|
Vanessa Sayuri Nakasato
Uma em cada quatro meninas brasileiras
é abusada sexualmente até os 18 anos. No caso
dos meninos, o número é um entre seis. Os dados
são da Associação Brasileira Multiprofissional
de Proteção à Infância e à
Adolescência (Abrapia). A entidade estima que, no Brasil,
165 crianças ou adolescentes sofrem abuso sexual por
dia, ou seja, sete a cada hora. Dentre os abusados, a maioria
são meninas com idade entre 7 e 14 anos, segundo pesquisa
feita no ano passado.
O incesto, relação sexual
e amorosa entre parentes do mesmo sangue, é a campeã
no ranking de incidências no país, com 60%. Um
estudo realizado no ABC paulista, em 2001, mostrou que 90%
das gestações de adolescentes com até
14 anos foram frutos de incesto. Pais, tios e padrastos lideraram
a autoria do delito.
Para tentar alterar esse quadro, o
Ministério da Educação (MEC) e a Secretaria
Especial de Direitos Humanos acabaram de lançar o “Guia
Escolar – Métodos para Identificação
de Sinais de Abuso e Exploração Sexual em Crianças
e Adolescentes”. A publicação é
dirigida a educadores e tem como objetivo inserir na política
pedagógica das escolas o combate à violência
sexual contra menores de 18 anos.
Elaborado por psicólogos, sociólogos
e especialistas em educação, o guia ensina docentes
a identificarem crianças e adolescentes vitimados pelo
abuso sexual, encaminhá-los às instituições
especializadas e tratá-los de maneira adequada.
Segundo o secretário de Inclusão
Educacional do MEC, Osvaldo Russo, é de extrema importância
que os professores saibam lidar com a violência. Além
de os menores passarem parte de seu dia na escola, a afetividade
é fundamental para a recuperação dos
jovens.
“As crianças e adolescentes
abusados sexualmente se sentem envergonhados, culpados e desmotivados.
Por esse motivo, geralmente, acabam se escondendo da sociedade,
inclusive, deixando a escola”, lamentou em entrevista
ao GD.
O secretário conta que o abuso
sexual marca profundamente a personalidade e os mecanismos
de interação social do indivíduo. Interfere,
também, no desenvolvimento e no processo de construção
do conhecimento da pessoa. “Se o Brasil se mobilizar
contra essa perversidade, já estaremos dando um grande
passo”, enfatizou.
Em princípio, serão
distribuídos três mil guias em escolas públicas
no Amazonas e Pará, onde os índices de ocorrências
são mais altos. Mas o MEC pretende, até o final
do ano, levar a publicação a todas as instituições
públicas e particulares de ensino do país.
|