Deixando
de lado seu estilo habitualmente comedido, o secretário
da Educação de São Paulo, Gabriel Chalita,
respondeu com críticas às declarações
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o sistema
de progressão continuada, utilizado na escolas paulistas.
Durante a cerimônia de abertura da 18ª Bienal
do Livro, em São Paulo, da qual o secretário
participou, Lula classificou como "erro histórico"
o sistema, e disse que já determinou ao ministro Tarso
Genro que institua provas nas escolas de ensino fundamental
do país.
Segundo Chalita, "o que precisa na educação
no Brasil é mais dinheiro, e não mais uma prova".
"O presidente está mal informado sobre a progressão
continuada, o que é muito ruim. Nenhum aluno fica sem
fazer prova", afirmou.
O chamado "sistema de ciclos" substitui as séries
tradicionais. O aluno só pode ser reprovado ao final
de duas, três ou quatro séries. Parte dos especialistas
consideram um avanço por garantir a permanência
e o aprendizado; outra vê como tentativa de mascarar
a repetência.
O secretário paulista disse que a maior prova da eficiência
do sistema é o fato de que, no último Saeb (uma
espécie de Provão do ensino básico),
os Estados com melhor aproveitamento forma São Paulo
e Minas Gerais, que se utilizam da progressão continuada.
Ele afirmou ainda que o governo FHC marcou sua gestão
na educação por avaliações, como
o Provão, o Enem e o Saeb, e que não há
necessidade de mais uma prova.
Bandeira petista
"O aluno não aprender não tem nada
a ver com a progressão continuada", disse Chalita,
que afirmou também que o sistema sempre foi uma das
bandeiras petistas, tendo sido implantado em um grande número
de prefeituras do partido.
"Quem trouxe esse sistema para o Brasil foi o Paulo
Freire, que eu acho que o presidente conhece", disse.
O educador foi secretário da Educação
de São Paulo durante a gestão de Luiza Erundina,
então no PT, e é considerado um dos maiores
educadores do Brasil.
Chalita reclamou também da falta de investimentos
do governo federal na educação básica
e disse que o presidente precisa "sair do palanque e
ir para a prática".
Sobre os motivos pelos quais o presidente teria resolvido
implantar as provas, o secretário disse que "[o
presidente] gosta de factóides". "A progressão
continuada, embora seja hoje quase uma unanimidade entre os
educadores e venha conquistando os professores, foi colocada,
durante a campanha eleitoral, de uma maneira equivocada. O
presidente quis aproveitar isto."
CAIO MAIA
da Folha Online
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