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terceira idade
14/01/2004
Mais de 725 mil aposentados são obrigados a continuar trabalhando

O dia de Osvaldo Marcílio, mensageiro do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, começa às 5h30. É a hora que ele sai da cama para se preparar para mais um dia de trabalho. De sua casa, no Cambuci, até o Centro, local do escritório, leva cerca de meia hora de ônibus. Às 8h, já está no 4º andar do prédio da Rua Formosa, 367, pronto para as tarefas do dia: ir ao banco, entregar correspondência e retirar material. A jornada de trabalho é de oito horas, com uma hora de almoço.

Até aí, nenhuma novidade. Certo? Nem tanto. O office-boy Osvaldo tem 66 anos. Ele é um dos 400 mil aposentados da Região Metropolitana de São Paulo que voltaram para o mercado de trabalho. De acordo com a pesquisa de Emprego e Desemprego da Fundação Seade e do Dieese, os inativos representam hoje 5% do total de ocupados da Região Metropolitana, que é 7,8 milhões de pessoas.

No Estado de São Paulo, a situação é semelhante. Pelos dados do Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), São Paulo tem 3.195.304 aposentados, grande parte deles idosos. Desses, 725.285 têm alguma ocupação, ou seja, 2,3% possuem outra fonte de renda (por motivo de trabalho) além do benefício pago pela Previdência Social.

Renda achatada
Paula Montagner, gerente de análise do Seade, explica que esse fenômeno tem pelo menos duas explicações. A primeira delas é o ingresso precoce na atividade profissional. Há 30 anos, era comum, principalmente entre os homens, ingressar no mercado de trabalho jovem, com idade entre 12 e 15 anos, e já com registro em carteira. Como a contribuição ao INSS começava cedo, a aposentadoria também chegava cedo para essas pessoas.

A segunda, e muito mais grave, é a queda no rendimento. Com os benefícios achatados — de acordo com o próprio INSS, a aposentadoria média no Estado de São Paulo é de R$ 640,27 —, muitos se vêem obrigados a retornar ao batente, na tentativa de manter o mesmo padrão de vida que tinham na época da ativa. “Ao se aposentar, as pessoas perdem poder de consumo. Efetivamente temos um problema de renda”, reforça Paula.

Foi justamente isso que mostrou o estudo “O idoso brasileiro no mercado de trabalho”, publicado em 2001 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), os pesquisadores constataram que, em 1998, o trabalho representava 57% da renda do aposentados. No caso das mulheres, esse número é menor, 46%, mas nem por isso menos significativo. Isso mostra a importância dessa renda extra, principalmente no orçamento familiar, já que os idosos contribuem com cerca de 53% da renda de sua família.

Contas versus benefício
O caso de Osvaldo é exemplar. Ex-comerciário, aposentado desde 1985, ele recebe benefício de R$ 350. Apesar de morar em apartamento próprio, as despesas com água, luz, telefone, gás, condomínio e remédios consomem mais que o dinheiro que recebe. A saída foi arrumar outro emprego. No sindicato, seu salário é de R$ 950, quase o triplo do que recebe pela Previdência Social. “Nesses 19 anos que estou aposentado, nunca deixei de trabalhar. Aquele sonho de trabalhar a vida inteira e descansar na aposentadoria não existe. Como diz o ditado italiano, a velhice é bruta”, lamentou o office-boy ao comentar a dura realidade de sua vida e do que recebe do INSS.

Bruta, principalmente, porque a disposição para o trabalho não é mais a mesma. Com problemas de pressão alta, arritmia cardíaca e artrose, Osvaldo toma medicação de uso contínuo e mesmo assim precisa driblar as dores para trabalhar. “Em virtude da artrose, sinto dores no joelho quando ando demais. Mas é preciso agüentar forte. Infelizmente, não tenho outra saída”, explica, ressaltando que além das despesas de casa, ainda faz questão de ajudar a neta Samanta, que passa uma temporada de estudos em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Mas reclamar não é uma de suas atividades preferidas. Apesar de todos os problemas, ele agradece a Deus tudo o que já viveu nesses 66 anos.

 

 

PAULA ALFACE
Diário de S. Paulo

   
 
   
 

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