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rocinha
16/04/2004
‘Bonde’ de Lulu vai ao cemitério

O tráfico da Rocinha desceu o morro ontem e desafiou a polícia no asfalto. Quinhentas pessoas — inclusive muitos bandidos, segundo policiais — foram ao Cemitério São João Batista, em Botafogo, acompanhar o sepultamento do traficante Luciano Barbosa, o Lulu, que comandava a venda de drogas na favela. Com pedras e garrafas cheias d’água, integrantes do bando de Lulu agrediram repórteres e hostilizaram a polícia. Uma repórter de TV foi ferida por um pedaço de granito atirado pelo grupo, sendo levada para a emergência de um hospital em Copacabana. PMs, em número insuficiente, ficaram acuados e não reagiram. O enterro foi dominado por manifestações de lealdade ao traficante morto anteontem e ameaças ao bando de Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, o Dudu, que tenta tomar as bocas-de-fumo da Rocinha.

"Dudu, pode esperar, a tua hora vai chegar!", gritavam as pessoas ao fim do sepultamento.

Ônibus
Um esquema de policiamento precisou ser montado para que as pessoas deixassem o cemitério sem incidentes. Um trecho da Rua General Polidoro foi interditado e o tráfego desviado pela São João Batista, para que moradores da Rocinha embarcassem em sete ônibus da empresa Amigos Unidos, estacionados a poucos metros. Assustados, motoristas de táxi recusavam passageiros. Um deles chegou a ser ameaçado por um grupo que queria ser levado para a Rocinha. Policiais à paisana retiraram os passageiros do veículo.

O clima era tenso antes mesmo da chegada dos ônibus. Por volta de 15h, as capelas 5 e 6, onde eram velados, respectivamente, os corpos de Lulu e de seu cúmplice Ronaldo Araújo da Silva, também morto anteontem, já estavam cheias. Muitos mototáxis estavam estacionados na entrada do cemitério. Ronaldo controlava um dos pontos do serviço na Rocinha.

Os primeiros sinais de hostilidade foram dados quando a mãe de Ronaldo, aos prantos, deixou a capela sentindo-se mal. Ela gritava que o filho morrera porque não a obedecera. Um cinegrafista tentou registrar a imagem e foi agredido verbalmente por homens que a acompanhavam, sendo obrigado a sair dali.

Do lado de fora do cemitério, a alguns metros da entrada da capela, a tensão aumentou. Ao desembarcar de um ônibus, uma das mulheres de Lulu irritou-se com a presença dos jornalistas e atirou uma garrafa com água. Depois, um cone de trânsito. O gesto foi o estopim para outras agressões. Do segundo andar do prédio, rapazes arremessaram pedras. Eles fumavam maconha ao lado das capelas em que os corpos de outras pessoas eram velados. O pânico fez com que muitos pedissem a antecipação do sepultamento de seus parentes. Outros desistiam de ir ao cemitério ao perceber a confusão na Rua Real Grandeza.

Com o tumulto, houve um reforço de policiamento, segundo o 2 BPM (Botafogo), com cem homens, inclusive do Batalhão de Choque. Pouco antes do horário do enterro (17h), o comandante do 2 BPM, Romão Vilaça, foi abordado por um homem que dizia representar a Rocinha. Sem se identificar, ele disse que não queria os jornalistas dentro do cemitério. Houve receio de que algumas pessoas estivessem armadas e fizessem disparos. O comandante, entretanto, negou que tenham sido feito ameaças.

"Se tivesse feito alguma ameaça, eu teria dado voz de prisão a ele. Havia hostilidade contra a imprensa porque as pessoas da família queriam ter privacidade no velório", afirmou.

No cimento fresco da sepultura do bandido, foram escritas frases de despedida, como “Lulu, eu te amo”.

Na volta do cemitério, rumo à Rocinha, a polícia reforçou o patrulhamento no trajeto do comboio de ônibus, mas não conseguiu evitar cenas de vandalismo. Na Rua Jardim Botânico, os passageiros quebraram os vidros das janelas e subiram nos veículos. A Auto-Estrada Lagoa-Barra foi interditada durante cinco minutos, a partir das 17h55m, para a passagem dos sete ônibus.

"Rá-rá, ru-ru! É o bonde do Lulu!", gritavam as pessoas na entrada da favela.

As informações são do jornal O Globo.

   
 
 
 

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