BRASÍLIA.
Ansioso por iniciar a agenda positiva, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva expôs ontem, em reunião com ministros
e líderes do governo, o dilema que o está atormentando:
investir para retomar o crescimento econômico ou conceder
um aumento maior para o salário-mínimo. O ministro
da Fazenda, Antonio Palocci, disse na reunião que este
é o cenário atual, contrariando a disposição
de um angustiado Lula, que deseja recompor sua popularidade
com uma boa notícia sobre o mínimo.
Segundo Palocci, o governo deixará de investir R$
5 bilhões se conceder um mínimo de R$ 280. Ele
defendeu a fixação do salário em R$ 256,
mas a proposta foi afastada por Lula. Com o impasse, o valor
só será anunciado semana que vem.
Cada real de aumento do mínimo representa um gasto
de R$ 214 milhões. No debate de ontem, que consumiu
quase seis horas, Lula não escondeu seu desconforto:
"Que situação a minha! Na minha história,
sempre defendi o aumento do mínimo e o emprego. Agora,
estou tendo que escolher entre uma coisa e outra. Vamos ter
que optar, e acho o crescimento muito importante", disse
Lula, segundo relato de uma participante, para quem ficou
nítido o apoio do presidente aos argumentos de Palocci.
O presidente teria comparado o governo a uma dona de casa
que tem de escolher entre ir ao cinema e fazer as compras
do mês. Mesmo ao insistir num reajuste para o mínimo
acima da inflação, Lula lembrou o impacto que
a decisão teria nos cofres de estados e prefeituras.
Segundo o líder do governo na Câmara, Professor
Luizinho (PT-SP), chegou a reproduzir as justificativas de
Palocci.
"Se vocês querem um aumento maior, digam de onde
tirar. Se vamos gastar aqui, temos de tirar de outro lugar",
disse Lula, em resposta aos líderes e aos ministros
Ricardo Berzoini (Trabalho) e Aldo Rebelo (Coordenação
Política), que duvidaram das chances de o Congresso
aprovar reajuste menor.
Enquanto Berzoini insistia em lembrar a importância
do mínimo como um instrumento de distribuição
de renda e aquecimento da economia, Palocci era enfático:
"O país tem de optar entre dar um aumento real
e o crescimento".
"É preciso combinar responsabilidade orçamentária
com uma visão política de mínimo. Acho
que o melhor possível é mais do que simplesmente
a inflação", (PTB-RN), foi claro.
"Quem propõe tem que mostrar de onde tirar o
dinheiro. Os senhores terão que decidir de onde tirar",
disse o ministro da Fazenda.
Dirigindo-se a Lula, Palocci acrescentou:
"A decisão sobre o valor é do senhor,
presidente. Mas teremos que tirar de algum lugar do Orçamento".
Para resolver o impasse, técnicos do governo estão
estudando alternativas de fixação de mínimo
diferenciado: maior para trabalhadores da iniciativa privada
e menor para funcionários de prefeituras de pequenos
municípios. Na reunião, os ministros apresentaram
diferentes cenários a Lula. Segundo cálculos
de Berzoini, um reajuste do mínimo para um patamar
que represente “um esforço político do
governo” representaria um gasto adicional de R$ 2,2
bilhões. Berzoini também propôs o aumento
do salário-família, com simulações
de até R$ 320, para garantir o aumento do poder de
compra sem impacto nas contas das prefeituras.
Os números de Palocci eram outros. Segundo Bezerra,
a simples correção da inflação,
com base no INPC, é de R$ 256. Para isso, já
há recursos previstos no Orçamento (R$ 3,4 bilhões).
Pelos números da equipe econômica, para cada
real de aumento o impacto é de R$ 143 milhões
em oito meses ( em 2004) e de R$ 214 milhões em 12
meses (até abril de 2005). Caso fosse atendida a reivindicação
do PMDB, que defende um mínimo de R$ 300, o impacto
no Orçamento em 12 meses seria de R$ 9,8 bilhões.
Além de exigir um reajuste maior do que o INPC, Lula
avisou que não aceitará que seja tirado dinheiro
da saúde ou da educação para garantir
esse aumento real.
O ministro do Planejamento, Guido Mantega, endossou os argumentos
de Palocci e disse que um grande reajuste do mínimo
pode inibir o crescimento do país e a geração
de empregos. Lula suspendeu o encontro, cobrando que todos
voltem com idéias de onde tirar o dinheiro, fazendo
simulações com diferentes valores. O presidente
foi enfático ao cobrar uma atuação mais
enérgica de sua equipe. Disse que, na semana que vem,
pretende anunciar o novo mínimo acompanhado de medidas
para a criação de empregos. E voltou a exigir
dos ministérios relatório sobre suas ações,
a chamada agenda positiva.
"O governo tem que agir, e rapidamente. Temos que ser
ativos", disse Lula.
As informações são
do jornal O Globo.
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