BRASÍLIA e SÃO PAULO.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a fazer
ontem uma advertência aos empresários: o governo
vai baixar os juros, mas é preciso que eles não
queiram recuperar todo o dinheiro investido em pouco tempo,
remarcando preços com a volta do movimento no comércio.
Num discurso para empresários de Brasília durante
a inauguração da Cooperativa de Crédito
da Indústria, Lula disse que a responsabilidade pela
retomada do crescimento é tanto do governo quanto dos
empresários. A advertência visa a evitar a remarcação
de preços e, com ela, a ameaça de volta da inflação,
que na última reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom) levou à manutenção
da taxa de juros em 16,5%.
" Vamos reduzir as taxas de juros aos níveis
compatíveis com nossas necessidades. Mas ao mesmo tempo
é preciso que a gente tome muito cuidado para que nenhum
empresário queira ganhar num único mês
todo o seu capital investido, remarcando o preço à
medida que o comércio melhora", disse Lula. "Responsabilidade
vale para todo mundo: o governo, o empresário da indústria,
o pequeno, o médio e o grande empresário".
Para Lula, quando todos estiverem conscientes disso, a economia
vai deslanchar:
"A palavra-chave chama-se seriedade, lealdade e compromisso
com este país".
Lula declarou ainda:
"A verdade é que nunca se baixará o juro
se o governo não tiver a força política
para colocar seus títulos e impor juros que possam
atender às suas necessidades e às do setor financeiro",
afirmou o presidente, acrescentando que o governo não
pode ficar com um pé no acelerador, olhando sempre
se a inflação vai subir para usar juros e freá-la.
Na queda-de-braço com a indústria, que neste
início de ano pediu reajustes de até 20% para
seus produtos, supermercados e redes de varejo têm conseguido
reduzir o impacto de uma nova onda de remarcações.
No caso de alguns produtos alimentícios e de higiene
pessoal, o aumento de preço acertado para o consumidor
será entre 3% e 8%, três a quatro pontos percentuais
abaixo do previsto nas tabelas apresentadas pela indústria.
Segundo um executivo que participa das conversas, as negociações
são mais fáceis com os fabricantes de produtos
dos quais os supermercados têm um estoque alto. Sem
outra forma de pressão, a indústria acaba recuando
do pedido inicial. Mas há casos em que o fornecedor
tem ameaçado suspender a entrega de novos produtos
caso o varejista não aceite o aumento pedido.
"É uma negociação natural em todo
início do ano, mas a diferença agora é
que as indústrias alegam que, além da pressão
de custos, têm de arcar com a nova Cofins", afirmou
esse executivo.
Como justificativa para os aumentos, os empresários
alegam que precisam repassar o custo de matérias-primas.
Há também a pressão da nova alíquota
da Cofins, que passou de 3% para 7,6% para alguns produtos.
As informações são
do jornal O Globo.
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