Para "acrescentar à
fé os princípios da administração
moderna", o bispo Robson Rodovalho, fundador da Igreja
Sara Nossa Terra, oferece aos fiéis, em cultos semanais,
auxílio para gerir novos negócios e orientações
sobre questões empresariais e financeiras.
Além disso, a igreja realiza seminários nos
quais são ministradas palestras que abordam matérias
específicas de administração -desde recursos
humanos e empreendedorismo até finanças.
Essas atividades fazem parte da Rede Ministerial de Empresários
e Empreendedores, criada há seis para satisfazer o
já citado ideal do bispo.
O grupo, que começou, por iniciativa de Rodovalho,
com quatro empresários, reúne
hoje mais de 800 apenas em Brasília. A crise pela qual
o país passa teria contribuído bastante para
o crescimento do número de adeptos.
Essa relação de religião e administração
pode ser estranha para muitos, mas, para Rodovalho, "a
fé está na base de um negócio bem-sucedido".
"Os princípios de administração
e vitória são os mesmos para qualquer relação."
Os conceitos gerenciais, aliás, estão sempre
presentes. No site da igreja, por exemplo, é possível
encontrar textos como "11 Passos para o Sucesso",
que cita desde métodos de administração
de produção como CPM (Método do Caminho
Crítico) até a lei de Pareto -do sociólogo
italiano Vilfredo Pareto (1848-1923).
Características como liderança e motivação
são fundamentais, de acordo com o bispo, para o sucesso
profissional e nas demais áreas da vida. Ele próprio
é um exemplo do que prega: mais de 11 anos após
sua fundação, em fevereiro de 1992, a Sara Nossa
Terra possui hoje cerca de 650 templos espalhados pelo país
e no exterior, além de ser apontada como a igreja que
tem, entre as evangélicas, o maior crescimento proporcional
do Brasil.
As idéias de Rodovalho, no entanto, não ficam
restritas à sua igreja e à rede. O bispo, que
tem formação em física, teologia, filosofia
e nutrição, tem expandido seus negócios.
Já publicou livros, entre os quais "Construindo
Sistemas que Vencem", que trata de empreendedorismo,
e deve lançar mais um em março próximo,
sobre "formação de líderes para
negócios lucrativos".
Psicologia da fé
O discurso da Igreja Renascer em Cristo, que hoje
tem 71 templos somente na cidade de São Paulo, afirma
o sociólogo Ricardo Mariano, "é mais psicológico,
para agradar à classe média".
No ramo dos homens de negócio há mais tempo,
a igreja possui uma associação, a Arepe (Associação
Renascer de Empresários e Profissionais Evangélicos),
que organiza até uma bolsa de negócios entre
os cadastrados.
Os cultos, frequentados por empresários e profissionais
liberais, acontecem nas noites de segunda-feira, em todos
os templos da Renascer. A pregação envolve sempre
estímulo ao crescimento profissional e, como a maioria
das neopentecostais, a colaboração financeira
à igreja.
Cartão de crédito
Da mesma forma, muitas dessas igrejas não
têm restrições em entrar em assuntos considerados
mundanos por religiões mais conservadoras. Os fiéis
da Renascer, da Assembléia de Deus e da Convenção
Batista Brasileira têm a opção de utilizar
cartões de crédito fidelizados do Bradesco com
as logomarcas dessas igrejas.
A anuidade do cartão, segundo o Bradesco, é
dividida entre o banco e a instituição religiosa.
O banco diz que o dinheiro das igrejas é direcionado
para programas sociais mantidos por elas.
A Folha procurou a Renascer, mas a igreja afirmou, por meio
de sua assessoria de imprensa, que não falaria sobre
a Arepe.
Há no país outras duas instituições
evangélicas de peso para empresários: a Adhonep
(Associação dos Homens de Negócios do
Evangelho Pleno), que reúne participantes de diferentes
igrejas evangélicas, e o CCHN (Comitê Cristão
de Homens de Negócios).
MAELI PRADO e BERTA MARCHIORI
Da Folha de S.Paulo
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