Eles
têm imunidade geral e se beneficiam dela. Membros da
polícia da missão da ONU em Kosovo - Unmik na
sigla em inglês - e forças da Otan na mesma província
sérvia - Kfor - participam da exploração
sexual de mulheres sem sofrer qualquer punição,
denunciou nesta quinta-feira (06/05) o diretor da seção
espanhola da Anistia Internacional (AI), Estebán Beltrán.
"Enquanto os policiais e os soldados gozam de impunidade,
um número difícil de calcular de mulheres e
meninas, algumas com apenas 12 anos, se transforma em escravas,
obrigadas a atender de dez a 15 clientes por dia", relatou
Beltrán nesta quinta em uma entrevista coletiva.
Uma dessas mulheres foi obrigada a praticar sexo 2.700 vezes
em um ano, muitas vezes em grupo e algumas sob a ameaça
de uma pistola. Quase a metade delas sofre espancamentos ou
violações por parte de seus chefes. Muitas mulheres
são obrigadas a manter relações sem qualquer
tipo de proteção.
Até o momento, 52 militares foram repatriados por
comportamentos desse tipo, embora ninguém saiba afirmar
se algum deles foi processado, informou Beltrán. "Cinco
membros franceses [das forças internacionais] foram
enviados para casa depois de abusar de mulheres em Mitrovica",
assim como alguns russos e americanos. Mas segundo Beltrán
a maioria fica impune. "O máximo que ocorre é
que os autores são repatriados e no máximo demitidos",
afirma o diretor da AI.
Depois da chegada a Kosovo de mais de 40 mil membros da Kfor
e centenas da Unmik em julho de 1999, ao fim da guerra, observaram-se
concentrações notáveis de atividade de
prostituição organizada próximo aos lugares
onde era maior o número de tropas estacionadas, segundo
a AI. Os militares constituíam a maioria dos clientes,
alguns dos quais também pareciam envolvidos no processo
de tráfico. No início de 2000 a Organização
Internacional para Migrações identificou publicamente
a Kfor e a Unmik como fatores causais.
Em princípio, 80% da clientela das mulheres que eram
objeto de tráfico eram constituídos pela comunidade
internacional. A quantidade de locais nos quais essas mulheres
trabalham teria aumentado de aproximadamente 75 em janeiro
de 2001 para mais de 200 no final de 2003.
"Primeiro nos mandam despir e ficar só com a
roupa íntima, para nos olhar bem e ver como estamos.
Se você tem um bom corpo e eles gostam de você,
então a compram. Para eles éramos como um pedaço
de tecido, como um trapo", relata uma mulher sobre como
foi comprada para depois ser prostituída em Kosovo.
Quando chegam à província sérvia administrada
pela ONU, procedentes muitas vezes da Moldávia, Romênia
e Ucrânia, essas mulheres esperam encontrar a promessa
pela qual deixaram suas casas: trabalho em outro país.
Depois, ao entrar em contato com as redes de prostituição,
sofrem vexações de todo tipo e na maioria dos
casos nem mesmo as denunciam "porque não encontram
a devida proteção por parte das autoridades",
denunciou a AI em seu relatório sobre tráfico
de mulheres e meninas em Kosovo, intitulado "Isso significa
que tenho direitos?"
YOLANDA MONGE
do EL Pais
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