BRASÍLIA. A medida provisória
que o governo vai editar criando cotas para estudantes negros
e pardos nas universidades federais será estendida
também aos cursos técnicos profissionalizantes
vinculados às universidades públicas. A MP vai
autorizar as 137 instituições de educação
profissional a adotarem as cotas. A medida será editada
logo após o retorno do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva do México, previsto para a próxima
quarta-feira.
A minuta da MP foi enviada na semana passada pelo Ministério
da Educação à Casa Civil da Presidência,
incluindo as escolas técnicas vinculadas às
universidades federais. Entre essas instituições
estão as Escolas Agrotécnicas Federais e os
Centros Federais de Educação Tecnológica
(Cefets).
A sugestão de o governo incluir os cursos técnicos
na medida provisória foi do grupo de trabalho interministerial
criado para estudar a adoção de ações
afirmativas no ensino público do país. O subsecretário
especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial, João Carlos Nogueira, coordenador
do grupo de trabalho, explicou que a lei não fixará
o percentual das cotas a ser adotado. Cada instituição
determinará o número de vagas levando em conta
a presença da população negra na região.
"Santa Catarina, por exemplo, tem 9,6% da sua população
negra e a Bahia, 83% — explicou João Carlos Nogueira".
Benefício
A maioria dos estudantes beneficiados pelo programa,
segundo o coordenador, será formada por jovens com
idade entre 16 e 18 anos.
"Muitos deles já concluíram o ensino médio
e optam por fazer curso profissionalizante em vez de uma universidade,
cujo acesso é difícil e restrito", disse
o subsecretário da Políticas Raciais.
A secretaria especial de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, está empenhada
na adoção de cotas nas universidades. A iniciativa
conta com o apoio do ministro da Educação, Cristovam
Buarque. Do total de brasileiros com curso superior, apenas
14% são negros. Nos cursos mais procurados, como medicina,
odontologia e direito, a desigualdade chega a 80%. A tendência
é que os negros e pardos se concentrem nos cursos de
licenciatura, os menos procurados.
Nas universidades federais, segundo conclusão do último
Provão, 61% dos formandos são brancos, 4,4%
são negros e 30,3% são pardos. Nas faculdades
privadas, a diferença é maior. Chega a 72% o
índice de estudantes brancos, 3,6% são negros
e 20,4% são pardos. Além da medida provisória,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai assinar
decreto criando o Pró-Negro, uma coordenação
que funcionará dentro da Secretaria de Ensino Superior
do Ministério da Educação e auxiliará
na implantação de ações afirmativas
no ensino público.
Conselho
O grupo interministerial propõe ainda a criação
de uma comissão especial no Conselho Nacional de Educação
(CNE). Esse grupo teria, entre outras tarefas, a de estimular
as faculdades particulares a aderirem ao programa de cotas.
A adoção dessa política já vinha
sendo estudada em algumas instituições, como
a Universidade de Brasília (UnB) e a UFRJ. Apesar de
terem autonomia, as universidades precisam dessa MP como garantia
legal.
EVANDRO ÉBOLI
do jornal O Globo
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