O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva errou nas contas. O impacto
de um eventual aumento de R$ 10 no salário mínimo
foi exagerado em pelo menos 20% durante a 15ª edição
do programa de rádio "Café com o Presidente",
retransmitido por mais de mil emissoras.
Lula explicou por que não concedera um reajuste maior
para o mínimo, limitado a 1,2% acima da inflação.
Falou do rombo nas contas da Previdência Social e da
dificuldade de cobrar uma dívida de R$ 200 bilhões.
"Elevar o salário mínimo em mais R$ 10
significaria você gastar, em 12 meses, mais R$ 3 bilhões",
afirmou.
Os dados oficiais divulgados pelo Ministério da Previdência
indicam que o aumento de mais R$ 10 custaria R$ 1,6 bilhão
extra no pagamento de aposentados e pensionistas. Contabilizando
os benefícios assistenciais a idosos e portadores de
deficiência e as parcelas do seguro-desemprego, a conta
chegaria, no período de 12 meses, a R$ 2,4 bilhões.
Não foi o único tropeço da entrevista
de seis minutos de Lula, gravada na manhã de domingo
no apartamento em São Bernardo do Campo (SP). O presidente
antecipou em um ano (de 1994 para 1993) a entrada em vigor
da URV, mecanismo de correção monetária
usado na adoção do real como moeda do país.
Também ampliou em 4 anos (14 para 18 anos) o limite
de idade dos filhos fixado para o pagamento do salário-família
a trabalhadores com salários até R$ 586,89.
Os erros produziram mais um curto-circuito na área
de comunicação do governo. Acionada pela Secom
(Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica),
a Radiobrás assumiu a responsabilidade pelos erros.
Teria havido uma falha de checagem das informações,
tarefa que caberia à estatal. "Foram errinhos
bobos, eu assumo integralmente a responsabilidade", disse
o presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci.
As gravações do "Café" envolvem
não apenas a Secom e a Radiobrás, mas uma produtora
privada, chamada Toda Onda. A cada 15 dias, o presidente grava
entrevistas depois de receber previamente as perguntas e dados
para as respostas, preparados por sua assessoria.
Acionada pela Folha, a assessoria da Presidência repassou
o assunto à Secom. Técnicos da Previdência
foram mobilizados, assim como a Radiobrás. Mais de
12 horas depois de a entrevista ter sido distribuída,
a secretaria informou que Lula teria "arredondado"
e "aplicado a inflação" ao impacto
negativo do salário mínimo nas contas da Previdência.
À tarde, o Planalto chegou a divulgar retificação
ao texto, mas passou por cima dos erros de informação.
MARTA SALOMON
da Folha de S.Paulo, em Brasília
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