Relatório
da PRF (Polícia Rodoviária Federal) aponta focos
de exploração sexual infanto-juvenil em pelo
menos 12.180 km dos 72 mil km da malha de rodovias federais
brasileiras. O documento foi entregue à CPI do Congresso
que investiga exploração sexual de crianças
no país.
O levantamento foi feito com base em relatos de policiais
rodoviários sobre ocorrências que envolviam crianças.
Segundo o coordenador do estudo, Junie Penna, chefe da 11ª
Delegacia da PRF, em Minas Gerais, de janeiro a março
deste ano, de todas as ocorrências que envolviam pessoas
com menos de 18 anos, 33,4% tinham relação com
exploração sexual.
Há casos de caminhoneiros que transportam e fazem
programa com adolescentes e crianças, prostíbulos
ao longo das rodovias que usam meninas menores de 18 anos
e quadrilhas que se utilizam das estradas para aliciá-las.
Em Mossoró (CE), a Vara da Infância e da Juventude
registrou um caso emblemático. A adolescente M.F.S.,
16, que é surda-muda, chegou ao município depois
de ser explorada por caminhoneiros ao longo de rodovias que
passam por Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Fortaleza
(CE).
Em muitas ocasiões, a fiscalização da
PRF flagra a exploração sexual em operações
que tinham a intenção de verificar outras infrações
como roubo de cargas ou tráfico de drogas.
Policiais rodoviários perceberam, por exemplo, que
a BR-381 (Fernão Dias), entre Belo Horizonte (MG) e
Guarulhos (SP), é usada para levar meninas de municípios
do interior mineiro para prostíbulos da Grande São
Paulo. Na região Norte, seis rodovias são citadas.
Duas delas, a BR-174 e a BR-401, ambas em Roraima, são
usadas para traficar jovens para a Venezuela e para a Guiana.
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), relatora
da CPI, criticou a omissão do Estado na exploração
sexual e tráfico de adolescentes. "O Estado se
tornou omisso e, nessas circunstâncias, quem é
omisso é conivente."
Na região Sul, o relatório ressalta ocorrências
na BR-277, em Foz do Iguaçu (PR), onde traficantes
de drogas também estão envolvidos na exploração
sexual de meninos e meninas, e na BR-471, entre Chuí
e Santa Vitória do Palmar (RS), que é considerada
rota para o tráfico de crianças e adolescentes
que se prostituem no Uruguai e na Argentina.
No Centro-Oeste, as estradas que exigem reforço de
fiscalização são a BR-262, em Corumbá
(MS), a BR-463, em Ponta Porã (MS), e a BR-174, na
região de Pontes e Lacerda (MT). Nesses trechos, a
PRF tem registrado ocorrências de exploração
sexual de meninas por turistas que visitam a região
pantaneira, exploração de crianças de
origem indígena e fluxo descontrolado de pessoas entre
a Bolívia, o Paraguai e o Brasil.
"Esse trabalho da PRF foi extremamente importante porque
indica os pontos críticos onde são necessárias
campanhas intensas de conscientização",
disse a socióloga e pesquisadora Marlene Vaz.
JAIRO MARQUES
TIAGO ORNAGHI
da Agência Folha
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