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dúvida cruel
15/04/2004
Lula sobre o mínimo: ‘Que situação a minha!’

BRASÍLIA. Ansioso por iniciar a agenda positiva, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expôs ontem, em reunião com ministros e líderes do governo, o dilema que o está atormentando: investir para retomar o crescimento econômico ou conceder um aumento maior para o salário-mínimo. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse na reunião que este é o cenário atual, contrariando a disposição de um angustiado Lula, que deseja recompor sua popularidade com uma boa notícia sobre o mínimo.

Segundo Palocci, o governo deixará de investir R$ 5 bilhões se conceder um mínimo de R$ 280. Ele defendeu a fixação do salário em R$ 256, mas a proposta foi afastada por Lula. Com o impasse, o valor só será anunciado semana que vem.

Cada real de aumento do mínimo representa um gasto de R$ 214 milhões. No debate de ontem, que consumiu quase seis horas, Lula não escondeu seu desconforto:

"Que situação a minha! Na minha história, sempre defendi o aumento do mínimo e o emprego. Agora, estou tendo que escolher entre uma coisa e outra. Vamos ter que optar, e acho o crescimento muito importante", disse Lula, segundo relato de uma participante, para quem ficou nítido o apoio do presidente aos argumentos de Palocci.

O presidente teria comparado o governo a uma dona de casa que tem de escolher entre ir ao cinema e fazer as compras do mês. Mesmo ao insistir num reajuste para o mínimo acima da inflação, Lula lembrou o impacto que a decisão teria nos cofres de estados e prefeituras. Segundo o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), chegou a reproduzir as justificativas de Palocci.

"Se vocês querem um aumento maior, digam de onde tirar. Se vamos gastar aqui, temos de tirar de outro lugar", disse Lula, em resposta aos líderes e aos ministros Ricardo Berzoini (Trabalho) e Aldo Rebelo (Coordenação Política), que duvidaram das chances de o Congresso aprovar reajuste menor.

Enquanto Berzoini insistia em lembrar a importância do mínimo como um instrumento de distribuição de renda e aquecimento da economia, Palocci era enfático:

"O país tem de optar entre dar um aumento real e o crescimento".

"É preciso combinar responsabilidade orçamentária com uma visão política de mínimo. Acho que o melhor possível é mais do que simplesmente a inflação", (PTB-RN), foi claro.

"Quem propõe tem que mostrar de onde tirar o dinheiro. Os senhores terão que decidir de onde tirar", disse o ministro da Fazenda.

Dirigindo-se a Lula, Palocci acrescentou:

"A decisão sobre o valor é do senhor, presidente. Mas teremos que tirar de algum lugar do Orçamento".

Para resolver o impasse, técnicos do governo estão estudando alternativas de fixação de mínimo diferenciado: maior para trabalhadores da iniciativa privada e menor para funcionários de prefeituras de pequenos municípios. Na reunião, os ministros apresentaram diferentes cenários a Lula. Segundo cálculos de Berzoini, um reajuste do mínimo para um patamar que represente “um esforço político do governo” representaria um gasto adicional de R$ 2,2 bilhões. Berzoini também propôs o aumento do salário-família, com simulações de até R$ 320, para garantir o aumento do poder de compra sem impacto nas contas das prefeituras.

Os números de Palocci eram outros. Segundo Bezerra, a simples correção da inflação, com base no INPC, é de R$ 256. Para isso, já há recursos previstos no Orçamento (R$ 3,4 bilhões).

Pelos números da equipe econômica, para cada real de aumento o impacto é de R$ 143 milhões em oito meses ( em 2004) e de R$ 214 milhões em 12 meses (até abril de 2005). Caso fosse atendida a reivindicação do PMDB, que defende um mínimo de R$ 300, o impacto no Orçamento em 12 meses seria de R$ 9,8 bilhões.

Além de exigir um reajuste maior do que o INPC, Lula avisou que não aceitará que seja tirado dinheiro da saúde ou da educação para garantir esse aumento real.

O ministro do Planejamento, Guido Mantega, endossou os argumentos de Palocci e disse que um grande reajuste do mínimo pode inibir o crescimento do país e a geração de empregos. Lula suspendeu o encontro, cobrando que todos voltem com idéias de onde tirar o dinheiro, fazendo simulações com diferentes valores. O presidente foi enfático ao cobrar uma atuação mais enérgica de sua equipe. Disse que, na semana que vem, pretende anunciar o novo mínimo acompanhado de medidas para a criação de empregos. E voltou a exigir dos ministérios relatório sobre suas ações, a chamada agenda positiva.

"O governo tem que agir, e rapidamente. Temos que ser ativos", disse Lula.

As informações são do jornal O Globo.

   
 
 
 

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