Para o ministro, este problema precisa ser debatido pelo Congresso
e pela sociedade.
”O mínimo no Brasil está vinculado à
Previdência e isso tem impedido um aumento maior. É
uma questão que precisa ser discutida pelo país”.
“Audácia é ter responsabilidade”
Ao ser lembrado de que o PT condenava a solução
quando era oposição, sob o argumento de que
provocaria a defasagem dos benefícios da Previdência,
Dirceu afirmou:
”Eu disse e repito que a sociedade precisa discutir
esta questão. Não é só uma questão
do Congresso: o governo faz parte deste debate e a sociedade
também”.
Segundo Dirceu, o governo estava ciente de suas limitações
ao estabelecer em R$ 260 o novo mínimo:
”A gente tem que ter clareza das limitações,
sem perder a esperança, a fé, o otimismo e sem
deixar de ter audácia. E audácia neste momento
é ter a responsabilidade, como fizemos agora, de não
dar um aumento maior que R$ 260. Poderíamos ter dado
R$ 300, mas teríamos um impacto de R$ 12 bilhões
nos gastos públicos”.
Sobre a pressão no Congresso para aumentar o valor
do mínimo, o ministro afirmou que o Legislativo é
soberano para decidir. Mas lembrou que o Orçamento
e a economia não permitem aumento maior.
Genoino
O presidente nacional do PT, José Genoino, fez ontem
um mea-culpa admitindo que o partido, no passado, deveria
ter tratado o assunto “com mais consistência”:
”Quando o PT estava na oposição, deveria
ter tratado a questão do salário-mínimo
com mais consistência. A responsabilidade de governar
o Brasil é muito maior. Temos que trabalhar como nunca
por crescimento e emprego para aumentar a renda do trabalhador”.
Genoino cobrou do PT apoio ao reajuste proposto pelo governo:
”O PT tem de defender essa posição. Temos
que priorizar o crescimento. A geração de empregos
é a maior prioridade do governo. Todos defendemos um
mínimo maior, mas não tivemos condições
de fixar uma taxa superior à que foi decidida”.
Na Câmara, porém, o líder da bancada,
deputado Arlindo Chinaglia (SP), disse ontem que pretende
discutir com o governo uma margem de negociação
em relação ao mínimo:
”A bancada é e continua sendo favorável
a um salário-mínimo maior, pela dimensão
social que ele tem. Mas somos solidários ao governo”.
Mas ele não está disposto a liderar ação
contra a decisão do governo.
”Vamos procurar o governo para saber a margem que temos.
A bancada quer mais, mas tenho certeza que o governo está
agindo com responsabilidade. Vamos conversar e fazer uma tensão
levíssima, moderada, para ver se o governo pode abrir
os cofres”.
As informações são do jornal O Globo.
|