Depois de um ano de baixo crescimento
da economia e de taxa de desemprego elevada em 2003, o governo
Lula decidiu fixar metas setoriais de emprego para 2004. A
estratégia para este ano foi delineada em uma reunião
de cerca de oito horas do presidente da República com
dez de seus ministros. Também ficou decidido que será
dada prioridade para as áreas de saneamento e habitação,
tidas como as que mais necessitam de investimento atualmente.
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, responsável
por anunciar os resultados da reunião, informou que
serão estabelecidas, nos próximos dias, metas
setoriais de geração de emprego. Segundo o ministro,
o objetivo não é criar números globais,
mas sim realistas e críveis.
"É preciso dizer às pessoas que o Brasil
decidiu, de forma definitiva, ser um país arrumado.
O Brasil não vai fazer arrumação de curto
prazo, não vai dar uma ajeitada nas contas em função
de uma ou outra eleição. O equilíbrio
é responsabilidade do país, não apenas
de ministros. A arrumação de contas e o equilíbrio
das contas públicas são o objetivo do país",
disse Palocci. "É um amadurecimento do país.
Não há lugar para procedimentos diferentes,
para aventuras, para projetos mirabolantes".
Por essa razão, destacou o ministro, o governo tem
tido cuidado em falar sobre metas de combate ao desemprego.
Palocci explicou que o governo está trabalhando com
os diversos setores da economia e alguns deles já têm
suas projeções.
É o caso da área de agronegócios. Segundo
Palocci, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse
na reunião que o setor tem potencial para criar 1,3
milhão de empregos em 2004. Rodrigues afirmou que a
produção agrícola aumentará de
122 milhões de toneladas para 129 milhões de
toneladas de grãos este ano.
Ajuste fiscal
O problema é que, nos últimos dias,
os ministros têm apresentado metas desencontradas sobre
a geração de empregos. Jaques Wagner, do Trabalho,
disse na última segunda-feira que em 2004 só
a construção civil deve gerar 800 mil empregos.
Ele também vem afirmando que, somente este ano, as
áreas de saneamento e habitação podem
abrir dois milhões de vagas.
Já o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan,
disse terça-feira, em entrevista ao “Bom Dia
Brasil”, da TV Globo, que a área de exportações
pode gerar um milhão de empregos. Na reunião
de ontem, no Palácio do Planalto, Furlan afirmou que
as exportações darão um salto de US$
73 bilhões para US$ 80 bilhões este ano.
Na reunião com o presidente Lula, examinou-se ainda
a evolução do emprego e do desempenho econômico
em cada região do país. Palocci disse que dois
terços do um milhão de vagas abertas em 2003
foram no interior do país:
"E um interior com um “erre” bem arrastado",
brincou.
Otimista, Palocci disse que o Brasil tem todas as condições
de entrar numa fase de crescimento econômico prolongado
e que o equilíbrio das contas públicas é
vital para isso. Ele enfatizou que os instrumentos de ajuste
fiscal, controle da inflação e equilíbrio
das contas continuarão. Segundo Palocci, esse compromisso
foi reiterado por Lula na reunião.
"Equilíbrio macroeconômico é precondição
para o crescimento sustentado. Não há exemplo
de país com crescimento e inflação alta.
E não é o Brasil que vai conseguir essa proeza.
O comportamento fiscal que tivemos no ano passado vai continuar
neste e nos próximos anos. Este é o objetivo
permanente e o presidente Lula reafirmou isso na reunião",
disse Palocci.
O ministro enfatizou que há um clima de otimismo em
relação à retomada continuada do crescimento,
compartilhado pelo presidente Lula e pelos ministros.
"O equilíbrio das contas é um bem do povo
brasileiro. Não se aceita mais um comportamento perdulário
do governo", disse ele. "O clima é de muito
otimismo com o ano de 2004. O Brasil abre agora uma oportunidade
de crescimento sustentável".
Crédito imobiliário
Segundo Palocci, para gerar empregos o governo terá
de se concentrar em dois setores: saneamento e habitação.
O ministro disse que estas são áreas que enfrentam
sérias dificuldades, e sua recuperação
é importante para a questão do emprego. Na reunião,
concluiu-se que o desemprego só será combatido
com crescimento econômico e que não há
mágica.
Ao prometer medidas de crédito imobiliário,
Palocci disse que o mercado brasileiro é pequeno. Ele
lembrou que muitos países retomaram o crescimento com
investimentos na construção civil.
"O Brasil não tem por que ter um mercado imobiliário
tão restrito. Estamos estudando uma série de
medidas, como as relativas ao crédito para o setor
imobiliário", disse ele, defendendo que a baixa
renda tenha maior acesso à casa própria.
CRISTIANE JUNGBLUT
ENIO VIEIRA
do jornal O Globo
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